terça-feira, 22 de janeiro de 2008

CD Review: Corpus Christii - Rising

Nota: Esse review foi originalmente escrito na forma lusitana da língua portuguesa. O blog Arise! optou por manter dessa forma no intuito de preservá-lo como foi concebido.

Corpus Christii - Rising



Por PhiLiz

Introdução
Corpus Christii
é hoje uma das maiores entidades do BM a nível mundial e em Portugal a banda de Nocturnus Horrendus é provavelmente a referência máxima do género.Para este "estatuto" muito contribuem as três fazes da trilogia que Rising finaliza, que representam segundo NH: a devastação total (Tormented Belief), seguindo-se a raiva e a auto-descoberta (The Torment Continues), finalizando-se com a ascensão e subsequente descoberta da luz nesta última proposta da banda.

Os registros de 2003 e 2005, de enorme qualidade, deram ao projecto de NH ainda mais notoriedade ao mesmo tempo que mostravam os passos para um tipo de sonoridade mais trabalhada e distinta daquela seguida pela banda até então, embora o Black Metal se apresente hoje, como em 1998 (ano de formação da banda) como característica principal de Corpus Christii.

No entanto, o Black Metal de CC a partir de 2003 surge como uma criação muito pessoal do mentor da banda, Nocturnus Horrendus. Um misto entre melancolia musical e satanismo filosófico, numa abordagem ao género bastante mais complexa do que a feita pela banda anteriormente.

Nesta linha Rising surge como uma criação ainda mais ambiciosa (musicalmente falando) com elementos sonoros novos a CC, transportando Rising para um nível de excelência ainda maior do que o conseguido nos dois últimos trabalhos.





Alinhamento
01 - Intro
02 - Stabbed
03 - Blank Code
04 - Black Gleam Eye
05 - The Wanderer
06 - Torrents Of Sorrow
07 - Void Revelation
08 - Evasive Contempt
09 - Heavenless Bliss
10 - Untouchable Euphoria
11 - Bleak Existence
12 - Revealed Wounds
13 - Outro

Ano 2007

Editora Nightmare Productions (nota: para a Europa)

Faixa Favorita 12 - Revealed Wounds

Género Black Metal

País Portugal

Banda
Nocturnus Horrendus - Bateria, Baixo, Guitarras & Voz
Menthor - Bateria






Review
Gravado nos UltraSoundStudios e produzido Daniel Cardoso (o dono dos estúdios e antigo membro dos extintos Sirius), Rising apresenta-se muito bem produzido para o género.Os instrumentos estão bastante audíveis: as guitarras têm uma afinação perfeita para o efeito pretendido, o baixo é perfeitamente perceptível (um dos pontos extra do álbum), a bateria é avassaladora e o trabalho com a voz está soberbo. Acima de tudo, tem alguma "sujidade sonora" e não é demasiado polido para um álbum de Black Metal o que por vezes pode colocar em causa a atmosfera geral do álbum, o que não neste caso.
Todos os instrumentos foram gravados na totalidade por NH à excepção da bateria, gravada quase inteiramente por Menthor dos Epping Forest. A este propósito é de referir o grande trabalho deste membro convidado. A bateria apresenta-se com uma força maquinal imensa, com diversas variações e uma execução imaculada. O produção ajuda muito a enfatizar a brutalidade que Menthor "empresta" a Rising. Sem dúvida um ponto muito positivo.

O resto vem directamente da mente de Nocturnus Horrendus. Os riffs melancólicos, mas ao mesmo tempo dilacerantes estão propositadamente mais destacados e são um dos maiores factores de interesse no álbum. Com diversas mudanças e sobreposições, o trabalho de guitarra vai de encontro à complexidade e evolução que a banda tem tido, mas são os momentos melancólicos e genuinamente deprimentes que dão um toque ainda mais pessoal a um trabalho pincelado pela dor e pelos tons negros da mente humana.

Nesta mesma linha, o baixo encontra-se bastante presente e de uma forma um tanto ou quanto surpreendente assume-se como um elemento que para além de completar dá uma atmosfera ainda mais distorcida e arrastada às músicas (como acontece, por exemplo em Stabbed).

A voz assume-se, obviamente, como o elemento que mais transmite as emoções na música de Rising e neste ponto é preciso dar um grande destaque à excelente performance de NH.Variando entre um gutural bem reconhecível, angustiantes gritos de dor e momentos mais limpos, os vocais são um dos factores mais interessantes do álbum. NH expele o ódio e a misantropia através de alguns dos mais arrepiantes momentos vocais alguma vez executados sob o nome de Corpus Christii e o álbum ganha incomensuravelmente com isso.

Mencionei anteriormente que este seria porventura o álbum (musicalmente) mais ambicioso de Corpus Christii e isto é algo que se compreende assim que se começa a ter uma idéia das várias influências e dos pormenores bastante diversos que Rising encerra.

Os riffs e ritmos mais lentos e soturnos remetem para uma atmosfera Doom que abrilhanta e diversifica ainda mais o álbum. Neste sentido faixas como The Wanderer ou a emocional Revealed Wounds têm sons que vão para além do espectro do Black Metal.Há algumas bandas que vêm à cabeça aquando da audição do álbum como Deathspell Omega ou Ved Buens Ende, sobretudo devido à variedade rítmica e à atmosfera criada, mas Corpus Christii tem uma envolvência única devido à forma como tudo se passa muito no plano pessoal, o que transparece bem para a música.

Outro factor que é facilmente reconhecível no álbum é a religiosidade que lhe está inerente. NH denomina Corpus Christii como uma banda de Black Metal religioso, de cariz demarcadamente satânico. A Intro com o seu coro evangélico ajuda neste aspecto, mas todo o álbum remete para este sentimento religioso. No que concerne a esta matéria alguns momentos líricos demonstram bem que apesar de as letras estarem já longe de algo como All Hail... (Master Satan) a devoção a Satanás, o espalhar da sua palavra e o encontrar da verdade através do mesmo são o objectivo primordial de NH, como visceralmente expelido em Void Revelation:Satan! Life for those who seek the truth!

Todas as faixas são bastante únicas e distintas (embora o sejam apenas o suficiente para manter o interesse e não soem demasiado díspares e desgarradas de uma linha comum) o que faz do álbum não só um conjunto bastante coeso e sólido, mas igualmente uma fonte de grandes hinos de Black Metal.

Neste aspecto há a destacar Stabbed, logo a primeira faixa do álbum (a seguir à Intro) e que deambula por entre os riffs cortantes e momentos mais atmosféricos, tudo isto com Nocturnus Horrendus exprimir os mais desesperantes sentimentos de forma agonizante.No momento que se segue a bateria de Menthor tem um dos seus pontos altos. Blank Code tem um ritmo mais rápido na maior parte do tempo, mas também é onde se pode encontrar um dos primeiros momentos em que Nocturnus Horrendus usa uma voz mais falada, o que dá uma ideia de ritual e que resulta muito bem.

Ainda nesta toada mais tradicional encontramos Untouchable Euphoria (com alguns elementos mais Thrash à mistura) ou Evasive Contempt que dão corpo à vertente mais rápida do álbum.

Os riffs tristes são enfatizados em faixas como The Wanderer, Torrents Of Sorrow, Heavenless Bliss ou no momento mais emocional (e simultaneamente mais brilhante) do álbum Revealed Wounds onde numa toada depressiva tudo flui numa corrente de pura melancolia.

Cada faixa tem pormenores que só serão notados à medida em que o álbum for absorvido. É este outro dos grandes pontos do álbum, onde as faixas vão ganhando de uma forma estranha nova força e nova dinâmica, seja individualmente, seja no contexto de um álbum que devido a uma atmosfera rica em vários elementos se torna numa autêntica surpresa, a cada audição.

Quando totalmente absorvido, a ideia geral que mais se retém é a expurgação de sentimentos negativos muito fortes e vincados. O arrepiante Outro é parte essencial disto mesmo e mais do que algo que soe esteticamente bem, é um grito (literalmente) libertador de tudo quanto a trilogia Tormented encerra.

Conclusão
O mínimo que se pode dizer é que Rising é mais um enorme passo em frente na carreira de Corpus Christii e demonstra em especial todas as potencialidades de composição do seu mentor, Nocturnus Horrendus. Desta vez NH conseguiu uma obra extrema em sonoridade e complexidade, bem como cimenta a unicidade de CC no panorama do Black Metal mundial.

Rising assume-se inevitavelmente como um dos melhores lançamentos de 2007 (seja em que dimensão territorial estejamos a falar), bem como uma das mais brilhantes criações de sempre na cena Black Metal nacional.

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