domingo, 4 de novembro de 2007

Matéria: The Byrds

The Byrds: Meu coração ainda voa com eles

Por Carlos César Maia

Algum leitor desse blog já ouviu falar de uma banda californiana chamada "THE BYRDS"? Talvez sim, mas não ficaria surpreso se a resposta fosse negativa, pois esse grupo começou no longínquo ano de 1965.
Ouso dizer que os Byrds foram a banda de rock mais influente da história da música pop, perdendo, na minha opinião, apenas para os Beatles. Exagero? Se tiverem paciência, leiam o que vem a seguir.
Os Byrds têm sua carreira dividida em dois períodos bem distintos. O primeiro, conhecido como sendo a fase áurea do grupo compreende o tempo entre 1965 e 1968. O segundo período vai de 1969 até 1973 e é visto como a decadência da banda por vários motivos.
(abaixo foto da capa do antológico LP de estréia, "Mr. Tambourine Man", de 1965)




Mas, antes de continuar, quero listar o nome dos componentes originais da banda:

- Gene Clark (vocais, guitarra rítmica, percussão)
- Mike Clark (bateria)
- David Crosby (vocais e guitarra rítmica)
- Chris Hillman (vocais, baixo e bandolim)
- Jim McGuinn (vocais, guitarra solo e banjo; aconselhado por uma numeróloga, em 1966 ele mudou seu nome para Roger McGuinn)

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A história começou em 1964, depois de Jim McGuinn assistir a uma apresentação de Gene Clark, com seu grupo chamado "New Christy Minstrels", numa obscura boate de Los Angeles. Após o show, McGuinn apresentou-se a Clark, que o convidou a beber umas cervejas no bar. Conversa vai, conversa vem, depois de muitas cervejas McGuinn acabou mostrando a Clark seu set composto por canções folk tradicionais e alguns covers dos Beatles, que o surpreendeu e o agradou muito.


(essas muitas cervejas não constam da história oficial, mas eu as acrescentei aí por achar que isso deve ter ocorrido mesmo...)


Depois dessa noite Jim McGuinn e Gene Clark resolveram apresentar-se em dupla, mantendo o repertório original e logo tiveram a adesão de um amigo de Clark, chamado David Crosby. Como toda formação iniciante, sob o nome de Jet Set, gravaram uma demo que não chegou aos ouvidos de ninguém, mas que começaria uma história na maioria das vezes bastante vitoriosa. Pouco tempo depois, eles gravaram um single para a Elektra, sob o nome de Beefeaters, com a ajuda de alguns músicos de estúdio. Mas nada acontecia.


McGuinn (líder do trio), decidiu então mudar seu nome para Roger, agregou ao trio o baterista Michael Clarke e o bandolinista Chris Hillman (ex "Hillman & The Green Grass Roup"), que deveria assumir o contrabaixo, mesmo sem ter muita familiaridade com este instrumento. Em novembro de 1964, recomendados por Miles Davis, após apresentarem algumas demos à Columbia, eles acabaram assinando com essa gravadora, já com o nome de The Byrds. Aí os pássaros já estão prestes a começar sua alada história.


Em janeiro do ano seguinte (1965), eles conheceram seu ídolo maior, Bob Dylan, que por sua vez tornou-se admirador público do grupo (mesmo sem eles, até então, terem tido uma única e escassa música tocada nas rádios ou em qualquer outro lugar - como Byrds). Mas esse encontro foi decisivo: foi ali que eles mostraram a Dylan uma versão para uma composição sua, até ali obscura, chamada "Mr. Tambourine Man"; gravaram a música como se os Beatles a tivessem tocando. Dylan ficou muito entusiasmado e deu sinal verde para que eles a gravassem. O resultado não podia ter sido melhor. A música foi lançada em junho de 1965, como single e rapidamente alcançou o sexto lugar nas paradas norte-americanas.


Os Byrds então foram catapultados para o sucesso, para as paradas, para ofront contra a invasão britânica, e para as badalações. "Mr. TambourineMan" estourou dos dois lados do Atlântico, propulsada pelo timbre inconfundível da Rickenbacker de Jim McGuinn e pelas harmonias vocais do grupo.


Com relação a esta gravação, mais especificamente, sobre a guitarra de 12 cordas de Jim McGuinn, gostaria de transcrever agora um trecho interessante e elucidativo que pincei da Internet:


Abre aspas:


Em 20 de janeiro de 1965, um guitarrista jovem entrou em uma sessão de gravação no Columbia Recording Studios, em Hollywood. Sua missão: Colocar uma lead de 12 cordas num arranjo de rock, numa canção de Bob Dylan, "Mr. Tambourine Man". Ele gravou sua parte com facilidade, despreocupado se o arpejo que abria a música, inspirado em "Jesus, Alegria Dos Homens", de Bach, poderia torná-lo famoso. O guitarrista era Roger McGuinn, e a guitarra era uma Rickenbacker 360/12. A banda The Byrds, liderada por ele, havia conseguido um contrato para a gravação de um single, por recomendação de Miles Davis.

George Harrison foi o primeiro a gravar com uma Rickembaker 12 (em "You Can’t Do That", de 1964), mas os acordes agudos de "Mr. Tambourine Man" foram os responsáveis por tornar o instrumento conhecido do grande público. A mídia chamou o som do grupo de Folk Rock e, de repente, o som das guitarras elétricas de 12 cordas podia ser ouvido em singles de Simon & Garfunkel, Mamas & The Papas, The Turtles, Buffalo Springfield, entre outros. Ainda assim, nenhuma destas guitarras de 12 cordas soaram tão gordas e harmonicamente carregadas como a de McGuinn. O segredo, diz Roger, era a compressão.

"Era o seguinte: quanto mais você apertava aquele sinal, melhor ele soava. Nós enviávamos o sinal através de dois compressores enfileirados. Rick Gerhardt era o engenheiro na Columbia Records e ele estava tentando, basicamente, manter a agulha longe do agarro. Talvez ele achasse: "Aquela guitarra não faz um sustain longo o suficiente. Vamos aumentar o crank dela um pouco mais", mas eu acho que aqueles caras estavam preocupados mesmo é com o equipamento deles".


Fecha aspas


(para tornar essa matéria menos árida, aqui vai a foto da capa do segundo LP dos Byrds, chamado "Turn ! Turn ! Turn !")






(da esquerda para a direita: David Crosby, Gene Clark, Michael Clark, Chris Hillman; Jim (Roger) McGuinn aparece de óculos, entre Corsby e Clark)

Os Byrds então fizeram fãs famosos, inclusive, numa curiosa via de mão dupla, os próprios Beatles, especialmente George Harrison e, glória suprema, Bob Dylan em pessoa. Os Byrds passaram a ser conhecidos como os "Beatles americanos". Em seguida, no mesmo ano de 1965, pela mesma Columbia, lançaram o LP "Mr Tambourine Man", recheado de composições de Clark e covers de Dylan e Peter Seeger, num estilo que passaria então a se chamar "folk-rock", a partir do estouro de "Turn! Turn! Turn!", disco de 1966, impulsionado pela cover homônima de Seeger. Outra música desse disco que também ficaria marcada, foi "Eight Miles High" (lançada depois no terceiro LP), com seu título meio junkie fez sucesso no circuito alternativo de Los Angeles e San Francisco, mas acabou sendo boicotada pelas rádios devido às alusões às drogas.

A partir daí, os Byrds começariam a lidar com um fator que prejudica qualquer banda: o entra e sai de músicos. Gene Clark, principal compositor e segundo vocalista, deixaria os Byrds por ter medo de voar. Ele simplesmente se recusava a entrar em aviões. Enfrentavam o mesmo problema, os mesmos contratempos cada vez que havia uma turnê: enquanto Clark ia de carro ou trem, a banda ia de avião e chegava muito mais cedo. Enfim, Gene Clark já não participaria mais do terceiro LP da banda, que misturava psicodelia com...folk! Ele deixaria o grupo - embora fosse amigo fraterno de Jim McGuinn e Hillman (o problema do cara era realmente medo de voar). Os Byrds então, em 1966, gravam o primeiro disco como quarteto, o "Fifth Dimension", com o pé pesado na psicodelia nascente, mesclando-a com folk.


Abaixo foto da capa:






Aliás, a palavra Byrds, como está impressa na capa deste disco, em estilo "lisérgico-flower-power", virou marca registrada do grupo até a fase em que se tornaram uma banda muito mais voltadas às raízes do country norte-americano, do que folk-rock; mas ainda falta um pouco para isso acontecer.

A saída de Gene Clark do grupo, no entanto, não interferiu sobremaneira no som da banda. No entanto, uma das faixas mais marcantes deste disco, um clássico do psicodelismo em todos os tempos, a espetacular, fantástica e extraordinária - rock ácido em sua mais pura essência (ei, dá pra perceber que eu gosto mesmo desses caras?) - "Eight Miles High", é uma música que havia sido gravada anteriormente, a qual tinha sido composta para ser lançada no disco anterior, o "Turn ! Turn ! Turn", mas, como disse antes, foi boicotada pelas rádios americanas. Nela, Clark e McGuinn simplesmente detonam e arrasam nos vocais. Curiosidade: o solo que McGuinn dá em sua Rickenbaker de 12 cordas nesta música, foi inspirado nas improvisações de Johh Coltrane. Falando especificamente deste solo, quero agora transcrever um trecho extraído ainda à pouco da Internet:


Abre aspas:


(sobre Jim McGuinn...)


O country também teve influência no estilo do guitarrista, novamente através da linguagem do banjo. Isto se comprova no padrão de acompanhamento de Get To You (Ex. 3). Repare na divisão em 5/4. Até as improvisações livres e fluentes de John Coltrane tiveram eco no caldeirão psicodélico dos Byrds, como no solo de Eight Miles High (Ex. 4), em que, apesar de imprecisa e “tosca”, a interpretação de McGuinn possui muita personalidade.


Fecha aspas.


Mas, voltando ao "5th Dimension". Embora Gene Clark fosse o principal compositor da banda, sua saída não teve muita influência na sonoridade da banda. Foi a partir daí que Crosby e Hillman começaram a disputar com McGuinn pela primazia das composições, luta essa que explode de forma sensacional e inigualável no disco seguinte, o incomparável "Younger Than Yesterday", de 1967 (ano do lançamento do "Sgt.Pepper's", para mim a imortal obra-prima dos Beatles).


(abaixo, foto da capa do disco)






Neste disco, vemos Crosby mais atuante e sobressaindo-se mais até do que o próprio McGuinn. Em músicas geniais como "So You Wanna Be A Rock'n'Roll Star" ou "My Back Pages" (outro cover de Dylan), o trabalho dos Byrds encontra dimensões nunca alcançadas.
Maturidade total, folk rock encharcado de psicodelia e deliciosas inovações de timbre por parte de McGuinn e

Hillman.


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O disco seguinte, "The Notorious Byrds Brothers" começou a ser gravado na base da porrada, literalmente. Crosby batia em McGuinn, que batia em Hillman, que batia em Crosby. Saldo final: Crosby deixaria a banda no meio das gravações para juntar-se a Stephen Stills (ex "Buffalo Springfield") e ao inglês Grahan Nash (ex "The Hollies"), para formar o "Crosby, Stills and Nash" (Neil Young, que, assim como David Crosby, havia recém saído do "Buffalo Springfield", depois se juntaria ao Crosby, Stills and Nash, formando então o "CSN&Y").


(abaixo, foto da capa do disco "The Notorious Byrds Brothers")






Na foto acima vemos (da esquerda para a direita): Chris Hillman, Roger McGuinn (ex Jim McGuinn...), Michael Clark e...um cavalo no lugar do David Crosby !!

Gene Clark então foi re-convocado para finalizar o álbum mas não permaneceu, além do pacífico baterista Michael Clarke também pedir o boné, ao final das gravações. Mesmo assim o disco ainda manteve a qualidade dos trabalhos anteriores.

De 1968 em diante, muita coisa mudaria na trajetória dos Byrds. McGuinn e Hillman conceberam a idéia de gravar um disco duplo, onde a banda mostraria suas versões para vários estilos de música pop, desde o jazz, passando pelo blues e chegando ao country. Para isso, recrutaram as seguintes pessoas: o baterista Kevin Kelly e o pianista Gram Parsons, que mudaria todos os planos. Parsons, nascido Cecil Ingram Taylor, em 1945, era um ex-estudante da badalada Universidade de Harvard e fã obsessivo de música country. Ele contaminou os outros Byrds e os convenceu a gravar Sweetheart Of The Rodeo em 1968. Isso dividiu os fãs da banda, apesar do folk rock dos Byrds sempre ter se aproximado das tonalidades mais country, aqui eles assumiam isso de forma definitiva.

Mas Parsons, sujeito errático por natureza, deixaria os Byrds seis meses após seu ingresso na banda e levaria consigo nada mais nada menos que Chris Hillman, então o principal autor das músicas da banda. Juntos eles formariam o "Flying Burrito Brothers” em 1969, onde Parsons ficaria até 1970, para sair em carreira solo um ano depois e morrer de overdose em 1973. McGuinn se viu completamente perdido e os Byrds, apesar de não encerrarem suas atividades, tornaram-se a banda de apoio de Roger McGuinn. Com o guitarrista Clarence White agregado ao grupo, eles ainda gravariam The Ballad Of Easy Rider (1969), Byrdmaniax (1969), Untitled (1970) e Farther Along (1972), álbuns renegados na época, mas que agora estão sendo reavaliados e tendo a importância reconhecida, principalmente pela capacidade criativa de McGuinn, um sujeito pacato, mas extremamente competente com uma Rickebacker 12 cordas nas mãos.

Em 1972, com a morte de Clarence White, os Byrds praticamente deixaram de existir. Em 1973, McGuinn, Hillman, Crosby, Gene Clark e Michael Clarke gravariam o Reunion Album, mas sem a mesma centelha da criatividade dos primeiros discos.(abaixo foto da capa do disco "The Byrds", também conhecido como "Reunion Album", acima mencionado)




(da esquerda para a direita: Gene Clark, Chris Hillman, David Crosby, Roger McGuinn, com Michael Clark na bateria, ao fundo)

Abaixo cito notórios seguidores da cartilha dos Byrds: Buffalo Springfield, Tom Petty, REM, Replacements, Big Star, Eagles, America, Crosby Stills And Nash, Cosmic Rough Riders e centenas de bandas contemporâneas do calibre de Teenage Funclub e Yo La Tengo, além de outros tantos artistas que passaram a fundir o rock e country. Um legado que impressiona tanto pela importância quanto pela total falta de conhecimento da maioria do público consumidor de rock.


Ainda há tempo de correr atrás dos relançamentos dos onze discos principais dos Byrds, entre 1965 e 1972, feitos pela Columbia/Legacy, com faixas extras, sobras de estúdio e lados B, sem falar no importantíssimo “Live At Fillmore February 5 – 1969”, concerto inédito da banda, somente agora liberado por McGuinn. Boa viagem nas asas dos Byrds...Abraço,ccP.S. 1) Gene Clark morreu aos 46 anos, em 1991, de ataque cardíaco; descanse em paz, Gene, e obrigado por tudo (foto abaixo).


Michael Clark morreu em 1993, devido a problemas com álcool - Thanks as well, Mike.
(da esquerda para a direita: Roger, Crosby, MICHAEL CLARK e Chris Hillman)
P.S. 2) David Crosby sobreviveu a um transplante de fígado e está na ativa. McGuinn e Hillman também continuam em atividade.

4 comentários:

Cosmicídio Atômico disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cosmicídio Atômico disse...

Eight miles high and when you touched down...

Andr� disse...

excelente artigo, é uma pena que mais pessoas não conheçam os byrds...

Cleber disse...

Hey cara, The Byrds é uma das melhores bandas dos anos 60, e concordo com vc q eles só perdem pros The Beatles!! My Back Pages, It's All Over Now Baby Blue e This Wheel's On Fire são minhas versões prediletas interpretadas por eles!!!!! Long Live to The BYRDS!!!!