sexta-feira, 8 de maio de 2009

Headbangers e Música Clássica

Por Wesley Rodrigues
O que este singelo texto pretende é apontar criticamente uma postura relativamente comum entre headbangers que é a construção de pontes (não as musicais, claro esteja) entre o heavy metal e a música clássica, feita ora através de associações que no fundo dizem muito pouco, ora através de argumentos acentuadamente delirantes. A real intenção dessa idéia é muito clara: a valorização e a legitimação de um estilo muito comumente associado à estupidez, à loucura e etc.. O que procuro dizer aqui não é de forma alguma negar as eventuais semelhanças que há entre os dois estilos, até porque não tenho a mínima competência e conhecimento para um estudo comparado de música. Mas o que posso dizer aqui é que barras estão sendo forçadas por uma necessidade desnecessária.
Imaginemos, e esse é um difícil exercício de imaginação, que uma banda de pagode, por exemplo o Sorriso Maroto, incorporasse em suas músicas tremendos riffs distorcidos. Uma coisa como essa provavelmente descaracterizaria o som da banda, a transformando para muito longe do que era. Mas eu não disse que seria fácil visualizar algo assim, então nos esforcemos para aceitar a existência de uma música simbióticamente metal e pagode, sendo uma sem deixar de ser a outra. Ora, será que os headbangers em massa iriam dizer: “Isso que o Sorriso Maroto faz..Bem, isso tem bastante a ver com o que eu escuto.”? Não, meus amigos, os headbangers não fariam isso. Afinal, o Sorriso Maroto não goza do mesmo status quo que o Mozart (muito justamente). E que o que se quer realmente não é ver que música pode ter raiz em que música, mas sim saber com o que nós podemos associar nossa imagem para apagar esse estigma de descerebrados, entre outras coisas, que os meios de comunicação hegemônicos, entre outras coisas, nos deram.
E vai se muito longe para se atingir esse objetivo. No filme “Metal: a headbanger’s journey” de Sam Dunn, esse cara que é 100% headbanger e não muito intelectual, há dos truques mais sujos. Trata-se de algo que não se diz por aí recentemente, mas já é um papo que circula há um bom tempo. São coisas como “Beethoven se fosse vivo hoje estaria muito bem no Deep Purple e Mozart, no Led Zeppelin” Acho que essa frase é recebida às vezes como uma alusão, ou uma ilustração à idéia, mas creio que o sentido que é mais abrigado pelos ouvintes dela é algo bem próximo do literal mesmo. De qualquer forma é uma sandice. O que o confirma é não só o extremamente perceptível fosso estritamente musical que há entre os dois lados, essa coisa que é justamente o que eles insistem em diminuir, como também toda uma carga cultural de valores e sentimentos associados aos estilos que também são componentes indissociáveis da música. Um blábláblá técnicolóide de instrumentos que se parecem e etc, argumentos utilizados no filme, não são suficientes para convencer nem isso, nem muito menos que isso.
Mas alguém poderia dizer algo menos ousado, como o Andreas Kisser, que há uma força na música de Beethoven que o remete ao Heavy Metal, e que faz dele o primeiro headbanger e tal, ou mesmo afirmar as semelhanças técnicas (ou blábláblá tecnolóide), agora não como argumento que evidencia uma semelhança, mas como a própria expressão dessa semelhança. Muito bem, posso concordar, nós podemos pensar em proximidades entre as duas coisas. Mas o que isso realmente nos diz? Diz algo, mas certamente não é que Heavy Metal e música clássica compartilhem de uma ontologia comum, onde a segunda seria a raiz da primeira, como todos querem demonstrar. De qualquer forma, e aqui eu sou repetitivo, a questão não é “o que?”, é “por que?”. Por que não enfatizamos semelhanças entre o rock e 
o axé? Será que aquelas guitarras do Chiclete com Banana não podem nos remeter ao rock de alguma forma? Ou somos nós que fechamos os olhos para isso? Sim, porque as possibilidades para esse tipo de coisa são infinitas: sirva-se com as peças de que dispõe e brinque de juntar.
Quero deixar claro aqui que na verdade pouco importa quais sejam as pontes técnico-musicais que se possam traçar (e de fato há). Tanto faz também se o clássico é mais parecido com o metal do que o axé com o rock. O que coloco aqui é que elas não só são superdimensionadas e perdem seu valor na medida em que outras comparações podem ser feitas com outros estilos (ou seja, essas comparações perdem seu cárater especial, sua singularidade), como, mesmo existindo, não passam de pura postura apologista.
Ela é tentativa de um casamento forçado. É como os reis que afirmam que sua linhagem provém de um deus ou de Carlos Magno. É até ridículo e é tão mais ridículo quanto mais forçado é: para citar um fato muito bem lembrado pelo meu amigo Artur, aind aque não possa servir de cerne para o argumento desenvolvido aqui, muitos headbangers ao preencherem seu perfil no orkut (ah! essas coisas que as pessoas gozam fazendo!) não deixam de enfatizar as referências eruditas ao lado de bandas de thrash, sabendo nós que na prática só as segundas ocupam os mp3s, restando às últimas só o respeito.
Apesar de as afirmações de comparação positiva terem algum fundamento (descontado quando elas são muito loucas), 1)elas não dão conta do que se espera delas, e 2)o que se espera delas é algo que não precisamos.
O Heavy Metal é uma coisa forte e linda e não precisa de nada além de si mesmo para se justificar. E se não é assim que a sociedade o vê...bom, pior pra ela. O que não se pode fazer é andar por caminhos tão tortos.
Por isso, compus um grito: “Iste, iste, iste. Beethoven é o caralho, eu quero ouvir é um Judas Priest.” ;-)

Nenhum comentário: