terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Entrevista: Rio Metal Works - Parte I

Fotos e texto introdutório por Wesley Rodrigues

Entrevista feita por Artur Henriques, Carlos Gonçalves, Leonardo Coutinho de Souza e Wesley Rodrigues

Transcrito por Artur Henriques, Fernando Henriques e Wesley Rodrigues


Vários movimentos (culturais, políticos, etc.) são feitos por pessoas que não se deixaram dominar pela inércia e tomaram uma atitude que no mais das vezes envolve coragem e riscos, geralmente fazendo um trabalho desinteressado e regado com algum idealismo. Esse é o caso do pessoal da Rio Metal Works. Seus eventos se tornaram sem dúvida o principal espaço para o Metal dentro do Rio de Janeiro, dando sobrevida à cena local e tendo, inclusive, influenciado a criação do nosso blog. Inaugurando a seção de entrevistas do ARISE!, fomos então conversar com Adam Alfred e Felipe Lameira para saber mais sobre as produções da RMW e sobre o Heavy Metal no Rio de Janeiro.
Essa antológica conversa rendeu nada menos que quatro horas e meia. Por isso essa entrevista será publicada em três partes. O leque de temas que discutimos aqui é bem vasto. Ainda assim, parece que algumas coisas ainda ficaram por ser ditas pelos produtores cariocas seja porque não foram perguntadas por nós, seja pela naturalidade com que um assunto dava lugar a outro deixando as respostas incompletas e enveredando a entrevista por caminhos imprevistos. Talvez seja o caso de termos mais um bate-papo casual de quatro horas e meia (risos).


Da esquerda para direita: Adam Alfred e Felipe Lameira


Arise:Vocês já conheciam o ARISE!, não? O que acham dele?

Adam: Já. O Artur me avisou da abertura do blog e que a Rio Metal Works o havia inspirado. Eu li e gostei bastante. A parte de links lá é enorme e uma vez eu estava precisando de um site e fui procurá-lo lá no Arise!

Arise:Façam um breve histórico do RMW.
Lameira: Eu e o Adam tínhamos uma banda. Nós queríamos tocar Heavy e Power. A nossa influência na época era o Grave Digger, Candlemass, Iced Earth, Celtic Frost. A banda se chamava RADU NEGRU cujo nome veio do Voivode de uma lenda romena, atribuem a ele expulsão dos mongóis da área. A gente, estudando História na época, logo pensou em montar uma banda com esse nome.

Arise: O que cada um tocava?

Lameira: Eu era baixista e virei guitarrista. O Adam era guitarrista e virou vocal. Montada a banda, nós decidimos ver como estava a cena e começamos a freqüentar shows. Fomos no Rato no Rio, Todas as Tribos, Florença, Bar da Rosa, etc.. Vimos então que não havia algo destinado só ao Heavy Metal e é complicado você ter uma banda de Metal e tocar em um festival com seis bandas de Hardcore. O público não te dá uma boa resposta e isso é frustrante. Até que um dia, em uma conversa com o Adam, eu disse: “Cara, se o Rio de Janeiro continuar nesse ritmo, as bandas não vão sobreviver. Tem que surgir um movimento. Um grupo tem que se sacrificar, dar a cara a tapa para levantar a cena. Tem que ser fundada uma organização que trabalhe com eventos, com site, com tudo, porque muita gente não conhece as bandas não porque não querem, mas porque não tem como”. Na Época não havia um lugar de concentração de bandas, como era o Caverna onde as bandas do Underground e do Mainstream do Rio de Janeiro se encontravam. Até o Sepultura tocou lá (aliás, conheço gente que viu o Sepultura tocar Troops of Doom e errar no Caverna).

Adam: O Exodus tocou no Garage. No Caverna, tocaram o Sarcófago, o Chacal, o Dorsal Atlântica e Stress. A geração atual havia perdido contato com a geração antiga. Ela estava sem referencial.

Lameira: Na época que começamos, o Rio de Janeiro havia perdido isso, Muitos diziam que o problema era a falta de bandas de qualidade. Esse não era o problema. A questão é que não havia bons lugares para essas bandas apresentarem seu material. Como é que o cara poderia tocar em um lugar grande com um amplificador de 30 watts? No final dessa conversa que eu e o Adam estávamos tendo ele me disse: “Vamos fazer isso?” Eu disse para ele: “Vai ser foda. Você sabe que a gente vai se fuder pra caralho, né?” O Adam: “Eu sei. E é por isso que eu estou te perguntando se você quer fazer mesmo.”

Adam: Nessa época eu era gerente de uma empresa de cosméticos. Nunca estava no Rio de Janeiro pois estava sempre viajando.

Lameira: E eu estava começando a faculdade de Belas Artes e tranquei.

Adam: (Esse ano terei que trancar a minha faculdade de Pedagogia). Eu então larguei a porra toda. Peguei o dinheiro que tinha guardado e investi tudo. Não tem como ser diferente. Eu lembro de uma vez em que eu estava aqui no Méier e uma garota chegou para mim e disse: “Só tem Heavy Metal no Mackenzie?” O Felipe disse: “Só”. “Mas eu gosto de Grunge” “No Mackenzie, por enquanto, você só vai ouvir Heavy Metal” “Mas o quê que eu faço para produzir um evento de Grunge?” “De dinheiro!” Sem dinheiro, não adianta. Não dá para fazer nada.

Arise: Como se deu a parceria da Rio Metal Works com a Fashion Produções e a Rato no Rio?

Lameira: Nós conhecemos o Marcelo Mendes da Rato no Rio, durante o Metal Jam II em Campo Grande, evento que ele estava produzindo e nós, auxiliando. Ele disse para a gente que queria fazer um evento de Metal na Lona Cultural de Guadalupe e perguntou se a gente queria participar. Nós concordamos e ele logo nos avisou: “Isso é guerra. É pedreira. Às vezes você ganha, às vezes você perde. Vocês têm que saber perder.” Então, nós fizemos nosso primeiro evento juntos que foi o Ride the Beast em 6 de Junho de 2005.

Adam: Foram mais de 300 pessoas, o que para um show de Heavy Metal é bem difícil de acontecer. Esse evento teve algumas coisas engraçadas. Quando nós perguntamos quando é que nós tínhamos que entregar as bandas, o Marcelo disse “Amanhã” “Amanhã, não dá” “Então, depois de amanhã no máximo. E vocês têm que entregar os flyers prontos também”. Trabalhamos desgraçadamente atrás dos contatos com as bandas. Nós tivemos só duas semanas de divulgação. O evento deu mais de 300 pessoas e foi muito legal.

Lameira: Ele [Marcelo Mendes] se surpreendeu. A parceria continuou. Depois nós fizemos o Scream for Metal e o Klash of Titans no Garage.

Arise: Isso foi em 2005?

Lameira: Sim. Em 2005, nós fizemos quatro eventos. Hoje estamos em uma média de um a dois eventos por mês. Foi um início bem difícil. O Klash I foi um fiasco. Tomamos um prejuízo e por isso deixamos de comprar equipamento e fazer muitas outras coisas...

Arise: O que deu errado nesse evento?

Adam: Tudo! Deu tudo errado do momento de fechar com as bandas até a hora de ir embora do evento. No início, parecia um sonho porque era um evento no Garage. Mas deu tudo errado. Era zica, encosto, vudu... essas coisas...

Lameira: Quando a gente foi colocar a faixa na frente do Garage, o Adam escorregou e deu uma joelhada no muro! Você só via a lágrima descendo do olho dele...(risos)

Adam: E eu ainda rasguei a mão na grade.

Lameira: Teve uma outra zica que foi em relação a flyer.

Adam: Eu perguntei ao Marcelinho, “Cadê a flyer?” Quando ele me entregou eu falei, “Que porra é essa, Marcelinho?”. Eu sou um cara que quando eu estou puto, eu falo na cara, sem meias-verdades. Aí eu disse, “Que flyer cor de bunda é essa?” (risos) A flyer deveria ser preta só que estava marrom, mas era um marrom cor de cocô (risos). Aí ele disse que tinha havido um problema. Eu disse: “Que problema? O cara da gráfica estava com diarréia?” Eu nem sabia que o cara da gráfica estava ali perto ouvindo tudo...(risos) A zica não parou por aí. No dia do evento nós fomos para lá cedo para arrumar tudo. O show começaria 21h30 só que os donos da casa só a abriram às 21h.

Lameira: A gente estava desesperado.

Adam: As bandas estavam na porta com os equipamentos. Todos estavam preocupados esperando o portão abrir.

Lameira: Eu tentei entrar no Garage por trás, onde tem um depósito de lambreta. Aí eu entrei naquela porra, estava tudo escuro, parecia uma cena do Silent Hill. Não deu para entrar. (risos).

Adam: Depois que a casa abriu, nós fomos procurar o técnico de som. Eu cheguei para o cara do bar e perguntei pelo técnico de som. Ele secou a mão e falou: “Eu vou lá operar”. Eu disse para o Felipe “Vai dar merda!” Depois de um tempo começou “Ihhnnn rurrrrrrr”... foi meia hora de microfonia ininterrupta.

Lameira: Eu não sou de perder a calma com facilidade mas eu não agüentei. Eu gritei para o cara (que era um velho de 60 anos): “Porra! Desliga essa merda! Você não ta vendo que a microfonia vem do retorno? Desliga o monitor e depois resolve!”

Adam: Depois abrimos a casa para esperar o “imenso” público que apareceu: 80 pessoas (risos)

Lameira: No nosso primeiro evento foram 500 pessoas.

Adam: É verdade. Eu havia dito 300, mas foram 500. No Klash II é que foram 300.

Arise: Vocês pensaram em desistir?

Adam: Não.

Lameira: Não. Eu sabia que não dava para ganhar sempre. Só faz quem se arrisca.

Arise: Na versão anterior do site da Rio Metal Works havia um texto em que se designava a RMW como algo próximo do que poderíamos caracterizar como um movimento. Poderia explicar isso melhor?

Adam: A RMW não é uma empresa, não é um partido, não é uma igreja, ela não é uma produtora. Ela é realmente isso, ela é um movimento. A RMW só tem uma regra dentro dela que “é querer estar nela”.

Lameira: Muita gente chega para mim e diz que quer ajudar. Elas perguntam do que a gente está precisando. Depois que eu digo o que nós estamos precisando, elas dizem: “Não vai dar. Isso dá muito trabalho.”

Adam: Então, meu irmão, vai para a casa tomar leite-com-pêra e “ovomaltino” (risos). A gente já passou tanta merda com tiro, com assalto, indo para lugares que não sabemos, lugares dos quais não pudemos voltar e tivemos que ficar na rua e o cara não quer fazer isso [faz gesto indicando pouco] pela RMW!? O cara diz que quer ajudar mas depois não aparece, não participa das reuniões. Eu nunca vou perguntar para você se você quer entrar para a RMW. Se você quiser fazer parte, tem que fazer alguma coisa.

Lameira: Quando nós montamos a RMW, nós pensamos em fazê-la funcionar de modo institucional, com hierarquia (presidente, diretores). Mas não deu certo.

Arise: Como uma produtora convencional?

Lameira: Isso. Mas como eu disse, não deu certo. Depois o Adam veio com a idéia de a RMW funcionar como se fosse uma célula terrorista.

Adam: Isso é técnica atual de gerência. Como eu era gerente eu sabia disso, porque minha empresa trabalhava assim.

Lameira: A idéia é simples. Você é membro. Você atua de forma independente mas guiado por uma ideologia. Você não é cobrado coisas como horários e nenhuma pessoa fica dizendo como você tem que fazer. Até porque nós não temos como cobrar.

Arise: Mas já que a RMW está crescendo e se envolvendo com projetos cada vez mais ambiciosos, essa institucionalização não será necessária?

Lameira: Ela caminha para esse processo mas ela não será hierarquizada. Esse é o molde atual das empresas de sucesso. A Google trabalha assim.

Adam: Será uma institucionalização só no papel.

Lameira: A institucionalização só acontece porque nós temos que cumprir alguns trâmites legais. Mas isso não quer dizer que eu terei um “funcionário” trabalhando sob horário fixo, ou que eu diga para ele “Se faltar, será despedido”. Não há relação opressora. Algumas pessoas se referem a mim como patrão. Patrão é o cacete! (risos)

Arise: Talvez esse seja um dos motivos do sucesso.

Lameira: Com certeza. Assim, o “funcionário” acaba tendo uma ideologia com o objetivo da RMW. O objetivo da RMW não é ter lucro. O objetivo é melhorar o cenário. O cenário já melhorou. O nosso objetivo agora é consolidar. É a parte mais difícil do trabalho porque criar uma coisa é fácil e maravilhoso, manter é que é o problema porque é cansativo. Crescer é maravilhoso, mas manter é monótono. O que mantêm o público ativo preso são as novidades. Não adianta eu querer trazer sempre as mesmas coisas. Eu vou trazer o Tuatha de Danann setenta vezes ao Rio? Por isso que a cena da Europa funciona. As dimensões da Europa são para o Brasil dimensão de Estado. É como se o Rio de Janeiro fosse a Finlândia e São Paulo a Suécia. Vocês já viram quantas bandas esses países têm? Rio e S.Paulo têm a mesma capacidade mas esbarra na questão de capital. O poderio econômico da Europa é maior.

Adam: Como estávamos falando, a RMW só tem uma regra: é querer estar nela. Se você chega e diz que pode fazer isso, então você faz. É o que aconteceu com a Elen. Ela disse que sabia cuidar do Fotolog. E é o que ela faz até hoje.

Lameira: Ela não é cobrada. Nossas reuniões com ela são só para dizer que ela faz o trabalho dela muito bem.

Arise: Vocês já tiveram problemas com esse tipo de coisa?

Lameira: Sim. Algumas pessoas não honraram o compromisso que assumiram com a gente. Amigos nossos fizeram isso, mas continuam sendo nossos amigos, Mas não trabalham mais na RMW.
Adam: A pessoa tem que querer estar. Se a pessoa não comparece às reuniões, não responde os e-mails. Ela sabe o que tem que fazer e não faz. Eu não vou ficar enchendo o saco dessa pessoa. Se ela quer, quer. Se não quer, ela segue o rumo dela e eu sigo o meu.





Arise: Uma das coisas mais notáveis é o preço dos ingressos que vocês cobram, que vai de R$6 a R$12 na maioria dos shows, ou seja, relativamente barato. Isso é ainda mais impressionante porque vocês oferecem boa qualidade de som e iluminação. Comentem sobre isso.

Lameira: A qualidade é uma preocupação que a gente tem. Quando nós começamos eu me perguntava: “Underground é sinônimo de merda?” “Será que tem que ser assim?” Algumas coisas são complicadas. Cada gênero de som tem uma necessidade diferente para equipamento. Para que eu vou dar um Marshall JCM 900 para uma banda punk?(Nota: Esse tipo de amplificador é o padrão internacional de bandas mainstream)

Arise: Todos os equipamentos são alugados?

Adam: Sim.

Lameira: Os equipamentos que nós utilizamos são o padrão utilizado na Europa. São amplificadores chamados Fullstack de 200 watts. Vector III da Meteoro e o Laney GH100 que é o que o Satriani usa. O Marshall JCM900, que é o que o Slayer, o Exodus e o Motorhead usam. E por quê? Porque são bandas de Metal. O cara tem uma banda, ensaia e treina bastante. É uma questão de respeito oferecer a ele um bom equipamento. É claro que às vezes nós trabalhamos com bandas que não merecem esse equipamento. Mas na maioria das vezes, elas merecem. Então, nada mais justo. Quanto ao preço dos ingressos, nós não podemos fazer show de banda underground com banda iniciante e cobrar R$20,00. É uma questão de poder aquisitivo Se nós fizéssemos isso, teríamos um retorno financeiro maior e poderíamos investir esse dinheiro de forma melhor. Dessa forma, nós poderíamos até viver de Heavy Metal.

Adam: Mas por que você colocaria o ingresso a R$20,00? Para trinta pessoas? Isso não existe.

Lameira: O cenário ficaria menor e nós não teríamos atingido o nosso objetivo. Cobrando o ingresso barato nós ganhamos pouco mais colocamos uma banda para tocar para 500 pessoas. O nosso maior público até hoje foi o Tuatha, 750 pessoas.

Arise : E a média de público?

Lameira: 350 é a média do Mackenzie. Nós fazemos uma coisa que eu sou contra, mas que infelizmente nós temos que fazer que são os eventos cover, que nós chamamos de tributo (Acho que cover é uma coisa e tributo é outra. Isso porque na minha concepção cover é quando você pretende imitar uma banda.) Infelizmente, cover é o que dá mais retorno [do que as bandas autorais].
O público do Mackenzie - respondendo a sua pergunta - é um público com mais de vinte anos de idade, é um público que sabe o que quer. O cara vai para os shows não para pegar mulher - quer dizer, ela vai para isso também, mas não é a prioridade. A prioridade é ir lá para assistir o show. São as bandas que dizem isso para gente: “Cara, quando a gente toca no Mackenzie, as pessoas grudam no palco e prestam a atenção no que a gente está tocando. Eu não sinto isso nos outros eventos” Os caras vão lá, prestam atenção nas músicas autorais e ficam comentando sobre as bandas, fazendo críticas...

Arise: Só não vale a crítica gratuita...

Lameira: A gente é contra isso. Na comunidade da RMW nós barramos esse tipo de coisa. Tem muito cara que critica mas é só por criticar. Isso não é crítica, é fanfarronice. Já houve também críticas ao nosso trabalho. Por exemplo, disseram que por causa de problemas técnicos que tivemos no primeiro show do Tuatha, o Rio de Janeiro deveria “sentir vergonha” porque isso foi um desrespeito com a banda. Mas o engraçado é que o público adorou o show. Nós chegamos para os caras da banda muito preocupados para saber se o som havia atrapalhado e o Bruno Maia, o vocalista, e ele disse para gente: “O show foi maravilhoso. Quando nós podemos voltar?”

Adam: E o Airton, da Roadie Crew, que é empresário da banda nos falou: “Vocês estão de parabéns. Eu sou fã de vocês agora. Não sabia que o Rio de Janeiro tinha um trabalho tão bom quanto esse”

Arise: Mas sempre tem um espírito de porco, não é?

Adam: Sempre tem. Eu cheguei à conclusão de que o Rio de Janeiro é um chiqueiro. Se você conversa com pessoas do Espírito Santo, você vai ver gente dando apoio à cena: “O show estava bom. Teve problema? Teve. Mas estamos juntos aí na guerra.” Aqui no Rio de Janeiro, o cara erra uma nota, uma luz apaga, e já criticam.

Lameira: O show do Tuatha foi tão bom que eles ficaram em cima da gente perguntando quando iam tocar de novo aqui. Problemas acontecem. No Live and Louder, o Primal Fear teve que parar de tocar com problemas no som.

Adam: Esse tipo de coisa acontece mesmo. Se acontece no Mainstream, por que não vai acontecer no underground?.

Lameira: Nós temos consciência de que temos que melhorar. Porém existem falhas que não há como suplantar. Uma produção não pode ser julgada pelas falhas que tem. Mas pela sua capacidade em resolver. E aquele problema nós resolvemos.
Aquele show do Tuatha foi difícil porque eram muitos instrumentos.

Adam: É muito bonito mas dá um trabalho!.
O Tuatha foi fazer um show em São Gonçalo [cidade do Estado do Rio] uma vez e não tocaram porque o produtor esqueceu de alugar o som. (risos)
Outra vez em Goiânia a prefeitura fechou a casa. Então, eles foram tocar acústico na praça. Se você for na comunidade de Goiânia, você verá alguém falando que o que aconteceu foi um desrespeito? Pelo contrário, falaram que foi lindo.

Lameira: Isso faz você respeitar a banda porque se fosse outra se recusaria a tocar na praça.

Arise: Já aconteceu de uma banda dizer que vocês a desrespeitaram?

Adam: Já...

Arise: Vocês já sofreram com estrelismo?

Adam: Já, várias vezes...

Arise: E junto com isso, já teve bandas que esnobaram a RMW?

Adam: Já.

Arise: Como essa aqui? [Aponta para o logo do Angra] (risos)

Lameira: Por sinal, o Edu Falaschi é excelente pessoa. É humilde.

Adam: Falam horrores dele mas é tudo mentira.

Lameira: Depois do show, passei a respeitá-lo também como músico. Ele mandou muito bem. Nós conversamos com ele e vimos que ele era uma pessoa consciente com o cenário.

Adam: Nós estávamos preocupados em recebê-lo. Afinal, era o Edu Falaschi do Angra. Então, eu cheguei para ele e falei: “Nós gostaríamos da sua compreensão porque isso é um evento underground. Não é nada daquilo com que você está acostumado.” Ele então me disse: “Olha, isso aqui está muito bom. Isso aqui dá de dez a zero em muito mainstream de São Paulo”. Ele é uma pessoa ótima, maravilhosa. Não tivemos um problema com ele. Ele cantou para caralho no show do Thorn. As pessoas falam que ele canta mal, mas é mentira. Não tinha nada no microfone, não tinha playback, não tinha nada. As pessoas inventam que tinha efeito mas não tinha efeito nenhum. Era microfone, mesa e volume.
Deixa eu contar uma outra história. Um cara de uma banda chegou para mim e falou que queria uma ajuda. Eu disse que tudo bem, que poderia divulgar no site e que os poria para tocar no Mackenzie. Aí eles disseram: “No Mackenzie não porque nós não queremos tocar em lugar pequeno. Nós queremos tocar em lugares grandes porque a pretensão do nosso trabalho é algo maior, é outro nível.” (risos)

Arise: Tocar em lugar melhor que o Mackenzie, aqui no Rio, é difícil.

Adam: Tanto é que meses depois eles queriam tocar no Mackenzie com a gente.. No dia que eles foram tocar, atrasaram muito e nós tivemos que cortar parte do tempo do show deles. Nós temos que cortar porque nós temos hora para entregar a casa.

Lameira: Isso é acordado com a banda em reunião.

Adam: Aí veja: o cara atrasa pra caralho, faz merda, fuma maconha no camarim...Fumar maconha é algo que eu ojerizo no meu evento porque a violência do nosso estado e a do país está essa merda porque vagabundos fumam essas porras que financiam as armas que darão tiro na sua cabeça. Pagam a bala que mata o cidadão de bem. E aí dizem que a droga não financia...Então eles tiram dinheiro de onde? Do cú?

Lameira: Antes do show nós perguntamos se alguém da banda consome algum tipo de narcótico. Aí disseram: “Fulano gosta de um baseadinho.” Então nós dizemos que ele deve fazer isso fora das dependências do clube. Dentro do evento, ele não pode fazer isso. É que eu sou o produtor do evento e se tiver algum problema sou eu quem será cobrado.

Adam: O próprio público do evento, quando vê que alguém vai acender um baseado, fala que não pode.

Arise:Você já viu isso acontecer?

Adam: Já. Cansei de ver. As pessoas quererem fumar e o público dizer “Aqui não”. O próprio público tem consciência. É legal ver que o próprio público tem respeito pelo espaço e sabe qual é a nossa proposta. Sinceramente, eu sou a favor da legalização de todo e qualquer tipo de droga. Porque se o cara quer se fuder, que vá se fuder sozinho. O legal disso tudo é que a legalização gera emprego e renda para o país.

Lameira: Você muda o problema: deixa de ser criminal e vira de saúde pública.

Adam: O maneiro é que quem é usuário vai ter a certificação de qualidade e não vai fumar merda de vaca. Sou a favor do casamento gay (mas não sou gay) (risos); sou a favor do aborto porém não sou assassino. Sou a favor da legalização da porra toda menos de...deixa para lá.(risos).

Arise: Fala aí

Adam: Não vou falar não porque é falta de ética.

Arise: Como é o trabalho de divulgação de vocês?

Adam: Eu sou paranóico com isso. Quando eu cheguei para vocês aqui eu já trouxe os flyers. A divulgação é a alma do negócio. Quando falam para mim “cinco mil flyers”, eu falo “cinco não, dez mil”. E às vezes o espaço é curto, mas mesmo assim nós fazemos. Dizem que a gente é maluco. É como o Marcelinho fala: “As pessoas podem não ir, mas tem que saber que o evento existe.” E por quê isso? Porque o cara pode não ir, mas ele tem um amigo cabeludo que diz: “Você gosta de uns rock nervoso, né? De uns “Iron Meidion”, né? (risos) Tem uns eventos rolando lá no Méier, sabia?” É óbvio que nós só podemos fazer aquilo para o qual nós temos dinheiro. Não adianta querermos colocar um comercial de trinta minutos na televisão.

Arise: Já vimos o Jornal do Brasil publicar eventos da RMW.

Adam: Eles não colocam sempre. Eles colocam quando tem vontade. Até porque nós não temos dinheiro para por um comercial no jornal. Mas todo tipo de divulgação possível a gente faz.

Lameira: Nós ficamos felizes porque os produtores de música independente do Rio de Janeiro conhecem o nosso trabalho. Quando eles nos conhecem, eles dizem: “Então são vocês que produzem os eventos de Heavy Metal do Mackenzie?”

Adam: Eles conhecem e elogiam o nosso trabalho. São pessoas de Jazz, de Blues, de Samba, de Pagode, de Música Eletrônica...
Continua...

11 comentários:

Anônimo disse...

Essa entrevista está excelente. Parabéns a todos!

Anônimo disse...

Ficou ótima a entrevista. No aguardo da continuação.

Carol disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carol disse...

MUITO BOM....... PARABENS AO ARISE!!!,,,,E APOSTO Q SEI QM FEZ A PIADINHA DO ANGRA!!HAHAHAHAHA......

Anônimo disse...

Ótima entrevista! Confesso que fiquei emocionado, pois estive presente no início da RMW, toquei no primeiro evento organizado por eles, travei batalha contra as dezenas de baratas no camarim do Garage no Klash I, e até hoje minha banda é convidada para os melhores eventos de metal da cidade! Parabéns a todos :-)

Anônimo disse...

A galera da Rio Metal Works é foda mesmo =) Ótima entrevista!

Rê Chiossi disse...

O Blog é maravilhoo, e essa entrevista foi excelente, muito esclarecedora!! Vcs estão de parabéns!!!

Anônimo disse...

Excelente entrevista! ;)

Esses rapazes são fodas demais...
mas eu sou suspeita para falar. HeHe

Estamos juntos na guerra! \o/

Unknown disse...

Entrevista MARAVILHOSA!!!
Cheia de conteúdo e esclarecimento! Mto bom msmo!!

(Y)

Anônimo disse...

bacana, mais q merecido até uma entrevista com eles, já q fazem tanto pelo som pesado carioca..o marcelo e emilson merecem figura aí tb :-)

abrax e bacana o blog



carlinhos

Anônimo disse...

Fiquei mais fã ainda do trabalho desses caras depois de ler a entrevista!!!

Muito bom, é de gente assim que a gente precisa!!!

Leon Manssur / Apokalyptic Raids