Na sessão Classic Albums pretende-se homenagear as obras que merecem ser relembradas. Aqueles álbuns que consideramos fundamentais para os ouvintes de Heavy Rock...
Nota: Esse review foi originalmente escrito na forma lusitana da língua portuguesa. O blog Arise! optou por manter dessa forma no intuito de preservá-lo como foi concebido.
Nota: Esse review foi originalmente escrito na forma lusitana da língua portuguesa. O blog Arise! optou por manter dessa forma no intuito de preservá-lo como foi concebido.
The Doors - Strange Days
Por PhiLiz
Introdução
É para mim uma tarefa utópica fazer uma review que me deixe satisfeito no que concerne à forma como poderia transpor em algumas (mais ou menos, é irrelevante) palavras o que os Doors foram no seu tempo (e depois), mas mais importante o que representam para a mim. É estranho estar alguém nascido dezoito anos depois da morte de Morrison em Paris (e que ainda nem completou o mesmo número de anos de vida) a falar sobre banda que findou (originalmente) em 1973. O que é certo é que provavelmente os Doors dizem-me tanto ou mais a mim do que a um qualquer pai que hoje em dia olha para os vinyls com nostalgia.
Mais estranho se torna esta devoção, quando ideologicamente e musicalmente acho execrável a maioria do mainstream musical e da atitude da época: O "peace and love", as bandinhas suaves e formatadas e todo um clima de passividade que me irrita pessoalmente. Isto pode ajudar a explicar três coisas: O porquê de eu, jovem de hoje, ainda idolatrar a música dos na altura jovens californianos; O surgimento de uma banda que em contraste com o que se passava apelava ao caos, à violência, à desordem civil, num turbilhão de poesia, alucinogénos e força criativa; A concepção deste álbum, o mais negro e obscuro da carreira da banda.
Dando por terminada a minha experiência mais pessoal com a banda (biograficamente falando, claro) vou apenas pegar num aspecto que foquei acima: O deslocamento que os Doors tinham em relação ao que se fazia. Enquanto a maioria apelava para uma atitude indolente e pouco reactiva, Morrison mostrava os dentes, espreguiçava-se numa América hipócrita e moralista com uma mensagem cheia de Niilismo caótico. Este álbum é isso mesmo... canta-se o lado negro da noite, o obscuro, num tom alegremente depressivo (é antagónico, bem o sei, mas é exactamente isto que se vai passar em Strange Days) e sempre com uma dose de originalidade que nunca viria a ser igualada.
Estes eram os "dias estranhos" de uma banda que conseguiu sobreviver ao fantástico álbum de estreia e que se tornou na maior banda norte-americana de Rock do final dos anos 60, sendo simultaneamente um dos maiores fenómenos de contra-cultura nos Estados Unidos.
Introdução
É para mim uma tarefa utópica fazer uma review que me deixe satisfeito no que concerne à forma como poderia transpor em algumas (mais ou menos, é irrelevante) palavras o que os Doors foram no seu tempo (e depois), mas mais importante o que representam para a mim. É estranho estar alguém nascido dezoito anos depois da morte de Morrison em Paris (e que ainda nem completou o mesmo número de anos de vida) a falar sobre banda que findou (originalmente) em 1973. O que é certo é que provavelmente os Doors dizem-me tanto ou mais a mim do que a um qualquer pai que hoje em dia olha para os vinyls com nostalgia.
Mais estranho se torna esta devoção, quando ideologicamente e musicalmente acho execrável a maioria do mainstream musical e da atitude da época: O "peace and love", as bandinhas suaves e formatadas e todo um clima de passividade que me irrita pessoalmente. Isto pode ajudar a explicar três coisas: O porquê de eu, jovem de hoje, ainda idolatrar a música dos na altura jovens californianos; O surgimento de uma banda que em contraste com o que se passava apelava ao caos, à violência, à desordem civil, num turbilhão de poesia, alucinogénos e força criativa; A concepção deste álbum, o mais negro e obscuro da carreira da banda.
Dando por terminada a minha experiência mais pessoal com a banda (biograficamente falando, claro) vou apenas pegar num aspecto que foquei acima: O deslocamento que os Doors tinham em relação ao que se fazia. Enquanto a maioria apelava para uma atitude indolente e pouco reactiva, Morrison mostrava os dentes, espreguiçava-se numa América hipócrita e moralista com uma mensagem cheia de Niilismo caótico. Este álbum é isso mesmo... canta-se o lado negro da noite, o obscuro, num tom alegremente depressivo (é antagónico, bem o sei, mas é exactamente isto que se vai passar em Strange Days) e sempre com uma dose de originalidade que nunca viria a ser igualada.
Estes eram os "dias estranhos" de uma banda que conseguiu sobreviver ao fantástico álbum de estreia e que se tornou na maior banda norte-americana de Rock do final dos anos 60, sendo simultaneamente um dos maiores fenómenos de contra-cultura nos Estados Unidos.
Alinhamento
1. Strange Days
2. You're Lost Little Girl
3. Love Me Two Times
4. Unhappy Girl
5. Horse Latitudes
6. Moonlight Drive
7. People Are Strange
8. My Eyes Have Seen You
9. I Can't See Your Face in My Mind
10. When The Music's Over
Ano 1967
Editora Elektra
Faixa Favorita 10. When The Music's Over
Género Classic Rock
País EUA
Banda
Jim Morrison - Voz
John Densmore - Bateria
Ray Manzarek - Teclado & Marimba
John Densmore - Bateria
Músicos Convidados
Douglas Lubahn - Baixo em algumas músicas.
1. Strange Days
2. You're Lost Little Girl
3. Love Me Two Times
4. Unhappy Girl
5. Horse Latitudes
6. Moonlight Drive
7. People Are Strange
8. My Eyes Have Seen You
9. I Can't See Your Face in My Mind
10. When The Music's Over
Ano 1967
Editora Elektra
Faixa Favorita 10. When The Music's Over
Género Classic Rock
País EUA
Banda
Jim Morrison - Voz
John Densmore - Bateria
Ray Manzarek - Teclado & Marimba
John Densmore - Bateria
Músicos Convidados
Douglas Lubahn - Baixo em algumas músicas.
Review
Como se deve perceber após a introdução que fiz, os Doors não eram uma banda convencional. A imagem de Morrison, a mensagem da banda e acima de tudo a estética musical eram completamente à parte do que se fazia na altura. A imagem do álbum, uma representação circense, apenas com o nome da banda em plano muito reduzido, se comparado com as flores e imagens coloridas da altura já denota algo destino. Vamos avançar...
Alguém que não esteja familiarizado com o som dos Doors e a forma como os seus elementos faziam uso das suas potencialidades, vai ficar surpreendido nalguns aspectos. Em primeiro lugar, a música é centrada no piano de Manzarek que faz simultaneamente o som do baixo com a outra mão. Os Doors nunca tiveram um baixista fixo e isto sempre influenciou muito a forma de tocar e toda a composição da banda. No álbum, temos Manzarek a criar uma atmosfera de sons hipnóticos e psicadélicos. O ambiente negro com simples tons de piano, um tanto ou quanto alegres. Um oxímoro, por vezes belo e suave no caso das músicas mais ligeiras do álbum como Unhappy Girl, I Can't See Your Face In My Mind... ou então violentos e caóticos como no portentoso When The Music's Over.
Tudo isto é acompanhado pelos riffs semi-nítidos de Krieger. Sempre com uma vibração muito própria, são mais um dos elementos atmosféricos a puxar para o psicadelismo. São no entanto brilhantes as performances da guitarra algumas das músicas mais conhecidas do álbum: People Are Strange e Love Me Two Times.
Chegamos a Densmore e à confusão enorme (no melhor sentido possível) que eram as influências do baterista dos Doors. Desde Jazz a Bossa Nova, passando claro pelo Rock, a bateria era um debitar de tendências várias que davam à parte rítmica da banda um som do mais original possível. O álbum vale também muito a pena pela energia embutida por John na bateria.
Por fim, chegamos a Jim Morrison. A voz do mítico vocalista não é um prodígio de alcance... mas tem um toque de mistério, hipnose e força que a tornam única. Mas mais importante que isso, são as letras: na maior parte do tempo apocalípticas (When The Music's Over), mas com alguns momentos mais românticos (Love Me Two Times) ou ainda, mais introspectivos (People Are Strange).
Sendo a maior parte das músicas da mesma altura das que constituíam o álbum de estreia, a temática dos dois álbuns é semelhante, embora aqui exista um sentimento um pouco mais negro. No que concerne a Morrison, há ainda a inclusão de um dos seus poemas apenas com alguns efeitos por detrás. Trata-se de Horse Latitudes
When the still sea conspires an armor
And her sullen and aborted
Currents breed tiny monsters
True sailing is dead
Awkward instant
And the first animal is jettisoned
Legs furiously pumping
Their stiff green gallop
And heads bob up
Poise
Delicate
Pause
Consent
In mute nostril agony
Carefully refined
And sealed over
Num álbum destes, tão poderoso é complicado destacar apenas algumas músicas. Embora aqui, surjam algumas das melhores músicas da banda e essas que vou falar mais...
Na faixa três, temos Love Me Two Times, um dos clássicos da banda. Excelente riff e uma das mais inspiradas performances vocais de Morrison em estúdio. Uma canção de amor, extremamente explícita que após a prisão de Morrison num concerto em New Haven (onde a banda estava a tocar a música por detrás quando Jim começou a ironizar um incidente de bastidores com um polícia). Atingiu o número vinte e cinco dos "charts" nos EUA, enquanto single.
Temos um pouco mais à frente Moonlight Drive, com a sua áurea hipnótica. Esta foi, reza a lenda, a primeira música composta pela banda. Segundo é contado, foi a que Morrison cantarolou a Manzarek quando os dois se encontraram na praia da Venice na Califórnia: «Let's swim to the moon, let's climb through the tide, penetrate the evening that the city sleeps to hide». Apesar de ser relativamente simples, encerra uma mensagem destrutiva de morte por afogamento.
Outro grande momento vai para o clássico People Are Strange. Uma canção sobre a solidão... a verdadeira solidão que se esconde por detrás da multidão. Talvez a música que (a par da primeira música) melhor representa todo este período da banda. A música chegou ao número doze do top americano de singles.
Por fim, o opus do álbum! When The Music's Over é mais uma das músicas longas da banda, na linha do épico The End (que para mim reside ainda como a melhor música já alguma vez feita). Durante onze minutos, a banda viaja por entre momentos de calma, onde praticamente apenas os teclados são audíveis. Morrison vai declamando o seu poema com a banda a dar corpo às letras (tomem bem atenção para a integração da parte instrumental com as letras, quando Morrison dispara «The scream of the butterfly»). A seguir o caos total e toda a intensidade da banda posta em evidência. Brilhante a todos os níveis...
Cancel my subscription to the Resurrection
Send my credentials to the House of Detention
I got some friends inside
(...)
We want the world and we want it...
We want the world and we want it...
Now
Now?
Now!
Conclusão
Os Doors são a minha referência musical. Independentemente de ainda serem ou não a minha banda preferida. São como um velho amigo, que raramente vemos, mas do qual continuamos a perceber cada gesto... que sabemos exactamente o que ele vai fazer. Este álbum é dos mais paradigmáticos para mim, nesse aspecto em concreto.
O álbum é reconhecido como um dos melhores álbuns dos Doors e comercialmente também foi um sucesso escalando ao número três do top de álbuns americano em 1967 e figurando no número 407 de melhores álbuns de sempre da revista Rolling Stone.
Como se deve perceber após a introdução que fiz, os Doors não eram uma banda convencional. A imagem de Morrison, a mensagem da banda e acima de tudo a estética musical eram completamente à parte do que se fazia na altura. A imagem do álbum, uma representação circense, apenas com o nome da banda em plano muito reduzido, se comparado com as flores e imagens coloridas da altura já denota algo destino. Vamos avançar...
Alguém que não esteja familiarizado com o som dos Doors e a forma como os seus elementos faziam uso das suas potencialidades, vai ficar surpreendido nalguns aspectos. Em primeiro lugar, a música é centrada no piano de Manzarek que faz simultaneamente o som do baixo com a outra mão. Os Doors nunca tiveram um baixista fixo e isto sempre influenciou muito a forma de tocar e toda a composição da banda. No álbum, temos Manzarek a criar uma atmosfera de sons hipnóticos e psicadélicos. O ambiente negro com simples tons de piano, um tanto ou quanto alegres. Um oxímoro, por vezes belo e suave no caso das músicas mais ligeiras do álbum como Unhappy Girl, I Can't See Your Face In My Mind... ou então violentos e caóticos como no portentoso When The Music's Over.
Tudo isto é acompanhado pelos riffs semi-nítidos de Krieger. Sempre com uma vibração muito própria, são mais um dos elementos atmosféricos a puxar para o psicadelismo. São no entanto brilhantes as performances da guitarra algumas das músicas mais conhecidas do álbum: People Are Strange e Love Me Two Times.
Chegamos a Densmore e à confusão enorme (no melhor sentido possível) que eram as influências do baterista dos Doors. Desde Jazz a Bossa Nova, passando claro pelo Rock, a bateria era um debitar de tendências várias que davam à parte rítmica da banda um som do mais original possível. O álbum vale também muito a pena pela energia embutida por John na bateria.
Por fim, chegamos a Jim Morrison. A voz do mítico vocalista não é um prodígio de alcance... mas tem um toque de mistério, hipnose e força que a tornam única. Mas mais importante que isso, são as letras: na maior parte do tempo apocalípticas (When The Music's Over), mas com alguns momentos mais românticos (Love Me Two Times) ou ainda, mais introspectivos (People Are Strange).
Sendo a maior parte das músicas da mesma altura das que constituíam o álbum de estreia, a temática dos dois álbuns é semelhante, embora aqui exista um sentimento um pouco mais negro. No que concerne a Morrison, há ainda a inclusão de um dos seus poemas apenas com alguns efeitos por detrás. Trata-se de Horse Latitudes
When the still sea conspires an armor
And her sullen and aborted
Currents breed tiny monsters
True sailing is dead
Awkward instant
And the first animal is jettisoned
Legs furiously pumping
Their stiff green gallop
And heads bob up
Poise
Delicate
Pause
Consent
In mute nostril agony
Carefully refined
And sealed over
Num álbum destes, tão poderoso é complicado destacar apenas algumas músicas. Embora aqui, surjam algumas das melhores músicas da banda e essas que vou falar mais...
Na faixa três, temos Love Me Two Times, um dos clássicos da banda. Excelente riff e uma das mais inspiradas performances vocais de Morrison em estúdio. Uma canção de amor, extremamente explícita que após a prisão de Morrison num concerto em New Haven (onde a banda estava a tocar a música por detrás quando Jim começou a ironizar um incidente de bastidores com um polícia). Atingiu o número vinte e cinco dos "charts" nos EUA, enquanto single.
Temos um pouco mais à frente Moonlight Drive, com a sua áurea hipnótica. Esta foi, reza a lenda, a primeira música composta pela banda. Segundo é contado, foi a que Morrison cantarolou a Manzarek quando os dois se encontraram na praia da Venice na Califórnia: «Let's swim to the moon, let's climb through the tide, penetrate the evening that the city sleeps to hide». Apesar de ser relativamente simples, encerra uma mensagem destrutiva de morte por afogamento.
Outro grande momento vai para o clássico People Are Strange. Uma canção sobre a solidão... a verdadeira solidão que se esconde por detrás da multidão. Talvez a música que (a par da primeira música) melhor representa todo este período da banda. A música chegou ao número doze do top americano de singles.
Por fim, o opus do álbum! When The Music's Over é mais uma das músicas longas da banda, na linha do épico The End (que para mim reside ainda como a melhor música já alguma vez feita). Durante onze minutos, a banda viaja por entre momentos de calma, onde praticamente apenas os teclados são audíveis. Morrison vai declamando o seu poema com a banda a dar corpo às letras (tomem bem atenção para a integração da parte instrumental com as letras, quando Morrison dispara «The scream of the butterfly»). A seguir o caos total e toda a intensidade da banda posta em evidência. Brilhante a todos os níveis...
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(...)
We want the world and we want it...
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Now
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Conclusão
Os Doors são a minha referência musical. Independentemente de ainda serem ou não a minha banda preferida. São como um velho amigo, que raramente vemos, mas do qual continuamos a perceber cada gesto... que sabemos exactamente o que ele vai fazer. Este álbum é dos mais paradigmáticos para mim, nesse aspecto em concreto.
O álbum é reconhecido como um dos melhores álbuns dos Doors e comercialmente também foi um sucesso escalando ao número três do top de álbuns americano em 1967 e figurando no número 407 de melhores álbuns de sempre da revista Rolling Stone.
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