sábado, 31 de maio de 2008

Opinião: Saudosismo

Texto por Luis “Carlinhos” Carlos
Revisão por Luciana Pereira


Na primeira metade dos Anos 90, quando fazer jornalismo underground significava fazer fanzines e com isso fazer colagens de fotos, datilografar e ficar xerocando páginas, e que divulgar e arrumar material de bandas (principalmente bandas novas) significava trocar fitinhas K7 pelo correio em envelopes que a gente costumava dar 171 nos selos, apagando o carimbo com saliva (risos), lá estava eu e amigos fazendo fanzines que falava de Metal. Pra mim o começo de tudo foi justamente no auge do Doom Metal, de bandas como Cathedral (que eu peguei em fitinha por saber que era a nova banda de Lee Dorrian, ex-vocalista do Napalm Death), das bandas de Death Metal como Benediction (que na época contava com Barney, hoje vocalista do Napalm Death), Entombed, Bolt Thrower, Carcass, etc. Também ouvia muito Noise Grind de bandas como Doom, Sore Throat, S.O.B., e a possibilidade de ouvir isso e fazer muita farra era por causa de fanzine (na época eu participava do Carnage e do Infectum e também fiz um chamado Sound of Noise, só que esse era mais alternativo, misturando desenho, Metal e Rock and Roll), tendo inclusive ido pro BH Riff em 94, um evento histórico que rolou num final de Semana em Belo Horizonte/MG. Após chegar numa madruga e ficar numa pensão fuleira, eu fui à loja Cogumelo, participei de palestras, vi muitos shows (Anathema na época do disco Serenades, Fugazi, Dorsal Atlântica, etc).

Até fomos no Hotel e conversamos com os caras do Anathema e jogamos bola com eles. E, também, comemos no hotel de calote (risos). Na época, conhecemos o Perna (Genocídio) e Marcelo Rossi que trabalhavam pra Rock Brigade. Em 95 é que comecei mesmo a tocar em bandas, com Refugium Pecatorum, uma banda de Doom Metal que durou até 2001 (foto). Em 92 eu comecei a tocar bateria, mas só com a Refugium é que entrei de cabeça nesse lance de tocar em banda, e com isso lancei Demo-tape, Cd-demo e Cd, e nela conheci muitas pessoas legais, entre elas: Flaveus (hoje Neutralis e ex-Statik Majik), e o detalhe curioso é que eu achei o cara por intermédio de uma nota na revista Rock Brigade (coisa que eu nunca pensei que fosse acontecer) e ainda, liguei pra ele e era dia do seu aniversário.

Do passado, sinto falta da “dificuldade” que acabava gerando mais paixão pelo som, pois hoje a Internet e seu mundo virtual trouxe tanta facilidade que tudo acabou se tornando um pouco supérfluo. Falando em “contras” da modernização, um dos males é a gama de “donos do Metal” que se proliferam no Orkut e suas opiniões geniais (“maldita inclusão digital” como dizem alguns). Algumas pessoas que discutem por causa do estilo, coisas como: “eu não quero Hard Rock, isso não é Heavy Metal”, deve ser o mesmo ser humano que acha que Black Sabbath e Motorhead é Heavy Metal, quando o próprio Ozzy já disse em entrevistas que Black Sabbath é Hard e que nem considera “Metal” como algo que tenha conotação musical. Mas é que esse povo quando ouve falar em Hard Rock, logo eles imaginam o povo do Poison, Extreme, sei lá, e nem sabem que esse termo vem dos Anos 70 e se expandiu pro metal no início dos Anos 80 com o Deff Leppard. Mas quando resolvem dar suas opiniões “extreme true” eles se concentram no visual, mas, como se carinha de mal fosse tão bom, né? Já disse bem o Scott Ian: ”Todo mundo é poser, pois todo mundo tem um espelho em casa”. Acho que esse povinho “True” acredita mesmo em um Deus Metal (risos). Bem disse o Júnior (Corpse Grinder, banda de DEATH METAL) numa entrevista recente pra Roadie Crew: “UNDERGROUND É UM SÓ, TUDO VEIO DO ROCK AND ROLL”. E aí vem esse povo com esse separatismo idiota, como se disputasse poder com alguém por saber mais de som pesado ou ter mais tempo, como se antiguidade fosse posto. Que desperdício de tempo. E pior, ver pessoas que acham que o Metal não veio do Rock and Roll. Putz! É o mesmo que dizer que o Rock and Roll não veio do Blues. Ter humildade e estudar faz bem, ao invés de se preocupar em bater boca em Orkut (principalmente com tópicos idiotas como poser ou true, jogo do sorvete, etc) ou gastar mais dinheiro com a camisinha nova da sua banda preferida com seu visual true. Ainda mais agora em tempos que as pessoas estão se fantasiando de Anos 80, e pior que ver retardados velhos posando de true, é ver moleque fedelho com 15 anos se achando o tal e vivendo uma época que nunca sonhou na vida (nem no saco do papai rsrsrsrs). Dignos de quem tem 20 camisas e 300 patches no casaco em super visual e conhece meia dúzia de bandas e não gasta um níquel com Cd`s, Dvd`s, etc e vive baixando música na Internet.

Aliás, a Internet pra esse povo é a salvação pois é por ali que a bajulação chega em alto grau de idiotice. É claro que a Internet tem seus pontos positivos, até porque eu não sou um ogro social e tecnológico (risos) e se fosse assim não estaria participando do Blog, e sim, de um fanzine, mas é que não devemos nos esquecer do aspecto humanístico da coisa, tá tudo muito corrompido, entendem? Ainda acredito que haja uma diferença entre transformar e mudar, e que nós é que somos capazes de transformar a máquina, não o contrário.

6 comentários:

Anônimo disse...

Olha Carlinhos, tive um fanzine no final dos anos 90, e realmente as dificuldades eram mtas. Naquela época a internet ainda não era como hoje, e pra vc ter uma boa matéria vc tinha que correr atrás e gastar uma boa quantidade de grana pra montar teu material. Era artesanal, mas era feito com amor.

Hoje em dia um bando de moleques que se dizem fãs escrevem uma meia-dúzia de matérias de merda na net e se acham jornalistas...e o pior, ainda querem falar de uma cena que eles nem ao menos compreendem...

Mais uma vez vc disse tudo!

Assino embaixo!

Anônimo disse...

atitue e inteligência é privilégio de poucos e isso o carlinhos tem de sobra. muito bacana o texto ;-)

Unknown disse...

Fala Carlinhos!
De fato, a Internet serviu de instrumento para banalizar as coisas. Tudo hoje é fácil: entrevistas, cds, dvds, fotos. Coisas que antigamente precisava-se soar sangue e ter muito amor a coisa para conseguir produzir um trabalho de fanzine. Essa galera que você citou, infelizmente, não aproveita as coisas como estão. Pouquíssimas pessoas estudam e analisam os materiais oferecidos na rede.
Por outro lado, a Internet serve de instrumento para essa instantaneidade que vivemos. Tudo é descartável, tudo é instantâneo.Ouve-se uma banda nova hoje que não é mais referência de amanhã. Há tanta informação que obtemos que fica cada vez difícil termos pontos de referências, uma identidade ímpar. Nós estamos contidos nesse cotidiano, apesar de termos vivido em outra época que, me deculpe alguma coisa, não é tão diferente de hoje no que se fala em cena, bandas.
Sinceramente, a única coisa que sinto saudade do início dos 90 é a saudosa Fluminense fm. Ela sim, ajudou e muito a criar uma direção ao rock em todas as suas vertentes, não só tocando músicas de bandas gringas e famosas, mas como independentes nacionais. Mas sei também que no mundo de hoje que envolve totalmente as práticas de giro de capital, é impossível ter uma rádio com o formato da Flu.
Só nos resta a Venenosa. Uma luz no fim do túnel...

Anônimo disse...

poxa,essa época devia ter sido muito boa!eu,um simples menino de 14 anos,teria gostado muito de nascer nessa época e acompanhar todo o desenrolar da cena,mas eu acho q eu não trocaria hoje em dia por ontem,afinal,eu cresci,me descubri um fan de musica[independente do estilo],e desde de meus 12 anos[quando ouvi heavy metal pela primeira vez com o cd "Rebirth" do Angra] sou um headbanger.E concordo com vc sobre o assunto do Orkut,tem muita gente q paga pau de "tr00zão" e só é modista,ou então só tem pose,essas pessoas deviam ser por em seus lugares e começar a pensar q Heavy Metal não é pose,e sim musica,aliás,música da boa!
Seu Blog é muito bom,abraços e continue com o seu sucesso!

Anônimo disse...

bacana, um texto que fala de tanta coisa e soa atemporal, coisa de quem realmente vive o rock and roll e ama o que faz. isso aê carlinho. abraço.

Anônimo disse...

taí alguém que faz algo co matitude e não pra aparecer como vários palhaços aí da cena

gladson montalvo