terça-feira, 11 de março de 2008

CD Review: Andre Matos – Time To Be Free


Andre Matos – Time To Be Free
Gravadora: Universal Music


Por Artur Henriques

Deve ser difícil ser Andre Matos (Virgo, ex-Angra, Shaman e Viper), afinal estando algo próximo de duas décadas de carreira, agradar aos velhos e novos fãs não é uma tarefa fácil. Mas eis que depois de mais um conturbado processo de separação de banda, Dedé nos brinda com mais um álbum. Contendo ao seu lado os já velhos companheiros Luis Mariutti (baixo), Fabio Ribeiro (teclado), Hugo Mariutti (guitarra) e os novos membros Andre Hernandes (guitarra) e Rafael Rosa (bateria, e que já não se encontra mais na banda, sendo substituído pelo prodígio Eloy Casagrande).

Mas é importante frisar que todos os integrantes da banda (menos o baterista Rafael) participaram do processo de composição das músicas, que ainda contou com ajuda externa de Pit Passarell (baixista da banda Viper, da qual Matos fez parte), Roy Z (guitarrista e produtor de renome) e Alberto Rionda (Avalanch). Ficando para Andre Matos o monopólio das letras das músicas.

Logo com a introdução orquestral da faixa Menuett, que emenda diretamente na música Letting Go podemos conferir uma volta de Matos ao gênero que lhe fez famoso: o Metal Melódico. Diga-se de passagem que é muito bom poder ouvir o vocal do Andre soar como antigamente, deixando as linhas vocais mais simples da época do álbum Reason para trás. Logo de cara a produção do álbum se mostra excelente, indicando que foi acertada a decisão de dividir a produção do álbum entre Roy Z e Sascha Paeth. Digo isso porque em Reason (último álbum da primeira formação do Shaman) Sascha parecia já ter dado tudo o que tinha que dar ao lado da banda, e por outro lado, Roy Z parece ter a estranha mania de homogeneizar o som das bandas com o qual ele trabalha. Juntar os esforços desses dois grandes produtores, assim como a seus estilos diferentes, era o melhor que eles poderiam fazer.

O trabalho da dupla de guitarras também se mostra ótimo e é responsável por alguns dos grandes momentos do álbum. E por falar em guitarras, elas são incrivelmente marcantes na música Rio, que tanto emula elementos do primeiro e segundo álbum da banda Shaman. A letra da música versa sobre a “Cidade Maravilhosa” e é um destaque à parte, e se caracteriza por ao mesmo tempo ser uma homenagem e um lamento. Mas quem melhor do que o próprio Andre Matos para falar sobre isso? Eis um trecho da entrevista que ele deu para a edição número 109 da revista Roadie Crew:

“Sobre o significado, uma boa parte da minha família ainda vive no Rio de Janeiro e passei anos da minha infância lá. O Rio que conheci quando era garoto para o Rio de hoje mudou muito. Foi interessante que quando vi esse filme (nota do blogueiro: está se referindo ao filme Cidade de Deus), que trata mais ou menos aquela época do final dos anos 70, fiquei muito tocado, tendo sensações que eu tinha quando era criança e que foram mudando com o tempo. Esta música é uma comparação do que era a realidade naquela época para o que é hoje. Ela representa aquela velha dicotomia entre o bem e o mal. Na minha cabeça ela é um tipo de homenagem à beleza do Rio de Janeiro, um dos locais mais lindos do mundo, que ao mesmo tempo está tão corrompido com tanta violência. Nesta música mostro que a violência e a beleza podem conviver, não apenas numa cidade ou país, sendo que muitas vezes isso acontece dentro das pessoas.”

Remenber Why mantêm o alto nível, graças principalmente ao seu ótimo refrão. Já How Long (Unlished Way) começa com um som meio experimental para depois desembocar num puta Heavy Metal, que em alguns momentos me lembrou bastante a música Don´t Despair (gravada em versão Demo pelo Angra mas nunca lançada oficialmente).

Looking Back remete aos momentos mais experimentais do álbum Ritual. Apostando numa repetição constante do refrão e por isso mesmo acaba sendo a música mais cansativa do álbum, apesar do meio da música ser bem interessante graças ao instrumental competente e virtuoso. Looking Back é na verdade o elo fraco do álbum.

Face The End por sua vez é para mim um dos grandes destaques do álbum. Tendo um certo ar da fase Virgo, essa música possui uma bela melodia e um dos refrões mais grudentos já gravados por Dedé. Time To Be Free começa nesse mesmo estilo Virgo de ser, para depois descambar num Heavy Metal Melódico típico da época do Angra. Time To Be Free é a tentativa de Matos de criar seu épico particular, sua carta manifesto, e talvez por isso mesmo tenha sido escolhida para ser a faixa título de seu primeiro álbum solo.

Rescue começa parecendo um refugo das gravações do Ritual, mas acaba por se mostrar a música mais pesada de todo o álbum. Os vocais guturais de Sander Gommans dão um toque todo especial à música. Logo em seguida vem o que para mim é o grande destaque do álbum: a música A New Moonlight. A nova versão para a música Moonlight originalmente composta por Andre e gravada no álbum Theater of Fate da banda Viper. A nova versão além de ficar mais longa também apresenta elementos mais experimentais. É simplesmente impossível destacar algo nessa incrível música, mas seria um sacrilégio não mencionar a sua letra, que assim como a própria música é bela. O que me faz constatar algo que já penso há muito tempo, Andre Matos é não só um dos melhores letristas do Heavy Metal nacional, como também a nível internacional.

Endeavour termina o álbum de forma digna com seu Heavy Metal de primeira. Pois é, quem é rei nunca perde a majestade, em seu primeiro álbum solo, Andre Matos demonstra que ainda têm muita lenha para queimar. Mas apesar de Time To Be Free ser um álbum muito bem executado, com algumas composições bastante inspiradas e gravado de forma soberba ele está longe de representar um marco como foram certos álbuns, tais como Theater of Fate, Angels Cry, Holy Land ou Ritual. Fica para a próxima...

Nota: 9.5

Um comentário:

Anônimo disse...

O André Matos é um cara impressionante. São mais de vinte anos de carreira e tudo que ele fez não é menos que excelente. Muitos grandes artistas tem momentos baixos e de pouca inspiração, mas ele ainda não passou por essa fase.
Concordo com a resenha que esse disco não tem o peso de um Ritual ou de um Holy Land, mas ainda assim é um trabalho de alta qualidade.