terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Classic Album: William Shakespeares’ Hamlet

Na sessão Classic Albums pretende-se homenagear as obras que merecem ser relembradas. Aqueles álbuns que consideramos fundamentais para os ouvintes de Heavy Rock...


Por Wesley Rodrigues

William Shakespeares’ Hamlet é um interessante projeto encabeçado pela Die Hard Records, de 2001. Aqui foram reunidas 14 bandas brasileiras de diferentes estilos (porém com presença maior do power e do melódico) para compor músicas inspiradas no famoso livro. Todas as letras couberam a Adriano Villa. As orquestrações ficaram por conta de maestro José Luiz Ribalta. Fábio Laguna ajudou no teclado e Mario Pastore nos vocais para as vinhetas ao longo do disco. As presenças ilustres são André Matos (que fez umas pontas em uma música de Ribalta) e Sascha Paeth que trabalhou a mixagem. Trata-se, portanto, de não pouca coisa. Um projeto ambicioso e de certa forma representativo do Heavy Metal brazuca.

Sem querer ser muito chato, penso que seria, digamos, mais natural que um álbum conceitual feito por bandas brasileiras partisse de temas nacionais. Existe muita coisa da nossa cultura e da nossa história que tem muito a inspirar. Fala-se de vikings, de cruzadas, de Tolkien e deixa-se intocados temas brasileiros de alto potencial artístico. Mas paremos de reclamar e reconheçamos que o conceito foi muito bem escolhido. A obra Hamlet de Shakespeare é uma entidade para o gênero humano. Particularmente, é minha obra de ficção favorita. As questões que aborda são diversas, universais, ricas e relevantes o bastante para alimentar liricamente um artista pela eternidade.

A faixa de abertura é From Hades to Earth, da banda Delpht. O destaque aqui são os vocais cheios de efeito. Isso alinhado ao bom uso dos teclados ajudou a criar uma atmosfera especial para a música que é uma das melhores (na verdade, a minha preferida) deste trabalho. O disco segue com Sweet Flavour of Justification, uma balada onde o Santarem consegue um bom resultado. Hammer of the Gods executa Visions of the Beyond que é uma música boa, mas sem causar grandes impressões. Depois de mais uma descartável vinheta chegamos ao Krusader que não deixou faltar nenhum clichê do melódico em The King’s Return e não fez feio no seu esforço de seguir todos os passos do Rhapsody. Da pomposidade à selvageria: marcando forte contraste com a faixa anterior, o Nervochaos apresenta sua competente podreira em The Truth Appears e revela que para ouvir William Shakespeare’s Hamlet é necessário boa dose de ecletismo. As bandas Vers’Over e Sagga trazem A Letter to Ophelia e Dagger of Words, respectivamente, mostrando ambas com um power-melódico eficiente. O nível sobe bastante com Imago Mortis em um doom encabeçado pelos ótimos vocais de Alex Vorhees. Em Prayers in the Wind, eles dão uma prévia do que fariam no ano posterior no fundamental disco Vida: The Play of Change. Em Hamlet, o heavy metal melódico vai encontrar sua melhor expressão com o Symbols de Edu Falaschi na bela música Stormy Nights onde o (nem sempre bem-sucedido) vocalista do Angra dá muito bem o seu recado. Um dos destaques do disco. Passada mais uma vinheta, o Hangar de Aquiles Priester não deixa a peteca cair com o seu power meio thrash e depois dá lugar ao death metal bem técnico do vitorioso do Wacken Battle, o Torture Squad, que vai contar sobre o plano do Rei de matar Hamlet. Depois do Fates Prophecy marcar presença com Trap, os católicos do Eterna entram para detonar. Banda de sorte, com dois vocalistas excelentes (hoje não mais), eles emplacam uma ótima música, Goodbye my Dear Ophelia, com uma boa combinação de teclados e peso. A última banda é o Thuata com uma canção que começa levada nos violões e regada à flauta no maior clima “estamos na floresta, vamos dançar em volta da fogueira”, pra depois ganhar a presença de guitarras distorcidas. O Grand Finale é a orquestrada música To Be, que conta com a participação de todas as bandas, cada uma cantando um verso. Idéia interessante mas que não deu muito certo. Nem a presença do sempre excelente André Matos salvou a coisa.

Mesmo com faixas menos expressivas, o resultado alcançado é bem positivo. O disco tem momentos de excelência que o fazem valer, dos quais destaco Delpht, Imago Mortis, Torture Squad e Eterna. Creio que o maior mérito aqui fique mesmo para a Die Hard pela iniciativa corajosa e complicada de reunir essas bandas. Que ninguém deixe de dar uma conferida neste importante registro do heavy nacional.

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