Texto por Wesley Rodrigues
Fotos por Jacqueline Natividade
Pela primeira vez no Rio de Janeiro desde sua última turnê com o Shaman, no começo de 2006 se não me engano, André Matos deu as caras de novo no dia 20 de dezembro pra apresentar pela primeira vez aos cariocas o seu trabalho solo, Time to Be Free (2007). O público teve boa presença no Canecão, talvez causada pela expectativa que a ausência do ídolo criou, o que foi o meu caso. Por volta das 23h estava ele no palco. Roupa de gala, chapinha no cabelo, carisma transbordando e vamos lá!
Histeria não é termo exagerado para descrever a reação da platéia à introdução de Letting Go, que abriu o show. As músicas novas já estavam na ponta da língua da galera que estava com uma animação um tanto fora do comum. Durante todo o evento, a participação maciça do público trouxe emoção extra.
Em seguida veio Rio, composta em homenagem à cidade, muito bem recebida também. Depois Looking Back para fechar essa primeira parte de canções novas. Time to Be Free talvez seja o trabalho menos expressivo da discografia de André Matos. Não que as músicas não sejam de qualidade, coisa que seria facilmente contestada por quem estivesse no Canecão para ver o quão bem elas funcionam ao vivo. São bem arranjadas e tocantes em sua grande maioria. Contudo, ele não segue a excelência que é de práxis nos trabalhos desse bom moço. As composições não tem a inteligência da época do Angra, banda que se reinventava continuamente. Nem a pegada do Shaman, que soube ser pesado e melódico, com músicas bem trabalhadas, porém diretas. Ainda que seja um tanto tosco afirmar que Time to Be Free é um trabalho sem criatividade, como se André Matos estivesse se enchafurdando em clichês, é fato que falta algo ali.
Então, que nada seja tão bem-vindo quanto um retorno ao passado (e como eles são essenciais no Heavy Metal!). Distant Thundher me fez ter vontade de que todo o resto do show fosse de músicas do álbum Ritual. Angels Cry, recebida com emoção tal que fez muitos fecharem os olhos fazerem caretas, foi cantada tão fortemente que eu saí de onde estava para que pudesse ouvir mais o André do que os desafinados perto de mim.
De uma forma geral, a banda estava muito bem tocando com empenho e garra. O som é que teve algumas baixas: a guitarra de Hernadez às vezes era baixa demais, assim como o microfone de André Matos em um ou outro momento. Nada que atrapalhasse o espetáculo, porém. O garoto Eloy Casagrande, de apenas 11 anos (rs), mandou muito bem na bateria, assim como os guitarristas Hugo Mariutti e André Hernadez (que se parece muito com o James Labrie), o baixista Luís Mariutti e o tecladista Fabio Ribeiro. Ainda assim, deve ser dito, se é que não é demais fazer mais uma digressão nesta resenha, que André Matos merecia melhores guitarristas. O Mariutti é foda, desce a mão e tem boa presença de palco, mas não tem um leque técnico amplo. Hernandez...bom, tá lá, toca bem e tudo mas está longe de ser alguém que impulsionaria criativamente André Matos. E pensar que um dia ele teve Rafael Bittencourt e Kiko Loureiro ao seu lado. Enquanto eles não voltam (e com certeza eles voltam, pode escrever aí), André devia ficar bem atento para recrutar alguém com mais personalidade e feeling.
Direto dos anos 80, veio Living for the Night e A Cry from the Edge. As canções da época do Viper ainda são desconhecidas de boa parte do público, infelizmente, porque foi muito gostoso cantar a parte lenta da primeira delas. Particularmente, foi o momento mais emocionante do show. E que riff o de A Cry from the Edge!
E toma-lhe Separate Ways, cover do glorioso Journey. André trouxe de trás do palco Nando Fernandes para ajudá-lo a cantar esta música, de um modo totalmente improvisado, com um apontado para o outro as partes que deviam cantar. O contraste gritante entre os dois (esse Nando é animal) fez lembrar que André não anda abusando da sua voz. Em Nothing to Say, isso fica mais patente: ele não ia até onde a música pedia (ou permitia). Mas que nada mais arranhe sua reputação como vocalista.
Menção importante é a de que em conversa com a platéia, André falou das dificuldades de realização desta turnê com Hangar (batizada cretinamente de Metal Christmas, diga-se de passagem), causadas pela discriminação e preconceito que se tem contra o Heavy Metal. Ainda que ao falar isso ele também tenha sido preconceituoso (disse que um público de pagode não se comporta da mesma forma, trazendo confusão), a mensagem foi válida porque o Heavy Metal é fortemente lesado pela imagem torta que se tem dele por aí.
Das antigas ainda teve Lisbon, Fairy Tale (que foi um momento intenso) e a sempre exigida Carry On. Das novas, How Long e Endeavour, essa última escolhida para fechar o show, o que aconteceu de forma linda, ainda que a música não seja nada espetacular: com todos deixando o palco gradualmente ao terminarem suas partes, até que só ficou André nos teclados tocando uma bela melodia.
O set-list poderia conter uma ou duas músicas a menos do novo disco, e a inclusão da faixa-título “Time to Be Free”, a melhor daquele disco. Mas falta maior é a ausência total do Virgo, o “Queen moderno”, um capítulo da discografia que jamais deve ser esquecido.
Em suma, uma noite marcante cujo protagonismo foi disputado fortemente entre o público e o próprio André.
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