sábado, 5 de abril de 2008

Show Review: Ozzy Osbourne in Rio - 04/04/2008

Texto por Wesley Rodrigues
Fotos retiradas do site UOL Música


Eis que o Madman voltou ao Brasil depois de apenas dois shows em 23 anos, deixando uma carência imperdoável no público daqui. Dizer como ele disse durante o show que não levará mais tanto tempo para voltar compensa muito pouco. Recentemente, Ozzy fez um mea culpa, que eu acredito ter sido bem necessário. Afinal, a julgar por uma certa entrevista que li com Zakk Wylde, o descaso em tocar aqui pelos trópicos é bem considerável e muito mal disfarçado.

Se ver um dos maiores nomes do rock de todos os tempos é impossível na medida em que ele simplesmente não vem, quando o homem finalmente chega os preços dos ingressos não deixam a situação mudar para muitos. Custando de R$ 140,00 a R$180,00, eles são uma verdadeira porta fechada para fãs que somariam bastante ao espetáculo. Naturalmente, a Arena Multiuso não ficou vazia mas muito mais pessoas caberiam na Arquibancada 1 e, principalmente, na 3, esta última sim com meia dúzia de pessoas.

O Arena Multiuso, que daqui para frente deve ser chamado de HSBC Arena, mostrou-se mais um excelente espaço para shows com o qual podem contar os cariocas (descontado o fato de ser localizado na Barra, claro esteja) .A vista da arquibancada, coisa com a qual estava preocupado, era realmente muito boa. Ainda assim, sem dúvida nenhuma, o grande lance era ficar na pista que era mais próxima do palco. Além disso, a pista dava mais mobilidade para bangear, coisa que, como diria Roosevelt Bala, é “boa para a prática do Metal”. Isso levou algumas pessoas que estavam na parte superior a simplesmente pular lá de cima. O ato, que demandava alguma dose de coragem e cara-de-pau, felizmente passou impune em todos os casos que eu presenciei. Mesmo quando os seguranças viram, a situação foi resolvida com conversa (ou algo a mais). Pensei em também em fazer o mesmo, porém em grande estilo: iria de peito aberto em um super mosh voador direto no centro de onde estava a galera. Mas minha timidez me manteve na cadeira.

Quanto ao público, era bem diverso: true headbangers, uma ou outra patricinha, rockeiros adolescentes, motociclistas, tiozões, alguns tipos inclassificáveis e etc.

Cheguei ao local do show com algum atraso, para o qual o trânsito da Barra da Tijuca contribuiu sensivelmente. O Black Label Society já estava no palco com o Zakk Wylde detonando com a sua guitarra de bolinhas brancas e vento nos cabelos. O americano, a quem muitos consideram o último “guitar hero”, fez um show tão curto (acho que mais ou menos uns quarenta minutos) quanto excelente, apoiado na ótima qualidade do som que a casa ofereceu. O público não estava totalmente focado, mas o suficiente para o cara deixar o palco muito agradecido e reverente: se ajoelhou, deu socos no chão e no peito e fez algo semelhante ao sinal-da-cruz (ou seria exatamente isso?)- coisa que repetiu no show do Ozzy. Em suma, uma apresentação que me impressionou - foi fantástico mesmo - e que fez eu me arrepender por nunca ter dado tanta atenção ao Black Label Society antes.

Quanto ao Korn, eu realmente não sabia o que esperar. Meu conhecimento sobre a banda é algo próximo de zero - o que é uma marca forte do tempo em que eu incorporava um preconceito headbanger infantil. O show acabou sendo uma grata surpresa. A banda se saiu muito bem, tocando com bastante energia e carisma. O destaque foi o vocalista, um excelente frontman. O público, que parecia simplesmente saber cantar todas as músicas, participou muito ativamente do show. Para isso contribuiu o fato de a banda marotamente dar uma paradinha nas músicas para que a voz da galera ressoasse sozinha. De fato, o entrosamento que rolou entre a audiência e os artistas fez do show um belo espetáculo. Some-se a isso a boa música praticada pelos caras.

Ainda assim, lá pelas tantas, o Korn começou a me cansar. Eu estava querendo logo que o show acabasse. Cheguei a me distrair profundamente: pensei no Flamengo, que tenho que ir no banco semana que vem sem falta, nas eleições municipais desse ano, em um livro que ando lendo, etc.. Não demorou muito o Korn se despediu e o palco do Ozzy começou a ser montado.

Não muito depois, a voz do madman surgiu cantando uns “oh-ohs”, o que pedia uma resposta do Arena, “Ozzy, Ozzy”, num claro intento de animar a galera para o que viria. Depois, eis que surge nos telões (a filmagem dos 3 shows que era exibida nos telões ficou excelente, diga-se de passagem) uma série de imagens cômicas do nosso ídolo. Eram montagens de cenas de filmes (como Piratas do Caribe e Penetras Bons de Bico) e seriados (como Lost e A Família Soprano) em que Ozzy fazia um dos personagens, travando algum diálogo besta. Bem legal.

O momento há tanto esperado finalmente chega e o homem adentra o palco, antes mesmo da banda. Estou farto dos shows começarem atrasados. Mas adiantados é coisa que nunca vi. Assim, ainda que no ingresso estivesse escrito exatamente OZZY NO PALCO 23H, lá estava ele às 22h20 mais ou menos. Antes mesmo de começar a curtir, imaginei um sujeito que teria pensado assim: “Ah, não gosto de Black Label Society nem de Korn. Só me interessa o show do Ozzy. Por isso, não vejo necessidade de sair do meu serviço e ir direto para lá. Dá tempo de eu ir para casa, tomar um bom banho e dar uma relaxada. Vou chegar lá umas dez pras onze. Antes do show começar, (e essas coisas sempre demoram um pouquinho, não é mesmo?), vou tomar uma ou duas cervejinhas. Tomara que tudo dê certo lá na Arena Multiuso e Ozzy e sua banda estejam bem afiados porque esse é o show da minha vida” Caralho, gente, esse cara se fudeu bonito! Ele se fudeu muito! Puta-que-o-pariu! Eu aposto que essa situação ocorreu com alguém e isso é revoltante. Ainda que não tenha acontecido com ninguém, poderia ter acontecido comigo ou com você. Imagina a sua cara de bunda quando você entra no Arena e vê que o show do Ozzy Osbourne já começou há um bom tempo e você perdeu Bark at the Moon, Mr. Crowley, Suicide Solution e outras! Caralho! Se fosse comigo, eu ia ficar transtornado, eu não ia nem conseguir ver o resto do show! Puta-que-pariu, eu não quero nem mais pensar nisso.

A primeira faixa foi I Don’t Wanna Stop, mas para mim o show começou de verdade com Bark at the Moon. Ozzy logo de cara beijou o chão do palco (ao modo de João Paulo II) e, ainda de joelhos, prestou reverência ao público (ao modo dos muçulmanos). Depois veio a bombástica Suicide Solution, música que fez Ozzy passar maus bocados sob a acusação de ter provocado o suícidio de um garoto. Mr. Crowley, dona de um dos mais clássicos solos do Heavy Metal, teve grande receptividade do público. Not Going Away, música mais recente, veio em seguida só pra mostar que o que funciona melhor são as antigas mesmo. Depois de perguntar se o público queria ouvir uma música do Black Sabbath e receber uma resposta estrondosa, entrou a anti-belicista War Pigs. Por falar nisso, até agora não está claro para mim qual é a real posição do Ozzy em relação ao Bush uma vez que ele já manifestou repúdio ao presidente mas também participou de um jantar na Casa Branca onde os dois trocaram cordialidades. Espero que o Ozzy se mantenha fiel à letra deste clássico do Black Sabbath que só não ficou melhor por causa de uma infeliz idéia de colocar eco na voz do madman.

A belíssima balada Road to Nowhere foi para mim um dos melhores momentos do show. Zakk Wylde tem uma performance de muito feeling nela. Foi a primeira do disco No More Tears, última obra-prima do grupo. É interessante notar que o set-list é baseado principalmente no Blizzard of Ozz (1980) e no No More Tears (1992). Mas e Diary of a Madman? É curioso que não tenha nenhuma música desse disco incluída sendo que este é, igualmente com os outros dois citados, um fundamental álbum da pequena discografia que Ozzy produziu de 1980 para cá. Imaginem se ao invés de I Dont Wanna Stop a abertura ficasse por conta de Believer ou Flying High Again ou Over the Mountain. Bem melhor, né? Eu ouvi essas três músicas assim que cheguei em casa como uma forma de pagar um tributo a este disco.

A indispensável Crazy Train agitou muito o público. Eu mal me contive. Também não é pra menos, já que ela é outra com a marca de Randy “por que só os bons morrem cedo?” Rhoads. Depois veio o momento solo de Zakk Wylde e foi magnífico, algo bem longe de um exibicionismo técnico feito para estudante de guitarra. Geralmente esses solos, não só de guitarra mas de bateria ou teclado, quando não são insuportáveis, cansam logo. Mas o barbudo tem a manha e tirou sons lindos da sua Les Paul, inclusive utilizando os dentes. Mas tem uma coisa a se reclamar sobre sua performance: não foram tantas as cusparadas e as cervejas.

Iron Man, outra do Black Sabbath, não teve os longos “hey hey” do público como no disco Reunion. Uma pena. Ozzy deu uma tropeçada nela, deixou de cantar uma parte. Mas isso é totalmente perdoável a este sexagenário que deve conservar ainda muito pó no organismo.

Com I Don’t Know todos puderam - inclusive aquele cara hipotético que só chegaria às onze - ter o prazer de ouvir ao ao vivo uma das melhores músicas de Heavy Metal já compostas. Puta que pariu. “Foda” é a palavra. Here for You, balada do último disco se não me engano, foi muito bonita mas serviu mesmo para eu sentar e descansar um pouco.

No More Tears foi para mim outro ponto alto. Foi de arrepiar mesmo. E para o público também: o pessoal vibrou muito durante o solo de Wylde, coisa que eu achei inusitada. Essa música, entretanto, mostrou um ponto negativo do evento: a guitarra de Wylde não estava tão alta. Dava para sentir melhor isso nessa faixa toda a vez que o riff entrava depois da voz. No show do Black Label, foi diferente, a guitarra estava muito mais audível. Foi de fato uma pena não poder ouvir os solos com uma nitidez maior (há controvérsias em relação a isso por parte de gente que ficou na pista). Mas isso não foi nada que comprometesse o show, ainda que tenha incomodado.

I Don’t Wanna Change the World e Mamma I’m Coming Home (outra balada) vieram em seguida já com aquele clima de show acabando. Finalmente, Paranoid para fechar, uma música de riffs tão simples quanto poderosos. Zakk Wylde deu uma incrementada neles, ótimo. Até que chega o momento do solo e ele simplesmente arremessa sua guitarra ao público. Caralho! Eu fiquei extasiado com aquilo (depois eu soube que isso é praxis do cara). E não bastando jogar seu instrumento, Wylde arremessa-se a si mesmo na galera. Eu não parei de vibrar. Depois de muito tempo, os seguranças conseguiram tirar o cara do meio da galera e, depois de mais algum, recuperar a guitarra. Nunca achei que ouvir Paranoid sem solo fosse tão maneiro. No orkut disseram que Wylde ficou muito puto porque não devolveram logo a guitarra e ainda por cima a quebraram. De onde eu estava não deu para perceber isso. Vamos esperar declarações oficiais.

No meio dessa confusão toda, um fã consegue subir no palco mas é derrubado e ainda leva um chute violentíssimo de um segurança ali na vista de todos. Que filho-da-puta de segurança! Se eu fosse o Ozzy eu daria um chute na bunda desse cara escroto.

Então, Ozzy se despede da galera declamando amor pelo público, Wylde dando socos no peito ao melhor estilo King Kong. Como acontece com todo artista de grande repertório, reclama-se com o fato de ter faltado essa ou aquela música. Como acontece com todo bom show, fica aquela sensação de ter acabado logo, de que foi curto. Mas também fica a sensação de que foi uma noite fantástica porque teve tudo o que se espera de um show do Ozzy: ele mostrou a bunda, deu aquele pulo estilo sapo (eu vi apenas um mas tudo bem), jogou baldes de água na platéia, executou músicas fantásticas e tudo o mais. Em suma, um show histórico para todos que estavam lá.









Set-List
I Don`t Wanna Stop
Bark At The Moon
Suicide Solution
Mr. Crowley
Not Going Away
War Pigs
Road To Nowhere
Crazy Train
Solo de Zakk Wylde
Iron Man
I Don`t Know
No More Tears
Here For You
I Don't Want To Change The World
Mamma I'm Coming Home
Paranoid.

2 comentários:

Anônimo disse...

Foi foda o show. Muito mesmo.
O zakk realmente taca a guitarra na platéia, ou amps, retornos etc. Mas a guitarra que ele joga no geral é a sua Flying-v, e nem todas voltam.

O que houve de mais assustador nesse episodio, foi ele ter jogado a sua rebel, que reza a lenda ser unica e etc. esse foi o problema, pelo menos pra quem sabe qual a da guitarra. E o tempo de resposta do zakk quanto a isso, quase que no maximo uns 10 segundos entre jogar a guitarra e se jogar no publico., como em um arrependimento. O que nao acontece, vide videos no youtube por exemplo como no show de melbourne ou portland, onde joga a guitarra, ela é destruida e ele nem ai.

Reza que ele estaria bem louco. Errou algumas coisas durante o show por isso nao duvido da completa embriagues do cara. POis bem, o cara é meu idolo, espero que ele volte com sua crew do BLS em breve ! Otima matéria, mas estou esperando ansioso por entrevistas pra ver esse lance da guitarra e tudo mais !!!

Guzz69 disse...

grande Ozzy...

olha, so hoje vi teu comentario...estou estudando e nao tenho tido tempo de sobra pra atualizar o blog... de qualquer forma ja coloquei la o teu link...valeu ;)