terça-feira, 25 de maio de 2010

O Metal e os rótulos: necessidade ou erro?

Desde que comecei a travar contato com o underground do Metal, no já distante 1985, lembro-me dos rótulos atribuídos a esta ou aquela banda. E, mesmo naquela época, já via isso da forma mais terrível possível, embora somente hoje, já bem maduro, possa ver o real malefício que rótulos causam.

Por Marcos Garcia

Explicando: desde que a sociedade humana aprendeu a se organizar, as pessoas tendem a rotular tudo que foge ao senso comum como se fosse algo novo. Isso não é mal, mas o que está por trás disso sim, que é a mania de padronização, de querer organizar e encaixar isso ou aquilo como um livro em uma estante, ou mesmo como um tijolo na parede. E nós, bangers ou simplesmente roqueiros, caímos nesse erro pavoroso.

Exemplo: Nos anos 80, graças às pregações dignas de pastores dogmáticos, o MANOWAR com seu grito de ‘Death to False Metal’, direcionou a fúria dos fãs de Metal da época, suscitada por esta mesma troupe, sobre as bandas de Metal californianas, que bebiam na fonte do LED ZEPELLIN, Aerosmith, NEW YORK DOLLS e GARY GLITTER, sendo seus herdeiros considerados pelo MANOWAR como ‘False Metal’. Mas quem deu ao MANOWAR doutorado em Metal para fazer isso?

Garanto que eu não fui...

E aqui, na terrae brasilis, muitos fãs se tornaram radicais, a ponto de existir roubo de camisas e conflitos com a galera que gostava do Hard Californiano. E por conta disso, a cena metálica brasileira sofreu uma queda brusca no número de fãs nos últimos anos da década de 80, por conta da babaquice de certos radicais que acabaram espantando muitos futuros bangers. Graças a São Roberto Medina, que realizou o Rock in Rio II e III, a cena se renovou. Os radicais? Em sua maioria, desapareceram, pois foram ouvir outros estilos musicais.

O VENOM cunhou para si, numa atitude comercial, o rótulo de Black Metal, bem como surgirá ainda o Power Metal, que a início abarcou bandas como SLAYER e Metallica, e mais tarde, ambos os estilos se tornaram Thrash Metal. MASTER, DEATH, HELLHAMMER e POSSESSED dividem a co-criação do Death Metal. E daí para frente, os rótulos só aumentaram. Óbvio, cada banda queria chamar para si a atenção como ‘original’, para poder vender discos, camisas e outros apetrechos para poder existir. Amor pelo Metal não enche barriga vazia e nem paga as contas...

O problema do rótulo em si não está associado à catalogação desta ou daquela banda. Isso em si é legal, pois ajuda a dar uma organizada. Mas NÃO É BOM quando algumas pessoas assumem o rótulo para si, ou seja, começam a querer só ouvir este ou aquele estilo, muitas vezes, sob a influência de veteranos que lhes dizem que ‘esta é a melhor subdivisão’, ou ‘isso é música de banger’, ou mais ainda, ‘isso é música de macho’.

Tantas frases decoradas para justificar uma coisa injustificável, que é a perda da persona em prol de rótulos...

Qual o mal do sujeito que ouve de tudo em Metal? Ele está errado?

Na mentalidade ampla dos que realmente entendem o que é o Heavy Metal e seu motivo de existir, o erro está em criar dogmas metálicos. Ninguém precisa ouvir Death ou Black Metal direto se não o quiser, e o mesmo vale para quem acredita que só existe Metal Melódico (como citei acima, o rótulo Power Metal não se encaixa nestas bandas. O que o Slayer do ‘Show No Mercy’ tem com o STRATOVARIUS?).

As diferenças já existiam nos anos 70, mas pergunte a algum fã de Rock da época se ele deixou de ouvir BLACK SABBATH, LED ZEPELLIN, DEEP PURPLE, UFO, THE WHO, Pink Floyd, JETHRO TULL, BLACK OAK ARKANSAS, RUSH ou SCORPIONS porque esta banda era a mais pesada, ou mais criativa, ou mais melódica, ou sei lá mais qual desculpa nasça dos cérebros dogmáticos pós anos 80. Ele vai responder com um longo e sonoro ‘NÃO!’, uma vez que música não é real ou falsa. É apenas música...

O que quero dizer, basicamente, são quatro coisas:

1 – Não deixe que um rótulo governe sua vida. Se desejar ouvir DEATH, BEHEMOTH, RUNNING WILD, ICED EARTH, SONATA ARCTICA, CRADLE OF FILTH, KULT OV AZAZEL, DISSECTION, GRAVE DIGGER, THERION, LACRIMOSA, TRISTANIA, SIRENIA, LED ZEPPELIN, RUSH, FATES WARNING, MOTLEY CRUE, BON JOVI, Iron Maiden, VIRGIN STEELE, MANOWAR e qualquer outra banda ao mesmo tempo, é um problema seu, e nenhum babaca metido a Ph.D. em Metal pode lhe dizer que isso está errado. O pastel pode querer passar o verão brasileiro debaixo de roupas pretas pesadas e ter uma bela insolação, mas eu prefiro minha bermuda estampada e colorida, e uma bela camiseta branca sem mangas...

2 – Se algum dos famosos ‘Metavangelistas’ quiser lhe encaixar nessa ou naquela estante de livros, diga com convicção ‘Não sou um livro!’ e pronto, o panaca sumirá da sua vida;

3 – Se você tem um approach não radical, estará ajudando a fragmentada cena a continuar existindo, porque ir somente a shows desse ou daquele estilo, bem como comprar CDs da mesma forma, acaba pulverizando a cena, e com vendas baixas de CD, as bandas de fora se afastam daqui, vindo somente as ‘majors’. O Metal precisa ser comercialmente viável para incentivar promoters de shows a continuar com eventos, bandas a lançarem CDs, selos a investir em bandas novatas. É assim que uma cena pode existir, senão, não se pode fazer absolutamente nada;

4 – As convicções de uma pessoa são dela, e são moldadas por vários aspectos da vida, a maioria deles nada tendo com Metal, então, não há sentido em seguir dogmas e os impor a quem quer que seja. Se quiser acreditar em algo, ótimo, mas é problema seu. Evite divulgar algo como ‘certo’ ou ‘errado’, pois conforme a cultura de cada pessoa, esses rótulos mudam.

Ou seja, não permitam que pensem por você, que lhe digam o que fazer como banger.

O Metal não é igreja.

Um comentário:

Anônimo disse...

Grande Marcão ! excelenet figura humana e sabe o que fala e o que escreve, parabéns pelo texto neste grande blog que é o aRISE.

Stay Heavy...and Stoner rs

Luis "carlinhos" Carlos