sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Matéria: Global Metal

Por Wesley Rodrigues



Global Metal é a segunda investida cinematográfica de Sam Dunn, que fez relativo sucesso com Metal: a headbanger’s jourmey e que atualmente tem trabalhado em documentários sobre o Rush e o Iron Maiden, a serem lançados esse ano ainda. O resultado é bem superior ao do primeiro filme. Se antes o cineasta-antropólogo pretendia explicar a rejeição e preconceito que o Heavy Metal sofria através de um filme que tratava múltiplos temas de forma fragmentada, pouco analítica e por vezes gratuitamente apologista, dessa vez ele fez um filme mais coeso e com uma direção mais definida. O primeiro, apesar de divertido, tem pouca relevância informativa e reflexiva para quem já é fã do estilo. Já Global Metal permite um interessante “exercício de alteridade”, além de perpassar assuntos fundamentais do mundo contemporâneo como globalização, democracia, nacionalismo e identidade.

Dunn quer investigar o heavy metal como fenômeno global, ou seja, porque algo europeu e americano está também presente em países tão distantes do mundo ocidental de primeiro mundo onde ele foi concebido. A estratégia é semelhante à do primeiro filme: muitas viagens para fazer o que é a alma do trabalho, as entrevistas. Isto é, trata-se de um filme onde os holofotes estão mais postos sobre essas pessoas que o cineasta vai conhecendo pelas suas andanças, do que sobre as reflexões desenvolvidas a partir destes entrevistados. Apesar de uma obra ter sempre a incontornável marca da visão de seu autor, como fica óbvio aqui nas diversas intervenções narrativas que são feitas, tem-se também que Dunn é tão turista e ignorante dos lugares e pessoas que visita quanto quem está assistindo, sendo ele não muito mais do que o cara que ligou a camêra e pôs o microfone para que pudessem falar.

A primeira parada foi o Brasil, onde se “concluiu” (nossa!) que aqui o Heavy Metal foi remodelado pelo Sepultura, que enxertou elementos brasileiros (leia-se indígenas e afro-descendentes) à música pesada, na procura de uma originalidade e identidade, coisa que também foi observada por Dunn em outras partes do mundo, como o Japão. De mais interessante foram os comentários, principalmente os de Carlos Lopes, sobre um certo boom por música pesada que teve por aqui quando do Rock In Rio I, uma espécie de necessidade de expressão que a juventude de então tinha, e do qual ainda era carente, e que se relacionaria com o fim da ditadura em processo naquele momento. Só isso merecia um documentário próprio, com a profundidade que não se pôde dar aqui.

Quando parte para o Oriente o documentário se torna mais valoroso, e por vezes emocionante. Visitando diversos países islâmicos, mostra-se como o Metal é uma forma de expressão contra a opressão cultural e a tradição. Mas essa não é uma via de mão única. Tal como faz o Sepultura com sua “brasilidade” , o Heavy Metal é utilizado para afirmar esse mesmo islamismo. Esse também é o caso das bandas sionistas e religiosas entrevistadas em Israel. Interessante também foi ver como Heavy Metal tem um significado político subversivo em países como o Irã, a China e a Indonésia, vítimas de ditaduras, sendo meio que um canal de sublimação para a falta de liberdade e uma resistência para as forças culturais e políticas normatizadoras vigentes.

O cárater inédito dessa abordagem, descortinando coisas pouco conhecidas do público headbanger e relevantes para além desse grupo, é que torna válido alguém gastar seu tempo assistindo Global Metal, que sem dúvida é um bom primeiro passo para discussões e futuras obras sobre o tema.

(Post escrito ao som de Inner Sanctum (Saxon) e dedicado ao meu amigo Carlos)

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