quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Entrevista: Rio Metal Works - Parte II

Chegamos à segunda parte de nossa entrevista com Adam Alfred e Felipe Lameira, da Rio Metal Works. Aqui, nota-se que o álcool começou a fazer seu efeito, principalmente no Adam. Se na primeira parte a entrevista já saía dos eixos que havíamos programado, nessa segunda hora o clima de bate-papo entre amigos se instaura de uma vez. Os leitores encontrarão aqui novos motivos para conhecê-los e rir conosco (pena que tivemos que cortar algumas partes engraçadas). Boa leitura.




Arise: Vocês tornaram o Mackenzie o point do Heavy Metal no Rio de Janeiro, não é? Ele acabou ultrapassando o Garage...

Adam: Acho importante dizer algo aqui. A RMW não faz eventos sozinha. Ela é parte de um consórcio formado pelo Rato no Rio e pela Fashion Produções que é chamado Tríade de Aço. Então, em matéria de ação em pró do Heavy Metal no Rio é RMW. Mas em matéria de show é a Tríade de Aço.

Lameira: A RMW é a idealizadora dos eventos. Somos nós que criamos os moldes dos eventos. Mas quem produz os eventos, quem os torna viável econômica e logisticamente é a Tríade de Aço.

Adam: Em termos de produção de evento, o Emílson é um mestre, um pai, um padrinho. O que nós sabemos de produção de eventos nós devemos a ele. E o que sabemos sobre cenário nós devemos ao Marcelo. Agora em questão de produção, o Emílson é um dos caras mais sérios, mais organizados e corretos que eu já encontrei na minha vida. Ele é um pai. Ele é demais.

Lameira: Ele e a sua esposa da Fashion Produções.

Arise: Como vocês fazem a seleção das bandas que tocam nos eventos?

Adam: Para se escolher uma banda é uma verdadeira guerra. Uma vez fomos fazer um evento e percebemos que o cenário havia encolhido. Em uma mesma época, em um espaço de dois meses, havia acabado Death Mountain, Apocryph, Alchemy e Statik Magic. Para escolher uma banda, primeiro pensamos no molde do evento. Se nós hoje fazemos um evento de Heavy Metal tradicional, o próximo não pode ser de Heavy Metal tradicional. Então, primeiro definimos o molde do evento que pode ser, por exemplo, de extremo. Aí nós fechamos com uma banda, por exemplo, o Unearthly. Aí depois nós fechamos com outras bandas que tenham afinidade com ela.
As bandas autorais do Rio de Janeiro só tocam uma vez por ano no Mackenzie. Por quê? Porque nós temos que dar espaço para todo mundo. O Rio de Janeiro tem mais de trezentas bandas. Nós fazemos doze shows por ano. Em cada show, nós temos quatro bandas. Isso dá 48 bandas por ano. Vai dar para todas as bandas do Rio de Janeiro tocarem no Mackenzie em um ano? Por isso nós estamos abrindo mais um evento para dar espaço para mais bandas.

Arise: Vocês pretendem fazer mais de um show por mês então?

Adam: No Mackenzie e na Marlene ou em qualquer outro lugar.

Lameira: Nós estamos dando também mais espaço para o Hard Rock porque é uma cena que temos que ajudar e respeitar. Afinal, todo mundo de Metal escorrega no Hard Rock. Às vezes o cara é True Metal pra cacete mas escuta Skid Row...

Adam: Eu me amarro em Guns N Roses [nesse momento Adam aproxima o gravador da boca e começa a falar alto]. Adoro Guns N Roses. Eu cantei Patience e ainda fiz a dancinha... Foi a minha primeira banda de Hard.(risos)

Arise: Qual estilo atrai mais público? Existe algum estilo que é predominante nas produções da RMW?

Adam: Os que atraem mais público é o Heavy Metal melódico e o tradicional, no Rio.

Arise: Temos percebido que os eventos de Hard também atraem um bom público.

Adam: Um evento de Hard cover dá o mesmo público de uma banda de Heavy Metal normal. O Hard cover atrai muito público porque tem uma galera muito saudosista.

Lameira: Se um cara quer ter uma banda cover, nós falamos para ele se aperfeiçoar nisso. Mas às vezes o cara tem uma banda cover mas quer ter uma autoral e diz que só não tem porque acha que é muito difícil.

Adam: Então desiste, porra! Vai vender pipoca! (risos) Eu fico revoltado com a falta de profissionalismo. As pessoas falam que o cenário tá uma merda mas é porque tem muita banda que não luta.

Lameira: Existe o caso do Lost Relic. Eles tocam em todo o Klash of Titans...

Adam: E por quê? Porque são a banda cover mais foda do mundo!

Lameira: ... Toda vez que entramos em contato com eles, nós perguntamos: Cadê a música autoral?

Arise: Mas parece que agora eles vão fazer, não é?

Adam: Mas é claro! (risos)

Lameira: Eles disseram que agora estão com três músicas.

Arise: O Driving Force também é uma excelente banda cover.

Adam: Eles são muito gente boa e vão começar a fazer trabalho autoral também.
É difícil achar banda cover boa. A maioria é uma merda. (risos).
....
Lameira: Houve uma vez que o Marcelinho estava na bilheteria e me perguntou porque a banda ainda não tinha começado. Aí eu disse que os Lost Relic já estavam tocando. O Marcelinho respondeu: “Caraca! Isso não é cd?” (risos)

Arise: O vocal deles é muito bom.

Lameira: No caminho, eu e o Adam estávamos falando sobre isso.

Adam: Dentre os melhores vocalistas do Rio de Janeiro estão: Tribuzy, Fábio do Lost Relic, Hélio Oliva que era do Nordheim. [Nesse momento, Adam aproxima o gravador da boca e diz:] Hélio, volta a tocar, desgraçado. Canta, canta. Volta a tocar. Canta pra caralho aquele filho da puta. Volta para o Nordheim, Hélio. Sua vida não é ser policial. Sua vida é Heavy Metal. Volta, Hélio (risos).

Lameira: O Flaveus também é foda. Existe uma coisa interessante sobre ele. Ele não tem um alcance vocal alto comparado a, por exemplo, o Tribuzy. Quando ele começou, cantava muito mal. Mas ele melhorou bastante e surpreendeu a gente. Hoje em dia, ele tem uma técnica vocal excelente.

Adam: Ele é o bicho.

Lameira Ele domina o palco como ninguém.

Adam: Ele é o melhor frontman do Rio de Janeiro.

Lameira: Ele sobe no palco e diz: “Isso aqui é meu”. Eu vi o show que ele fez agora na abertura do Tribuzy e depois vi a filmagem. Ele é muito foda. O Neutralis está com uma ótima resposta.

Adam: Eles são uma das grandes promessas.

Lameira: Além de ter um vocal singular, a sua banda também é singular. Ele misturou várias influências. Ele tem muito de Halford, de Bruce Dickinson, mas também tem de Candlemass.

Adam: Outro vocalista maravilhoso é Tácito Reis da antiga Death Mountain, foi para Havora e agora está na Remaker. Ele é maravilhoso.

Arise: Naquele show do Mackenzie que ele participou, ele mandou muito bem.

Adam: E ele cantando Pantera? O vocal dele é melódico mas ficou muito foda.

Lameira: Foi algo inusitado.

Adam: Do que nós estávamos falando mesmo? Já esqueci da porra toda...(risos)

Arise: Da seleção das bandas. E se existe algum estilo predominante nas produções.

Adam: Não. Não existe nenhum estilo predominante nas produções. O que dá mais público é o tradicional e o melódico.

Lameira: Pode acontecer o que nós chamamos de janela. A associação que tivemos com a Roadie Crew deu uma nova dimensão ao nosso trabalho. Algumas bandas começaram a olhar para gente.

Arise: Foi muito legal aquela edição da Roadie Crew em que saiu uma nota sobre vocês.

Lameira: Nós recebemos uma notificação da Roadie Crew dizendo que a revista nunca vendeu tanto no Rio de Janeiro quanto no mês daquela edição. Ele disse: “Agora, eu estou percebendo a importância do trabalho de vocês.”

Arise: Vocês tiveram contato com quem?

Lameira: Com o Aírton, o editor-chefe da revista.

Adam: O Aírton é fenomenal.

Lameira: Eu não o conhecia pessoalmente. Adoro a Roadie Crew. Considero a melhor revista de Heavy Metal do país.

Adam: Agora eu adoro a revista e adoro ele.

Lameira: Eu sou fã dele. Ele é muito gente fina.

Adam: Tudo para ele é futebol.

Lameira: Além de ser um cara muito parecido com o baixista do Deep Purple.(risos) Ele foi confundido no Wacken com o Roger Glover (risos).
[Voltando] Mas o que acontece, são janelas, as oportunidades. As bandas mais importantes do Brasil cumprem turnês. Fazem turnê nos Estados Unidos, Europa Oriental e Ocidental, Japão, México. Aí voltam e às vezes a oportunidade de fazer show no Rio de Janeiro é num mês específico. Se não fizer show neste mês aí só no ano que vem.

Adam: O Gräfenstein foi praticamente assim. Eles nos ofereceram uma data em setembro. É muito mais barato uma banda vir para uma turnê para sete shows porque o custo de permanência dessa banda no Brasil é diluído entre vários produtores. Então é uma questão de oportunidade, o pessoal vai querer ver porque é uma banda da Alemanha. Vieram ver uma banda da Alemanha mas viram também banda do Rio e ainda conseguimos trazer duas bandas de Minas Gerais. Nós ajudamos o Gräfenstein também. Afinal, é uma banda nova, desconhecida ainda e escalamos para tocar com bandas do Rio. Também conseguimos trazer duas bandas de Minas Gerais. Eles vieram por conta própria. A gente só pagou a alimentação deles aqui. Não pagamos a viagem porque não daria. Se tivéssemos pago teríamos tido prejuízo com a Aliança Negra. Vou falar essa porra aqui: o lucro do Aliança Negra foi de cem reais. Não deu para pagar a cerveja que eu bebi no dia (risos).

ARISE: É engraçado porque teve uma época em que a cena Black Metal do Rio de Janeiro tinha fama de ser forte.

Lameira: Mas está melhorando. Lacerated & Carbonized, Dark Tower e Scatha que agora está ficando mais extremo.

ARISE: Scatha inclusive foi destaque da seção de Demos da revista Road Crew.

Adam: [Mais uma vez se aproximando do gravador] Parabéns, Scatha, vocês são lindas, perfeitas, quebrem essa porra toda em todo o Brasil. (risos)

Lameira: As bandas de extremo do Rio de Janeiro estão atingindo outro patamar, porque até então era apenas em São Paulo e Minas que se falava .

Adam: Porra, só tem banda de extremo no Rio de Janeiro! Só tem banda foda. Tem o Coldblood, o Land of Tears, o Terrorstorm. O Rio de Janeiro vai ser a nova Bay Area do Brasil (risos). E o Prophecy, caralho! [Nesse momento, Adam pega o gravador e o aproxima da boca] Rogério, meu irmão, você é foda. Você vai fazer minha tatuagem.

ARISE: O Méier, um bairro tradicional da zona norte do Rio de Janeiro, é o principal local de eventos da Rio Metal Works. Existe uma razão especial para vocês escolherem o Mackenzie?

Lameira: Foi por acaso.

Adam: O Emílson da Fashion Produções tinha contato do Mackenzie. O primeiro evento foi o Klash II lá, que foi muito legal. Depois ele fez o Metal Jam III lá. Mas a Rio Metal Works não tinha ainda participado dessas produções, que tinha sido feito com o pessoal da Rato no Rio e com o próprio pessoal da Metal Jam. Depois, o Marcelo e o Emílson fizeram um convite para a Rio Metal Works fazer um evento com as bandas que tocaram na Metal Jam. Porque na Metal Jam, para quem não conhece, não tem bandas tocando, são músicos que se reúnem para tocar. E de lá pra cá nós não paramos mais.

ARISE: Então foi por indicação que vocês começaram a trabalhar no Mackenzie?

Adam: No Mackenzie a produção foi aumentando. Nós aumentamos o palco, colocamos uma iluminação melhor, um computador melhor, uma máquina melhor e fomos trabalhando. Nós reformamos o palco no braço.

ARISE: Um evento que nós percebemos como melhora da produção foi o show do Lost Forever.

Adam: Aquele evento foi muito bom mesmo!

Lameira: Ele foi o primeiro show de 2007, já com o novo equipamento. Nós chegamos no final do ano 2006 e falamos um pro outro: não dá mais. Não que o equipamento antigo fosse ruim, mas precisávamos achar algo melhor. Nós conversamos com o Emílson e perguntamos para ele se dava para conseguirmos algo melhor. Ele falou que sim mas nós teríamos de pagar mais. “Vocês querem pagar mais?” Vamos tentar, vamos ver como vai ser a resposta do público. Os ingressos de 2006 custavam 8 e 5 reais e em 2007 passaram a custar 6 e 10 reais. O público respondeu, pagou, aceitou. Nós não vamos repassar um custo apenas para ganhar mais dinheiro. E o público até aumentou. O público de Heavy Metal é um público muito criterioso, que quer qualidade.

Adam: É óbvio que em alguns eventos vai ter algum tipo de problema. Por uma série de motivos. A gente tenta buscar o melhor. Sempre quando a gente vai para um evento eu viro para a cara do Felipe e pergunto: qual vai ser o problema de hoje?

ARISE: O público tem que entender que é evento underground.

Lameira: É engraçado você falar isso, que é underground. O vocalista do Imago Mortis, o Dumal, eu estava falando para ele que era underground e ele me respondeu “que underground que nada, isto aqui já deixou de ser isso há muito tempo”. (risos)

ARISE: Diga-se de passagem que está faltando show do Imago Mortis no Mackenzie. Será que ele vai participar das seletivas do Wacken?

Lameira: Nós não temos confirmação de nada. Mas eu espero que sim.

Adam: A produção da Tríade de Aço não cuida disso. A seleção de bandas é toda com a Roadie Crew.

ARISE: A essa altura da entrevista já deu para perceber que nós todos aqui somos fãs da Rio Metal Works. Não é à toa que nós escolhemos vocês para serem os primeiros entrevistados do blog. [Nesse momento, Adam dá um abraço efusivo em um dos membros do Arise! e diz “Vocês são foda!”] Agora vamos fazer uma maldade, uma crítica. Um problema que o próprio público comenta nos eventos é o atraso dos shows. A gente quer saber da parte de vocês por que eles acontecem e como vocês encaram isso?

Lameira: Problemas de atraso nos eventos ocorrem pelos mais variados fatores, infelizmente. Um atraso de evento pode ocorrer, primeiro, pela montagem do equipamento. Às vezes a gente toma uma calça arriada do pessoal do som. A gente marca um horário para o cara vir e ele chega uma ou duas horas depois.

Adam: Não é sempre, mas acontece. É um dos fatores.

Lameira: Teve um caso uma vez que o caminhão trazendo o equipamento quebrou e aí teve que alugar outro caminhão que pegou os equipamentos no meio da rua.

Adam: Esse foi o show do Lost Forever em que o caminhão apareceu depois de duas horas.

ARISE: Um que atrasou muito foi o show do Korzus.

Adam: Esse já é outro fator.

Lameira: Com o Korzus a gente tinha acertado com a banda para ela chegar uma e meia da tarde para a gente fazer a passagem do som. E eles falaram: a nossa passagem de som dura uma hora e meia. Eles deveriam chegar uma e meia. Três ou quatro horas eles já deviam ter podido passar o som. A gente imaginou que às quatro horas a gente poderia abrir os portões ao público e cinco horas a primeira banda já estaria se apresentando. A gente imaginou que o Korzus se apresentaria às oito horas da noite. (E nesse cronograma todo a gente já contava com uma hora de atraso). Então dez e meia o show já deveria estar acabando. Só que o Korzus chegou três e meia da tarde!

Adam: Houve problema de saúde do técnico de som.

Lameira: Só que eles não comunicaram isso para a gente. E ainda houve um outro problema, nós tínhamos fechado um acordo com a empresária da banda. Haveria a montagem da bateria do Korzus, se passaria o som e a bateria não seria desmontada. Aí a bateria seria colocada no backstage e se montaria as baterias para as outras bandas. E depois seria recolocada a bateria do Korzus. Só que o baterista chegou e disse que não seria assim, se a bateria dele fosse montada ela não seria retirada de lá. Eu respondi que não tinha sido isso que eu tinha acordado com a empresária dele. Aí ele respondeu para mim que isso não era problema dele, que eu tratasse o assunto com a empresária. A Vera falou para mim que ela não entendia disso e que eu tinha que falar com o baterista e com o técnico de som.

ARISE: Então o Korzus volta algum dia para o Mackenzie?

Lameira: Olha só, esse show do Korzus foi um sonho para mim porque eu sempre fui um fã da banda. E nós tivemos uma grande surpresa. E como fãs, foi um dos momentos mais felizes da nossa vida. Um dos guitarristas atuais da banda teve um problema e não poderia mais tocar na banda. E colocaram um guitarrista substituto, que, por sinal era o Soldado Negem, que tinha gravado o álbum KZS. E acontece que antes de a gente se envolver com o Heavy Metal houve um período em que a gente ficou muito envolvido com as artes marciais. Teve um tempo que a gente montou um fanzine de artes marciais. A gente correu o Estado do Rio de Janeiro todo, conhecendo uma porrada de mestres.

Adam: A gente adotou a filosofia do Street Fight: vamos ao encontro dos mais fortes. (risos).

Lameira: Aí o que aconteceu? Nesse período a gente treinou kenjutso, que é uma técnica de espada japonesa com o mestre Jorge Kishkawa. Ele queria uma representação no Rio de Janeiro. O Adam entrou em contato com um instrutor do Rio de Janeiro “o único mestre de kenjutso do Brasil está vindo para o Rio de Janeiro esta semana. Vamos conhecer ele?”. Nós fomos conhecer o maluco na praia, onde era o treino, de repente houve intercâmbio e mandaram alunos de S.Paulo para o Rio. E mandou um aluno experiente. E quem era? Era o Soldado Negem. Só que nós não sabíamos que era o mesmo cara do Korzus. E quando a gente ficou sabendo que o substituto do Korzus era o Soldado Negem, a gente não acreditou. Quando ele chegou no Rio, desceu da van eu falei: “Você não vai falar comigo não, Negem? Não se lembra de mim, não? Eu sou o Felipe, cara! Só que agora eu estou sem cabelo e estou de barbicha. Treinei com você aqui no Rio, cara!” Aí ele respondeu: “Pô, meu, fala sério!” (risos). Tá diferente, hein?” Então ao mesmo tempo que eu estava puto, estava muito feliz.

ARISE: Então vocês produziriam um novo show do Korzus?

Adam: Produziria sem problema nenhum. A banda é maravilhosa.

Lameira: A gente resolveu os problemas daquele show e a banda reconheceu que os problemas foram dela e não da produção.

ARISE: Mas existem outros motivos para atraso, além dos dois que vocês citaram?

Lameira: Além desses dois que a gente exemplificou não temos mais nenhum tipo de atraso.

ARISE: Mas já teve algum tipo de atraso proposital? Quando vocês viram que não tinha um público suficiente ainda e vocês resolveram atrasar?

Lameira: Sim, mas a gente tem um horário limite. Não é porque não tem o público que a gente esperava que a gente vai ficar esperando até as dez horas da noite.

Adam: Por exemplo, você vê no flyer que o evento começa 19 horas, isso quer dizer que o show deve começar por volta das vinte. No caso dos Mackenzie em que os shows estão marcados para as 15 horas, devem começar às quatro. Porque, meu irmão, brasileiro é tudo “atrasildo”. Não vê hoje que nós chegamos atrasados para dar a nossa própria entrevista? E cara, show sempre atrasa, mesmo show grande.






ARISE: Vocês têm trazido para o Rio de Janeiro medalhões do Heavy Metal nacional. Como é que se deu o processo de contato e negociação com essas bandas?

Lameira: É interessante essa pergunta. O contato com o Nervochaos veio através do Hicsos, e inclusive uma coisa que pode ser dita na entrevista é que um dos trabalhos que a Rio Metal Works vai desempenhar agora, a partir deste ano de 2008, é o trabalho de gerenciamento de bandas, management. A primeira banda a entrar para o cast de management da Rio Metal Works (que vai ser chamado de MW Management) é o Hicsos. E o convite partiu da própria banda.

Adam: E o Hicsos é na minha opinião a melhor banda de Thrash Metal do Rio de Janeiro. O Taurus também é foda mas o Hicsos nunca parou. Enquanto que o Taurus parou e voltou, o Hicsos está há 18 anos ininterruptamente, tocando heavy metal sem parar. icsos nunca parou.


Lameira: E o baterista da banda trabalha com a gente nos eventos. Ele é um dos roadies oficiais dos eventos. E ele entrou em contato com o Edu que é o produtor do Setembro Negro de S.Paulo e é o dono da Tumba Produções. Ele é que é responsável por trazer as maiores bandas de metal extremo para o Brasil.

Adam: Inclusive agora ele vai trazer o Marduk e o Vader.

ARISE: Só não traz para o Rio, não é?

Lameira: Ah cara, é questão de capital, infelizmente. Mas voltando, então o que aconteceu? O Marcelo entrou em contato com ele e ele disse que estava a fim de tocar no Rio e acabou entrando em contato com o Adam e perguntou como é que eles fariam para toca. Ele falou quais eram as condições dele para tocar que por motivos óbvios a gente não pode revelar aqui. E a gente respondeu que com aquelas condições tudo bem e eles vieram. No dia do show fez um calor do caralho!

Adam: Os paulistas estavam derretendo, dava até pena. Eu nunca me esqueço, eu subi no palco porque estava apresentando o show e naquele calor desgraçado eu gritei para o público: “O inferno é aqui!” (risos).

ARISE: Naquele dia o Mackenzie estava infernal mesmo!

Adam: O Diabo foi pessoalmente prestigiar o Nervochaos naquele dia. (risos)

ARISE: Então partiu da própria banda o contato?

Adam: Isso. E é tudo gente boa. O Edu é um cara gente fina.

Lameira: Terminou o show e o Edu estava super feliz. Falou para a gente: “Não sabia que no Rio de Janeiro tinha uma produção como essa. O público está de parabéns e a produção também. Vou voltar para S.Paulo falando muito bem de vocês”.

Adam: E se tudo der certo a gente volta a trazer eles para o Rio de Janeiro. Assim que eles voltarem da Europa.

Lameira: Eles falaram com outras bandas. A partir disso começou. Choveram e-mails de bandas querendo saber como fazer para tocar no Rio de Janeiro. A gente pediu calma, que não é bem assim.

ARISE: É um bom problema, não é?

Lameira: É um problema excelente! Hoje em dia a gente tem propostas de bandas de todo o Brasil.

Adam: A Rio Metal Works é conhecida em todo o Brasil. Desde o Amapá até o Rio Grande do Sul. Todos os Estados, sem tirar nem por.

ARISE: E bandas grandes têm entrado em contato com vocês?

Lameira: Sim, no início do ano passado tivemos propostas de shows do Arch Enemy.

ARISE: [Todos falam ao mesmo tempo] Caralho! (risos). E por que vocês não produziram?

Adam: Acontece que nós não temos 12 mil dólares para pagar o cachê da banda.

ARISE: Lembro de vocês comentarem que pretendiam produzir um show do Almah, mas que acabou não rolando. Foi problema de janela também?

Adam: Não. É porque o Mackenzie não tem estrutura para fazer um show do Almah. É porque o palco é muito pequeno para a banda.

Lameira: Nós teríamos de alugar uma estrutura de palco para montar. Em questão de cenário, isso é um problema no Rio de Janeiro. Aqui só tem casa para fazer show underground ou para fazer show muito grande.

Adam: Não tem casa de porte médio.

ARISE: E a Nova Estudantina que tem na Lapa?

Lameira: É, agora surgiu, mas a gente tem que ver como é que vai ser feito, porque tem alguns donos de casas que não tem muita noção. Ás vezes os caras tem uma casa intermediária mas querem “200 mil dólares” de aluguel.

ARISE: Aquele evento que o Dumal produziu no Raio de Sol até que funcionou bem.

Lameira: Foi bem mas o Raio de Sol acabou. A gente queria fazer evento no Raio de Sol mas assim que a gente pensou em fazer evento lá, o Raio de Sol acabou. Ballroom também acabou. E o Raio de Sol virou salão de festas. E um lugar que a gente está interessado é o Sambola, na Avenida Suburbana, ali em Piedade. [Seguiu-se aqui uma longa e engraçada discussão sobre bairros do Rio de Janeiro]

ARISE: Ficamos surpresos em ver vocês comentarem no orkut que o Dr. Sin seria grande demais para o Mackenzie e o Krisiun, não.

Lameira: Isso é algo que devemos explicar melhor. Esse critério não é determinado pela gente. São as próprias bandas que dizem que não dá quando nos passam suas especificações técnicas. No Almah quem está tocando é o Aquiles. Quando ele apareceu com o set de bateria que ele queria, ele falou: “Quero três tons, dois bumbos” (até aí tudo bem, é o mesmo que o Tuatha de Danann pede) “e doze estantes girafas de pratos”. Eu perguntei: “Cara, como é que eu vou colocar tanta estante aqui?”. Ele acrescentou: “Mais duas estantes retas”.

Adam: É o que o cara pede, mas não dá. Para colocar uma bateria daquela tem que aumentar muito o palco e isso é caro pra caralho.
...
Adam: E tem o público também. Zona Oeste e Baixada é extremo. Se nós trouxermos Angra ou Almah para o Méier vai lotar. Agora se nós levarmos uma banda desse estilo para lá, não vai dar.

Lameira: Por exemplo, nós fizemos o show do Tribuzy junto com a [produtora] Full Metal lá no Século XXI em Campo Grande e deu 450 pessoas.

ARISE: Isso é bom ou ruim?

Lameira: Não é nem bom nem ruim, eu diria que é normal.

ARISE: Mesmo para o Tribuzy?

Lameira: É, a gente esperava mais. Existe uma barreira no Rio de Janeiro para o Tribuzy. Em Minas Gerais ele fez um show para um público de 4.500 pessoas.


Adam: [Adam pega o gravador e começa a gritar] Rio de Janeiro, Tribuzy é foda! Ele mostrou o heavy metal carioca para o Brasil e o mundo! Tenham orgulho das bandas cariocas!

Quando eu quero falar mal eu falo na cara mesmo. Por isso tem gente de banda que me odeia. Mas para o Tribuzy eu falei: “Eu tenho orgulho de uma banda como a sua levar o heavy metal do Rio de Janeiro para o Brasil e para o mundo”.

ARISE: Se o Tribuzy fosse da Alemanha ou da Suécia todo mundo estaria adorando. Vocês acham que o Tribuzy está desapontado?

Lameira: A gente percebe que ele não está contente com essa situação. Mas ele acha que isso vai mudar. E vai mudar. Se tudo der certo, vai mudar sim.

Adam: Está mudando sim. O show em Campo Grande mostrou isso. Eu vi gente que falou assim: “Eu odiava Tribuzy. Hoje pra mim é a melhor banda do mundo”.

Lameira: Temos um amigo que é fã de metal extremo e dias depois do show veio falar pra gente que achou o show do Tribuzy foda. Ele falou: “O cara canta pra caralho e o trabalho dele é muito bom. Se alguém falar alguma merda sobre ele, eu vou dar porrada”. (risos)

ARISE: E você acha que no Méier daria mais gente?

Lameira: Daria sim.

ARISE: Dos eventos que a Tríade de Aço produziu, qual, ou quais, vocês mais gostaram?

Adam: O segundo show do Tuatha de Danann.

ARISE: O primeiro teve mais público, não é?

Adam: Sim. Mas o segundo foi mil vezes melhor.

Lameira: O show do Korzus, que pra mim foi um show histórico. Eu tinha visto um vídeo deles tocando no SESC Pompéia no YouTube, e vi a interação deles com o público e fiquei imaginando esse show no Mackenzie. O show teve problema de produção como a gente já tinha comentado antes. Eu achei, então, que eles iam descer do palco com “aquela cara”. O baixista desceu do palco e virou para o Pompeu (o vocalista) e falou: “Rapaz, o melhor show do ano!”. Ele e o Heros concordaram. E o público também falou pra gente: “Caras, esse foi o melhor show do Tríade de Aço”.

ARISE: Teve um dos Klash of Titans que tinha um público meio misto, fãs de hard rock, metal extremo, etc. Geralmente os fãs de metal extremo têm uma postura mais durona, mas quando começou o show da Driving Force...

Adam: [Interrompendo] Eu vi isso! Geral soltando a franga! (gargalhadas gerais).

Lameira: Heavy metal e hard rock não é a mesma coisa mas vivem de mãos dadas.

Adam: [voltando] Além do Thuatha, Unearthly, e o Aliança Negra. O maior festival de metal extremo já realizado no Rio de Janeiro.

Lameira: Teve além do Korzus, o Tribuzy que a gente produziu agora. E o Aliança Negra. Até porque o Aliança Negra foi a realização de um projeto e deu super certo.

Adam: E foi um evento que não atrasou!

Lameira: E também foi legal ver a correria das pessoas indo de um palco para o outro.

ARISE: E como é que se deu a oportunidade para produzir as seletivas do Wacken e como estão sendo os preparativos?

Adam: A gente já tinha tentado uma vez o contato com a Roadie Crew para a gente fazer seletivas no ano passado, mas não rolou, porque a gente não teve tempo hábil. Esse ano, por causa do contato com a Roadie Crew, a gente conseguiu jogar a idéia. Eles viram que o nosso trabalho é sério. Eles viram que nós poderíamos fazer uma seletiva aqui no Rio de Janeiro. E por que fazer uma seletiva no Rio de Janeiro? Existe uma lei humana e econômica que diz que competição gera desenvolvimento. Isso é uma coisa que os economistas dizem. Eu já acredito que competição aliada a cooperação gera desenvolvimento. Mas o que acontece? Isso faz com que o pessoal do Rio se movimente. Faz com que as bandas corram para preparar demos para mandar para revistas, façam boas fotos para poderem fazer bons releases.

ARISE: Isso movimenta o cenário...

Lameira: Quando perguntamos para as bandas se elas pretendem participar das seletivas, os caras geralmente falam que estão correndo para mandar o material no prazo exigido ou perguntam para a gente se no próximo ano vai ter. Quando a gente diz que provavelmente vai ter de novo, aí eles falam que vão ter demos prontas e quer vão mandar.

ARISE: Vocês sabem se está tendo muito envio de demos de bandas do Rio para a Roadie Crew?

Adam: O Aírton falou que tá grande a resposta.

Continua...

3 comentários:

Anônimo disse...

Que maravilha de entrevista! Esta segunda parte está ainda melhor. Parabéns a Rio Metal Works e ao pessoal do blog ARISE.

Abraços

Anônimo disse...

entrevista dinâmica, esclarecedora e descontraída!! parabéns aos amigos do ARISE!!!

Unknown disse...

realmente essa segunda parte foi bem engraçada!! uhahuauha

geral soltando a franga c Hard!!! eu tb viii!!! uhauhuhauhauha

enfim, entrevista ÓTEMA!!!
e final deixou um gostinho d kero mais safado!!

abçs