sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Classic Album: Mago de OZ – Jesús de Chamberí

Na sessão Classic Albums pretende-se homenagear as obras que merecem ser relembradas. Aqueles álbuns que consideramos fundamentais para os ouvintes de Heavy Rock...



Por Wesley Rodrigues

Difícil entender porque não tem tantos fãs de Mago de Oz por aqui. A explicação que primeiro salta à vista e a única que parece existir é o fato de eles cantarem em espanhol. Enquanto a gente parece impor essa barreira ridícula e permanecemos sem ter no mínimo uma distribuidora nacional para os caras, eles fazem shows para 15 mil pessoas no Chile e colecionam discos de platina, ouro e não sei mais o quê no resto da América Latina.

Jesús de Chamberí é o segundo trabalho deles, de 1996. Não há dúvida de que o rótulo mais apropriado é o de folk metal, encharcados que estão da música dita celta, como nas músicas El Cuco e la Zingara, El Jiga Irlandesa e Czardas, que depois de um clima mais soturno, é um convite à dança. Mas as fontes em que eles bebem são diversas, deixando o disco com cara de salada, ainda que coerente. Os tecladinhos Jerry Lee Lewis de El Anjo Caído e o uso de metais em Domingo de Gramos, por exemplo, além de dar um toque extra de fanfarronice (essa coisa que é intrínseca a tantas bandas de folk), enriquecem bastante o disco em termos de sonoridade, o deixam bem variado e mais delirante.

O uso dos violinos e a presença de outros estilos não conseguem tirar os dois pés da banda do tradicionalismo. Aqui não há apelo ao melódico, coisa que vai aparecer mais pra frente em outros trabalhos. Tem Deep Purple, Saxon, Dio e guitarras para nenhum fã de Smith e Murray, Tipton e Downing reclamar, vide por exemplo o dueto da faixa título. Algo mais hard aparece em Judas e em Hasta que la Muerte nos Separe, que tem talvez o melhor solo de uma guitarra que, se por um lado não é um primor de originalidade, por outro tem um timbre muito bem escolhido, trabalha bem as fórmulas antigas e não fica perdendo tempo com cretinices técnicas.

O disco é conceitual e isso merece um capítulo à parte. Trata-se da saga de um Jesus humanista e libertário (essa imagem de Cristo é um tanto pop entre os ilustrados!!) que aparece em Chamberí, um distrito de Madri. Ele aconselha as pessoas a fazerem bastante sexo (a letra de Al-Mejandría diz inclusive que o paraíso perdido é o que há entre as pernas da mulher) e não só curte um cigarrinho, como o eleva a símbolo religioso de máxima importância quando institui que quando dois ou mais estiverem fumando haxixe, ali estará ele também, além de outras coisas que chocariam a sua avó.

Heresia, bom humor, feeling, melodia, peso...Não tem motivo nenhum para não se ouvir essa bela obra.

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