Metal - Uma Jornada pelo Mundo do Heavy Metal
(nome original - Metal: A Headbanger's Journey)
Diretores: Sam Dunn, Scot McFadyen e Jessica Joy Wise
(nome original - Metal: A Headbanger's Journey)
Diretores: Sam Dunn, Scot McFadyen e Jessica Joy Wise
Distribuição: Warner Home Video / Europa Filmes (no Brasil)
Por Artur Henriques e Wesley Rodrigues
O Arise! não tem como única atividade resenhas de álbuns e divulgação de notícias, apesar de essas serem as únicas coisas que temos feito. Na verdade, a proposta desse blog é abordar o Heavy Metal (e estilos próximos) de diversas maneiras e a partir de qualquer coisa. Assim, o filme Metal- Uma Jornada pelo Mundo do Heavy Metal é um excelente tema para discutirmos aqui.
A idéia do autor Sam Dunn é a seguinte: ele pretende entender porque o Heavy Metal é um estilo tão incompreendido, repudiado, etc. Para isso ele percorre os EUA e a Europa conversando com alguns dos maiores nomes do Metal, além de alguns acadêmicos e outras pessoas envolvidas de alguma forma. Também será de contribuição para sua empreitada o fato de ser um grande fã do estilo e a sua formação em antropologia.
Esse quadro gerou uma expectativa que acabou frustrada. Esperávamos mais de um antropólogo. Dunn acaba tratando temas interessantíssimos de forma rasa, trazendo muitas informações mas sem grandes reflexões, optando por uma “descrição densa” e uma interpretação superficial dos dados que ele possui. O filme não vai trazer muita coisa diferente para quem já conhece o estilo. Metal – Uma Jornada pelo Mundo do Heavy Metal tem cara de programa do Globo Repórter, só que feito por um Headbanger comum. Comum porque o fato de ter sido formado em Antropologia não fez a mínima diferença. Sam Dunn deve ter passado o seu tempo de faculdade mais ouvindo música do que lendo bons livros. Quem vai tirar maior proveito desse filme são as pessoas que não conhecem o ethos do Metal. Para quem já está por dentro, o filme não será nenhuma perda de tempo mas o impacto, menor.
Entre os temas abordados, está a perseguição ao Metal (e ao Rock) nos EUA. O foco maior está no episódio em que Dee Snider (do Twisted Sister) apresenta uma defesa às autoridades. O que essa parte tem a dizer é que o Metal (e o rock) é perseguido gratuitamente, e que, nas palavras de Dunn, é um estilo “inofensivo”. O ponto fraco aqui está em não abordar apropriadamente e problematizar o enorme impacto que a música exerce (tanto para o bem quanto para o mal) sobre o comportamento e a formação da identidade dos ouvintes. Não se trata de se fazer uma abordagem maniqueísta da coisa (isso seria ridículo), mas sim abordar o tema em sua complexidade e em seus diferentes aspectos. Dunn preferiu o caminho da apologia.
Esse caminho está mais nítido quando ele fala do Glam. Ele vai mostrando aqueles caras com batons, roupas de mulher e afins só para dizer no final que aquilo tudo era, na verdade e apesar das aparências, expressão de heterossexualidade. Com certeza, tinha coisa mais interessante para falar do que isso. Como por exemplo, o nível de tolerância (ou intolerância) dentro da cena para artistas assumidamente homossexuais.
Mas o Dunn não é nenhum guardião da macheza. Um dos maiores trunfos do filme foi tratar do fato de haverem mais homens dentro do estilo, e mostrar que muito felizmente existem mulheres fazendo Metal (as entrevistadas foram Angela Gossow, Doro e duas integrantes da banda Girlschool). Foram muito maneiros também os depoimentos de uma groupie e do Lemmy: um soco na cara do machismo.
Impossível não falar de satanismo em um documentário sobre Metal. Mas se eu fosse um fã ardoroso de Black Metal eu teria ficado até bastante ofendido pela forma superficial como Dunn aborda essa questão.
Primeiramente, ele trata de duas bandas específicas: Venom e Slayer. A maneira como o Dunn trata o assunto dá a entender que essas bandas fazem apologia a Satã em suas letras muito mais por uma questão estética e, porque não dizer, mercadológica (é o que parece quando Tom Araya diz com todas as letras que é católico e que canta coisas como God Hate Us All apenas por achar isso interessante).
Depois Dunn parte em busca do que ele considera os verdadeiros satanistas da cena Metal: as bandas de Black Metal Norueguês. É a parte mais engraçada do filme. Foi engraçada para nós, mas alguém poderia ficar triste ao ver o grau de imbecilidade que um ser humano pode atingir. A passagem mais patética é protagonizada por um integrante do Gorgoroth (Gaahl): a postura “classuda” e séria que ele quer transmitir cai em um poço de ridicularidade tão grande que chega a dar pena. Sobre o assunto, Alice Cooper fala umas coisas muito certas e com muito humor: “o que há no Black Metal é uma caricatura de satanismo”.
Isso faz com que quem não conheça a cena possa pensar que a cena Black Metal vive apenas desses dois pólos: de um lado um grupo que fala do diabo apenas para chamar atenção, e de outro radicais intolerantes que incendeiam igrejas.
Também devemos levar em conta que o assunto da questão religiosa dentro da cena Heavy Metal fica incompleta pois Dunn não se preocupa em ir atrás de qualquer depoimento de alguma banda de White Metal ou de um fã desse gênero. Mas pelo menos o diretor faz a gentileza de desmistificar a relação entre o grupo que é considerado fundador do gênero Heavy Metal (o Black Sabbath) com o satanismo.
Sem querermos ser muito chatos e criticar demais, não podemos deixar de notar a classificação de bandas em estilos que Sam Dunn faz. Rainbow e Judas Priest como Power Metal e Mercyful Fate como Black Metal são no mínimo questionáveis.
Por Artur Henriques e Wesley Rodrigues
O Arise! não tem como única atividade resenhas de álbuns e divulgação de notícias, apesar de essas serem as únicas coisas que temos feito. Na verdade, a proposta desse blog é abordar o Heavy Metal (e estilos próximos) de diversas maneiras e a partir de qualquer coisa. Assim, o filme Metal- Uma Jornada pelo Mundo do Heavy Metal é um excelente tema para discutirmos aqui.
A idéia do autor Sam Dunn é a seguinte: ele pretende entender porque o Heavy Metal é um estilo tão incompreendido, repudiado, etc. Para isso ele percorre os EUA e a Europa conversando com alguns dos maiores nomes do Metal, além de alguns acadêmicos e outras pessoas envolvidas de alguma forma. Também será de contribuição para sua empreitada o fato de ser um grande fã do estilo e a sua formação em antropologia.
Esse quadro gerou uma expectativa que acabou frustrada. Esperávamos mais de um antropólogo. Dunn acaba tratando temas interessantíssimos de forma rasa, trazendo muitas informações mas sem grandes reflexões, optando por uma “descrição densa” e uma interpretação superficial dos dados que ele possui. O filme não vai trazer muita coisa diferente para quem já conhece o estilo. Metal – Uma Jornada pelo Mundo do Heavy Metal tem cara de programa do Globo Repórter, só que feito por um Headbanger comum. Comum porque o fato de ter sido formado em Antropologia não fez a mínima diferença. Sam Dunn deve ter passado o seu tempo de faculdade mais ouvindo música do que lendo bons livros. Quem vai tirar maior proveito desse filme são as pessoas que não conhecem o ethos do Metal. Para quem já está por dentro, o filme não será nenhuma perda de tempo mas o impacto, menor.
Entre os temas abordados, está a perseguição ao Metal (e ao Rock) nos EUA. O foco maior está no episódio em que Dee Snider (do Twisted Sister) apresenta uma defesa às autoridades. O que essa parte tem a dizer é que o Metal (e o rock) é perseguido gratuitamente, e que, nas palavras de Dunn, é um estilo “inofensivo”. O ponto fraco aqui está em não abordar apropriadamente e problematizar o enorme impacto que a música exerce (tanto para o bem quanto para o mal) sobre o comportamento e a formação da identidade dos ouvintes. Não se trata de se fazer uma abordagem maniqueísta da coisa (isso seria ridículo), mas sim abordar o tema em sua complexidade e em seus diferentes aspectos. Dunn preferiu o caminho da apologia.
Esse caminho está mais nítido quando ele fala do Glam. Ele vai mostrando aqueles caras com batons, roupas de mulher e afins só para dizer no final que aquilo tudo era, na verdade e apesar das aparências, expressão de heterossexualidade. Com certeza, tinha coisa mais interessante para falar do que isso. Como por exemplo, o nível de tolerância (ou intolerância) dentro da cena para artistas assumidamente homossexuais.
Mas o Dunn não é nenhum guardião da macheza. Um dos maiores trunfos do filme foi tratar do fato de haverem mais homens dentro do estilo, e mostrar que muito felizmente existem mulheres fazendo Metal (as entrevistadas foram Angela Gossow, Doro e duas integrantes da banda Girlschool). Foram muito maneiros também os depoimentos de uma groupie e do Lemmy: um soco na cara do machismo.
Impossível não falar de satanismo em um documentário sobre Metal. Mas se eu fosse um fã ardoroso de Black Metal eu teria ficado até bastante ofendido pela forma superficial como Dunn aborda essa questão.
Primeiramente, ele trata de duas bandas específicas: Venom e Slayer. A maneira como o Dunn trata o assunto dá a entender que essas bandas fazem apologia a Satã em suas letras muito mais por uma questão estética e, porque não dizer, mercadológica (é o que parece quando Tom Araya diz com todas as letras que é católico e que canta coisas como God Hate Us All apenas por achar isso interessante).
Depois Dunn parte em busca do que ele considera os verdadeiros satanistas da cena Metal: as bandas de Black Metal Norueguês. É a parte mais engraçada do filme. Foi engraçada para nós, mas alguém poderia ficar triste ao ver o grau de imbecilidade que um ser humano pode atingir. A passagem mais patética é protagonizada por um integrante do Gorgoroth (Gaahl): a postura “classuda” e séria que ele quer transmitir cai em um poço de ridicularidade tão grande que chega a dar pena. Sobre o assunto, Alice Cooper fala umas coisas muito certas e com muito humor: “o que há no Black Metal é uma caricatura de satanismo”.
Isso faz com que quem não conheça a cena possa pensar que a cena Black Metal vive apenas desses dois pólos: de um lado um grupo que fala do diabo apenas para chamar atenção, e de outro radicais intolerantes que incendeiam igrejas.
Também devemos levar em conta que o assunto da questão religiosa dentro da cena Heavy Metal fica incompleta pois Dunn não se preocupa em ir atrás de qualquer depoimento de alguma banda de White Metal ou de um fã desse gênero. Mas pelo menos o diretor faz a gentileza de desmistificar a relação entre o grupo que é considerado fundador do gênero Heavy Metal (o Black Sabbath) com o satanismo.
Sem querermos ser muito chatos e criticar demais, não podemos deixar de notar a classificação de bandas em estilos que Sam Dunn faz. Rainbow e Judas Priest como Power Metal e Mercyful Fate como Black Metal são no mínimo questionáveis.
Mas não queremos desestimular ninguém a assisti-lo. O filme é muito divertido. O Dio zuando o Gene Simmons, os caras do Mayhem bêbados e falando besteira, por exemplo, são impagáveis. O grande problema do filme é que ele não é o que se propõe a ser: Dunn é tão antropólogo quanto um tamanduá, acaba confundindo a si próprio com o objeto que quer analisar, e não traz nenhuma resposta relevante. Sua intenção o tempo todo é de valorizar e justificar o Heavy Metal. Até aí tudo bem, o problema é que ele faz isso de forma chula, abordando tudo de forma superficial. De qualquer forma, só o fato de termos um filme sobre Metal no circuito já é bem positivo. É também uma boa oportunidade para pensarmos na nossa relação com o Heavy Metal, o quanto e como nos identificamos com ele e como afeta nossa personalidade.
Um comentário:
Sua crítica ao filme realmente teve seus pontos certos, mas tambem teve seus pontos contra. Foi Sam Dunn ter iniciado, pelo menos, uma filme que abordasse esse tema. Foi muito boa as entrevistas e a visita dele ao Wacken Open Air. O que foi mais significante nesse filme-documentário, foi que por mais que a cena seje mal vista por terceiros, ela é enorme, em exemplo disse eh o Wacken, o mais importante festival de heavy metal, mostrando milhões de fanáticos por heavy metal juntos de vários cantos do mundo. Realmente foi rídiculo a entrevista com Gorgoroth, acho que depois dessa, tive apenas crise de riso e desprezo pela banda, mas confesso que a ideologia deles tem a ver, por exemplo, não é porque eles querem incendiar tudo, mas eles tem um motivo cultural atrás disso, o que isso, de fato, não pode acontecer aqui no Brasil, ja que a religião é predominante e tal reação dos Brasileiros seria incompreensível já que foi aceito a religião aqui.
Slayer sempre falou que não eram verdadeiramente satanicos, mas cantavam sbre o tema, e ainda disseram que os seus fãs não precisam fazer tais rituais para apreciarem ou para axarem que são apreciadores do som deles. Eles sempre brincaram com essa imagem.
O filme foi mto bom, espero que o segundo venha ainda melhor e que passe em mais telas de cinema, por que o que foi ridículo foi os cinemas que passaram o filme, aqui no Rio, ficou em cartaz apenas duas semanas e em apenas duas salas, em TODO o Rio... Isso é que não pode acontecer.
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