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sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Ícones do metal nacional se despedem do Black Sabbath: "Definiram o estilo"

Rodolfo Vicentini
Do UOL, em São Paulo
04/12/2016 07h00
Joshua Bryan (AgNews)/ Danilo Verpa (Folhapress) / André Muzell (Agnews) / Montagem


Andreas Kisser, Edu Falaschi e Andre Matos falaram sobre a importância do Black Sabbath

Ozzy Osbourne, Geezer Butler e Tony Iommi se despediram dos fãs brasileiros neste domingo (4), em São Paulo. O show será a oportunidade de ver a formação original do Black Sabbath quase completa (o baterista Bill Ward não participa da reunião) pela última vez, na turnê "The End".

"É importante estar no Morumbi e ver o repertório, os 3 juntos tocando. Infelizmente o Bill não está, mas Tony, Geezer e Ozzy é histórico", diz Andreas Kisser, do Sepultura.

UOL conversou com diversos personagens do metal nacional para saber da relação deles com o Black Sabbath e da importância de ver grandes hits como "War Pigs", "Children of the Grave" e "Paranoid" mais uma vez.
Joshua Bryan/ AgNews


Andreas Kisser (Sepultura)

O Black Sabbath é tudo, umas minhas bandas preferidas. É o gênesis do heavy metal, de temática, da sonoridade. Trouxe uma outra opção para o cenário musical. Sem o Sabbath não existiria Sepultura, Metallica ou Slayer. Tony Iommi é um ícone para mim, assim como Ritchie Blackmore, Jimi Hendrix e Jimmy Page. Foi principalmente Iommi que trouxe a distorção, só ouvir a introdução da música "Black Sabbath", que tem aquele riff assustador.  Ele é um cara que até hoje é um símbolo. Eu já vi vários últimos shows de bandas que não acabavam. Em 1992, o Sepultura abriu para o Black Sabbath, vimos de perto a formação clássica junta. E era turnê de despedida do Ozzy em carreira solo, a "No More Tours". Então tudo é possível. É importante estar no Morumbi e ver o repertório, os 3 juntos tocando. Infelizmente, o Bill Ward não está, mas Tony, Geezer e Ozzy é histórico.

Divulgação/Ricardo Ferreira


Andre Matos (Angra/Shaman/Solo)

Eu comecei a escutar Ozzy Osbourne quando saiu o "Blizzard Of Oz", e daí, eu vim a descobrir o que foi o Black Sabbath. Mais tarde, a banda se tornou uma das minhas maiores influências. Eu acredito que o Tony Iommi é um gênio do riff da guitarra, acredito que é uma banda que conseguia tirar um som, ao mesmo tempo, extremamente pesado e, em contra partida, quase psicodélico, se você for analisar os discos do Black Sabbath a fundo, então isso acabou me influenciando em termos de composição e entrando no hall das minhas bandas prediletas.

Eu acredito que o show seja algo que não se pode perder, porque Black Sabbath existe um só, e na hora que nós presenciamos esses caras tocando, da maneira como tocam, com a idade que têm, eles são verdadeiros professores, verdadeiros mestres para quem, inclusive, já tem uma carreira, então nunca deixamos de aprender vendo o Sabbath tocar, principalmente ao vivo, creio que seja algo imperdível essa turnê de despedida. E se for, de fato, verdade que eles estão se despedindo para sempre, eu acredito ser merecido, inclusive, depois de tudo que eles já fizeram e já colaboraram com a música, eles têm todo direito do mundo de querer se aposentar e descansar merecidamente.

Instagram/caio_macbeserra


Caio MacBeserra (Project 46)

Eu estava ouvindo o Black Sabbath o dia inteiro (risos). Os caras inventaram o bagulho. Quando eles começaram, quando fizeram a formação clássica, os caras vieram com um 1º álbum totalmente diferente. Além de ser sombrio, era muito pesado para a época. E isso fez a cabeça de geral pirar. Eu conheci mesmo no álbum "Paranoid", em "Children of the Grave". [O show aqui é um] Fato histórico. Acho que o povo brasileiro deve se sentir privilegiado.

Divulgação


Edu Falaschi (Angra/Almah)

Meu primeiro LP foi o "Born Again". O Ian Gillan arrepiou nesse disco. E o segundo foi "Mob Rules" [com o vocalista Ronnie James Dio]. Os 2 primeiros discos que eu tive do Sabbath não foram com o Ozzy. Depois fui ouvir as outras coisas. Eu prefiro o Ozzy na carreira solo [...] A gente vai entrar numa fase da indústria musical onde os grandes ídolos vão parar. É o momento de incógnita. Porque bem ou mal esses "dinossauros" meio que puxam o mercado. Quando esses caras não tiverem mais aqui, tipo em 10 anos,  que não vai ter mais Iron Maiden ou Metallica, eu pergunto: quem vai ficar?

Reprodução


Marcello Pompeu (Korzus)

A importância deles é muito simples de dizer e a mais importante para o nosso movimento: sem eles, nao existiria o heavy metal.....eles são os criadores do estilo. Tomara que não seja a última vez que eles tocam aqui no Brasil, espero que seja apenas um "blá, blá, blá" como outros tantos de outras bandas.

Pati Patah


Rafael Bittencourt (Angra)

O Black Sabbath é o grande inventor do heavy metal. O rock pesado já existia. Ele começou a tomar caminho mais pesados com o Led Zeppelin e o Deep Purple. Mas o Sabbath definiu o estilo. Foi ele quem misturou os temas mais sombrios enquanto todos estavam no psicodelismo. Os riffs do Tony, o jeito de tocar, o power chord, tudo isso foi definindo o heavy metal. Eles foram os grandes inventores do metal. Conseguiram conectar o thrash, o doom, o black e diferentes estilos. Por um lado fico um pouco triste com a turnê derradeira. Mas fico esperançoso que seja apenas um marketing e que eles voltem.

Divulgação


Felipe Machado (Viper/FM Solo)

O Black Sabbath era uma das 3 bandas que compunham o triunvirato do rock pesado, junto com Led Zeppelin e Deep Purple. Mas o Sabbath era muito mais pesado que os outros, que eram mais influenciados pelo blues. O Black Sabbath era a banda mais maldita, mais estranha, e justamente por isso a que mais nos fascinava no começo do Viper. Enfim, é uma banda onde todo mundo que gostava de rock pesado respeitava e ouvia muito até furar o vinil. É uma pena que eles estejam se despedindo, mas temos que respeitar, porque a saúde dos caras já não é mais a mesma. Eles não precisam mais provar nada para ninguém, já estão no Olimpo do rock. Felizmente, o Viper teve a oportunidade de abrir para o Black Sabbath não uma, mas duas vezes! Foi incrível. Uma das vezes, durante a passagem de som, a guitarra do Tony Iommi estava parada ao lado do palco... eu fui lá, sem ninguém ver, e encostei nela. Daí saí pensando: "encostei na guitarra que inventou o heavy metal" uma coisa tão boba, não? Mas foi muito emocionante. Só quem é fã vai entender isso.

Lucas Vieira/Divulgação


Ricardo Confessori (Angra/Shaman)

Os caras foram os primeiros no que se diz respeito à criação do heavy metal! Riffs pesado, letras maléficas, foram os pioneiros mesmo. Eu não perderia por nada a turnê de despedida, inclusive já garanti o meu. A galera mais nova tem que ter contato com esses monstros, pois eles são a fonte, o espírito ou a origem do metal, que tanto evoluiu hoje, mas se prestarmos atenção no que é novo, veremos a ideia do Black Sabbath toda ali presente!

Honório Moreira/UOL

Thiago Bianchi (Noturnall/Arena/Shaman)
A primeira música que cantei em minha carreira de vocalista de banda de metal foi "War Pigs". De fato, é uma das bandas responsáveis por eu ser músico hoje em dia. Para mim, o show aqui no Brasil é fantástico e ao mesmo tempo muito adiantado. Acredito que aqueles "garotos" ainda tenham muita lenha para queimar!. O heavy metal é um estilo muito sortudo de ter seus precursores ainda andando por aí. Se você pensar bem, o "bom e velho" heavy metal é na verdade ainda muito novo.

Outros depoimentos:

Alírio Netto – vocalista das bandas Age of Artemis, Khallice e HeavyPop
1 - O Black Sabbath foi umas das bandas que me despertou o gosto por um rock mais denso. Iron Man e daquelas músicas que mexem com você sem nem você perceber. Os riffs hipnotizantes do Tony Iommi e a voz meio robótica do Ozzy Osbourne despertam uma força interior que você se sente indestrutível.

2 - É triste ver o tempo chegar para nossos ídolos. Envelhecer faz parte da trajetória do ser humano e essa última turnê traz para gente que é fã um monte de sentimentos nostálgicos que nos fazem lembrar disso. Fico triste por um lado, mas entendo que sempre poderemos visitar a obra da banda através dos registros e do legado do Sabbath. Todos nós bebemos nessa fonte. Só tenho a dizer muito obrigado Black Sabbath!

Mario Pastore – vocalista das bandas Heaviest, Powerfull e Pastore

1 – O Black Sabbath foi muito importante para mim no meu início como vocalista. Eu escutei o álbum Volume 4 quando tinha uns 14 anos e no ano seguinte eu escutei o Mob Rules da fase Dio e pirei no vocal dele. Sou muito influenciado pelo Sabbath e por esse álbum em especifico. Mas sou fã de todas as fases.

2 – Quem tiver a oportunidade de assistir com a formação praticamente completa não deve perder pois é algo histórico. Realmente vale a pena!

Leandro Caçoilo – vocalista das bandas Seventh Seal, Pit Passarell: A Viper Experience, Hardshine e Sancti

1 - O Black Sabbath é a banda percursora do metal e sem eles não estaríamos aqui. Sou muito fã de todas as fases e gosto muito da era Dio.

2 - É uma ótima oportunidade para ver os gigantes do metal pela última vez reunidos, então se você é fã não perca esta oportunidade!

Junior Carelli – tecladista das bandas Noturnall, Shaman e ANIE

1 – Black Sabbath foi uma das primeiras bandas que eu peguei os riffs de guitarra para passar para o teclado, pois eu achava os riffs muito pesados e musicais, o que trazia uma curiosidade de saber como soaria nos teclados. Gosto de todas as fases do Black Sabbath e sou muito fã de toda a carreira da banda.

2- Quem é fã de Rock e Heavy Metal merece estar nesse show, não somente músicos, mas todo mundo, pois a raiz do estilo estará nesse show. É um evento imperdível e que merece ser visto por todos.

Bento Melo – baixista da banda Sioux 66

1- O Black Sabbath é uma das minhas maiores influências como músico. Me apaixonei pelos riffs de guitarra do Tony Iommi pela simplicidade, peso e força que ele tem. São características que eu sempre tento utilizar quando estou compondo.

2- É imperdível. São três dos criadores de tudo ali juntos, é histórico. É uma pena que seja uma despedida, mas isso torna o show ainda mais especial e com certeza será um espetáculo. É um evento daqueles eventos para contar para os filhos e netos que você viu.

João Gordo – vocalista da banda Ratos de Porão

Black Sabbath é a banda mais importante de história do rock mudou minha vida e de milhões de jovens dos anos 70 .... Já vi na França no Hellfest e é impressionante. Acho ótimo um final digno deixando aquele gosto de quero mais para sempre.

Marcus Dangelo, Claustrofobia

1 - Eu amo todas as fases do Black Sabbath, sem eles eu não teria descoberto esse estilo musical que é uma filosofia de vida para mim. Qualquer pessoa que goste de Heavy Metal ou Rock and Roll com atitude e sombrio tem a influência direta ou indireta do Black Sabbath, gostando ou não. São os criadores e sua música é eterna e atemporal.

2- Mesmo sendo uma tour anunciada como a despedida sinceramente não acredito muito nisso esses caras superaram muitas coisas, acredito que passe um tempo e os caras resolvam fazer outra tour. A vida e curta e eles ainda fazem a cabeça do mundo do Heavy Metal. Independente disso sua música é atemporal e eterna.

Jonas Cafaro, baterista do Matanza

1 - O Sabbath é daquelas bandas que ajudaram a definir o que é rock. Desde os riffs de "Iron Man" que aprendi a tocar na escola, passando pelo clima de terror da música "Black Sabbath", ou a fase mais experimental do disco "Sabotage", até depois que o Ozzy saiu quando consolidaram o heavy metal, mas sempre com uma pegada blues. Se eles criaram isso tudo e me considero um apreciador de rock'n'roll, como não ser fanático?

2- Eu geralmente sou extremamente contra a famigerada Pista VIP que ocupa a frente do palco e deixa os meros mortais vendo a banda bem de longe. Mas nessa última turnê acabei comprando... É essa a importância da última turnê de uma das mais importantes bandas do século passado. Uma grande pena o problema com o Bill Ward, eu como baterista gostaria muito de vê-lo no palco.

Marcão, ex Charlie Brown Jr

1 - O Black Sabbath foi o principal responsável por eu tocar guitarra, eles são os pais do Heavy Metal!! Fizeram o que considero mais valioso na música; criaram um estilo próprio é influenciaram gerações.

2 - Oportunidade rara de assistir o Sabbath com Ozzy no vocal. É a fase que mais gosto, já assisti com o Dio e foi um dos melhores shows da minha vida! Vai ser inesquecível!!

Hugo Mariutti (Andre Matos)

O Black Sabbath foi praticamente a banda que criou o estilo. Acho muito difícil alguem que toque ou goste de heavy metal que não tenha influencia de Black Sabbath.

Triste por ser a ultima, mas faz parte do ciclo da vida.

Já fizeram muito pela musica, mereceram tudo que conquistaram. Teremos uma grande banda a menos.

Fabio Ribeiro (Remove Silence/Motorguts/ex-Shaaman-Angra)

- Black Sabbath foi uma das primeiras bandas de heavy metal que ouvi, juntamente com o Iron Maiden. Na época estavam lançando o álbum Mob Rules. Sou tecladista, mas ingressei na minha primeira banda tocando guitarra. Esta influência certamente veio de Tony Iommi e seus riffs inigualáveis! Mas eu não levava jeito para o instrumento e meus companheiros de banda me convenceram a partir para o teclado, já que eu estudava piano desde 1975. :)

- Uma oportunidade única para assistir os criadores do heavy metal, uma das mais icônicas bandas do planeta!

Nando Fernandes (ex-Hangar)

Ouço essa banda desde meus 6 anos de idade, adoro todas as formações e faço parte de um tributo chamado VOODOO, sobre a turnê de despedida, acho digna, e digo mais, é um momento de coroação aos criadores do Heavy metal, será um show muito emocionante!

Bruno Ladislau (Andre Matos/Brand New End)
- O Black Sabbath foi uma das bandas que me ensinou o real sentido do Heavy Metal. Independente da fase, eles sempre deram prioridade a boas composições.

- Essa turnê marca o fim de um ciclo. Cabe agora a cada um de nós continuar essa história chamada "Heavy Metal", cada um a sua maneira.

Antonio Araújo (Korzus/One Army Away)
Não há como ser um músico de heavy metal sem ter algum tipo de influência dos caras... Eles são os pais da maldade na música pesada.

Estou ansioso por esse show... Vi da última vez em São Paulo e estarei nesse novamente. Não dá pra perder esse momento histórico.

Guilherme Martin (VIPER, TOYSHOP, FM SOLO)

O Black Sabbath com certeza foi a banda que mais me influenciou no início de minha carreira, era a grande banda underground da época, com riffs poderosos de Tonny Iommy e Geezer Butler e as batidas todas fora de contexto de Bill Ward.
Ozzy foi e ainda é meu grande ídolo e personalidade no rock, e influência, um dos artistas que mais li e pesquisei des de que comecei a gostar do estilo, o cara mais louco e divertido do Rock, fez tudo na vida pelos caminhos mais tortos possiveis e tornou-se uma das maiores personalidades da musica do século.
No começo dos anos 80 , encontrar algum cara com camisa do Balack Sabbath era uma identificação, como se fossemos um grupo de pessoas contra todas as convenções, mesmo às musicais.

Eu vi o Black Sabbath na tour Reunion , no inicio dos anos 2000 em Los Angeles, e foi emocionante vê-los depois de tantos anos , tocando aqueles hinos todos que marcaram minha vida!
Acho que assisti o Black Sabbath em todas as suas formações, até aquelas que eram menos glamurosas, diferentes a volta dos membros originais, mas sempre a banda me emocionou, seja com quem estivesse no line up!

Não gostaria que fosse a tour de despedida, mas infelizmente o tempo vai passando ,e faço questão de estar presente , como se eu estivesse me despedindo de alguns amigos , que embora nem saibam ,foram pessoas muito importantes para mim e acredito que para uma geração de fãs que se identificaram com estes caras que sem dúvida mudaram o rock e inventaram o Heavy Metal.

Banda Salário Mínimo

Assim como aconteceu com milhares de jovens, foi o Sabbath que nos introduziu ao mundo da música pesada. Eles nos inspiraram desde o início da nossa carreira, sendo o perfeito exemplo de como aliar tensão e melodia, à uma linguagem de fácil assimilação. É uma dádiva o Brasil estar na rota desta turnê de despedida, dando chance a todas as gerações de reverenciar, pela última vez, quem criou e deu legitimidade ao nosso amado Heavy Metal.

Ivan Busic ( Busic Brothers/ex- Dr Sin)

Bom, Black Sabbath, quando eu falo por mim, com certeza também falo pelo meu irmão, Andria Busic, a gente cresceu junto com essa coisa toda de conhecer tudo ao mesmo tempo, né... Black Sabbath é uma das nossas bandas favoritas, junto com outros medalhões como Deep Purple, Hendrix, Led Zeppelin, Van Halen, esses tipos de bandas, o Black Sabbath, com certeza mora no nosso coração, é uma grande influencia pra gente em tudo que a gente já fez. Acredito que entrou no nosso coração, no nosso sangue, tudo que o Black Sabbath já fez e suas ramificações, as carreiras solo de Ozzie, Dio e etc, sempre tem muita coisa que a gente admira, inclusive das ramificações. Mas, Black Sabbath mesmo, a banda, eu tenho tudo, todos os discos, eu e meu irmão. Pra nós, é uma coisa muito triste saber que eles vão parar, gostaria que eles pensassem como o Paul McCartney que diz: Se aposentar, pra que? Pra ficar vendo TV (risos). Eu espero que eles depois voltem, nem que seja em shows comemorativos, porque amo muito Black Sabbath, acho que é com certeza a banda, uma das 3 bandas mais pesadas de todos os tempos, é um hard rock/metal maravilhoso e é uma influência eterna pra nós, sempre vai ser algo que vai estar no nosso coração. Dificilmente eu passo uma semana sem ouvir alguma coisa do Black Sabbath. Como falei, temos tudo deles e é um som que arrepia e vai arrepiar pra sempre.

Sem contar que o Black Sabbath já foi, em centenas de oportunidades, parte dos nossos shows, tocando os covers deles, vários... Uma música chamada "It's All Right" que era cantada pelo Bill Ward no disco, que as pessoas achavam que era do Guns'n'Roses, fez parte do nosso show por muito tempo, na época do Dr. Sin... Então é parte da nossa vida e sempre vai ser.

Puxando na lembrança, tocar no mesmo dia que eles no Monsters Of Rock foi maravilhoso e um sonho pra nós.

Fonte: http://musica.uol.com.br/noticias/redacao/2016/12/04/icones-do-metal-nacional-se-despedem-do-black-sabbath-definiram-o-estilo.htm

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

"Queen nos Bastidores" (Peter Hince)

Por Andréa Pietro (publicado originalmente no blog Maidens in Metal)

Acabei de ler, esses dias, o livro "Queen nos Bastidores - Minha Vida com a Maior Banda de Rock do Século XX", do inglês Peter Hince. Ganhei do Maridão, de presente de aniversário, e adorei!

Peter começou como roadie do Queen, mais frequentemente de John Deacon, e depois passou a chefiar a equipe técnica, trabalhando para eles durante praticamente toda a vida útil da banda. Esteve ao lado deles em todas suas turnês dentro e principalmente fora da Inglaterra, gravações dos álbuns e filmagens dos clipes. O livro é escrito de forma muito elegante, o autor faz questão de dizer que não foi incluído nenhum detalhe escabroso ou desnecessário sobre a vida privada dos membros da banda, apenas histórias ocorridas "on the road" e curiosidades sobre Freddie, Brian, Roger e John e sobre todo o universo que os cercava.

O que temos, então, é um relato de como era a vida profissional de uma grande banda de rock, e de como é o trabalho que existe por trás da mesma, para que tudo aquilo possa acontecer, escrito por um cara que realizou o sonho de muitos jovens de classe média inglesa dos anos 70 - fazer parte daquilo tudo. Ele começou, adolescente ainda, a trabalhar como roadie para a banda Mott The Hoople, em 1973 e algum tempo depois, quando o Queen passou a abrir os shows da banda (bem mais famosa na época), foi contratado por Freddie & companhia.

Nem tudo era diversão, brincadeiras, sexo, drogas e rock and roll, muito embora fosse óbvio que tudo isso existia. Trabalhava-se duro, quase vida de operário mesmo, era desgastante, cansativo e tenso. Mas para Peter Hince, apelidado como "Ratty" (pois Freddie achava que ele parecia um rato) valeu a pena, pois durante o tempo que trabalhou para o Queen ele não só fez parte da história de uma das maiores e mais importantes bandas de todos os tempos como também se divertiu um bocado, encontrou muita gente interessante e conheceu boa parte do mundo. E ganhou uma nova profissão também, pois com suas economias ganhas como roadie, ele comprou uma câmera semi-profissional e passou a fotografar o cotidiano dos bastidores do Queen, algumas dessas fotos estão no livro também. Com o tempo, Peter foi tomando gosto pela fotografia e acabou se tornando profissional, voltado para a área de propaganda. Amostras de seu trabalho podem ser vistas em seu site oficial.

O livro "Queen nos Bastidores - Minha Vida com a Maior Banda de Rock do Século XX", de Peter Hince, saiu no Brasil este ano, pela editora Prumo e com tradução de Maria Elizabeth Hallak Neilson. É ótimo de ler, principalmente para aqueles que amam o rock and roll e sua história.
 

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Matéria: Global Metal

Por Wesley Rodrigues



Global Metal é a segunda investida cinematográfica de Sam Dunn, que fez relativo sucesso com Metal: a headbanger’s jourmey e que atualmente tem trabalhado em documentários sobre o Rush e o Iron Maiden, a serem lançados esse ano ainda. O resultado é bem superior ao do primeiro filme. Se antes o cineasta-antropólogo pretendia explicar a rejeição e preconceito que o Heavy Metal sofria através de um filme que tratava múltiplos temas de forma fragmentada, pouco analítica e por vezes gratuitamente apologista, dessa vez ele fez um filme mais coeso e com uma direção mais definida. O primeiro, apesar de divertido, tem pouca relevância informativa e reflexiva para quem já é fã do estilo. Já Global Metal permite um interessante “exercício de alteridade”, além de perpassar assuntos fundamentais do mundo contemporâneo como globalização, democracia, nacionalismo e identidade.

Dunn quer investigar o heavy metal como fenômeno global, ou seja, porque algo europeu e americano está também presente em países tão distantes do mundo ocidental de primeiro mundo onde ele foi concebido. A estratégia é semelhante à do primeiro filme: muitas viagens para fazer o que é a alma do trabalho, as entrevistas. Isto é, trata-se de um filme onde os holofotes estão mais postos sobre essas pessoas que o cineasta vai conhecendo pelas suas andanças, do que sobre as reflexões desenvolvidas a partir destes entrevistados. Apesar de uma obra ter sempre a incontornável marca da visão de seu autor, como fica óbvio aqui nas diversas intervenções narrativas que são feitas, tem-se também que Dunn é tão turista e ignorante dos lugares e pessoas que visita quanto quem está assistindo, sendo ele não muito mais do que o cara que ligou a camêra e pôs o microfone para que pudessem falar.

A primeira parada foi o Brasil, onde se “concluiu” (nossa!) que aqui o Heavy Metal foi remodelado pelo Sepultura, que enxertou elementos brasileiros (leia-se indígenas e afro-descendentes) à música pesada, na procura de uma originalidade e identidade, coisa que também foi observada por Dunn em outras partes do mundo, como o Japão. De mais interessante foram os comentários, principalmente os de Carlos Lopes, sobre um certo boom por música pesada que teve por aqui quando do Rock In Rio I, uma espécie de necessidade de expressão que a juventude de então tinha, e do qual ainda era carente, e que se relacionaria com o fim da ditadura em processo naquele momento. Só isso merecia um documentário próprio, com a profundidade que não se pôde dar aqui.

Quando parte para o Oriente o documentário se torna mais valoroso, e por vezes emocionante. Visitando diversos países islâmicos, mostra-se como o Metal é uma forma de expressão contra a opressão cultural e a tradição. Mas essa não é uma via de mão única. Tal como faz o Sepultura com sua “brasilidade” , o Heavy Metal é utilizado para afirmar esse mesmo islamismo. Esse também é o caso das bandas sionistas e religiosas entrevistadas em Israel. Interessante também foi ver como Heavy Metal tem um significado político subversivo em países como o Irã, a China e a Indonésia, vítimas de ditaduras, sendo meio que um canal de sublimação para a falta de liberdade e uma resistência para as forças culturais e políticas normatizadoras vigentes.

O cárater inédito dessa abordagem, descortinando coisas pouco conhecidas do público headbanger e relevantes para além desse grupo, é que torna válido alguém gastar seu tempo assistindo Global Metal, que sem dúvida é um bom primeiro passo para discussões e futuras obras sobre o tema.

(Post escrito ao som de Inner Sanctum (Saxon) e dedicado ao meu amigo Carlos)

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A antropofagia heavy metal: a resistência brasileira ao discurso colonial na literatura e na música pesada

Por Flaveus Van Neutralis

A dominação político-cultura: os anos de colonialismo e de imperialismo

Não se pode pensar o presente sem deixar de se pensar no passado. Digo isso pois, mesmo no século XXI ainda pode-se facilmente encontrar ecos do período colonial em nossa cultura. “Em nossos dias, não existe praticamente nenhum norte-americano, africano, europeu, latino-americano, indiano, caribenho ou australiano-a a lista é bem grande- que não tenha sido afetado pelos impérios do passado”.[1] Para começar basta refletirmos a respeito de como o europeu ao pisar nas novas terras não apenas aniquilou populações indígenas fisicamente, mas também culturalmente. Tais culturas tiveram seu quase completo apagamento bastante facilitado pelo fato de serem pouco registradas. Esse caráter de quase total agrafia propiciou ao dominador branco europeu uma forma mais simples de doutrinar os povos com seus preceitos religiosos, literários e culturais. No caso de nosso país, para entendermos bem a extensão de tal processo, basta tentarmos delimitar o que sobrou para nós nos dias de hoje da cultura e história indígena. Evidentemente que o pouco que nos resta no presente é um pouco que foi escrito sob a ótica do dominador, o que propicia um tipo de discurso altamente limítrofe. E seria ingênuo afirmar que a Literatura, a Música e a Cultura como um todo não refletiram e não refletem de alguma maneira tais idéias. Os escritores e artistas da Europa como um todo jamais estiveram alheios ao processo de colonialismo e de imperialismo. Essas questões coloniais manifestaram-se em suas realizações artísticas, assumida ou veladamente, e conforme exemplificarei ao longo do texto, ainda se manifestam.

Ainda sob a visão do europeu sobre os “nativos” dominados, acredito que não seja revelador afirmar que o branco, nos primeiros tempos de colonização, moldou no índio uma visão sobre ele mesmo que pudesse acima de tudo viabilizar e justificar o processo de dominação. E tal visão, incrivelmente observando, fora o fato de ter sido absorvida pelo nativo (em muitos casos com resistência e derramamento de sangue, mas no final das contas, absorvida), ainda ecoou pelos séculos seguintes. Faço questão de citar aqui uma passagem no mínimo escabrosa de Jules Harmand, proferida em 1910, acerca do colonialismo britânico:

É necessário, pois, afirmar como princípio e ponto de partida o fato de que existe uma hierarquia de raças e civilizações, e que nós pertencemos à raça e civilização superior, reconhecendo ainda que a superioridade confere direitos, mas, em contrapartida, impõe obrigações estritas. A legitimação básica da conquista de povos nativos é a convicção de nossa superioridade, não simplesmente nossa superioridade mecânica, mas nossa superioridade moral. Nossa dignidade se baseia nessa qualidade, e ela funda nosso direito de dirigir o resto da humanidade. O poder material é apenas um meio para esse fim.[2]

Falando em termos simples, o europeu como um todo, no decorrer do período colonial e mais tarde do período imperialista, convenientemente necessitava desse tipo de discurso e necessitava que o dominado, o elemento da suposta “raça inferior”, também assimilasse tal discurso. E da mesma forma que muitos europeus hoje sentem um certo remorso de suas experiências imperiais do passado, muitos certamente ainda se orgulham e gostariam que os “velhos tempos” ainda fossem vigentes. E é digno de nota que ainda que hoje em dia tenhamos acesso a uma série de profundos e detalhados estudos pós-coloniais ainda possamos encontrar diversos grupos que, assumidamente ou inconscientemente, assimilam a postura de colonizado e de alguma forma afirmam que a experiência de dominação colonial e imperial trouxe muito mais benefícios do que malefícios. Para falar um pouco mais sobre como esses valores de dominação se fazem vigentes ainda hoje, recorro a algumas definições e reflexões acerca do conceito de cultura(s).

Culturas entrelaçadas

Ninguém que se proponha a desenvolver um estudo sobre a cultura brasileira deve deixar de encará-la sob uma perspectiva plural. Falar de uma cultura brasileira parece-me por demais estreito, ainda mais levando-se em consideração que nós, enquanto colonizados, recebemos uma forte influência cultural de nações da Europa (conforme já falei anteriormente)além do já famigerado processo de miscigenação racial. Falar de uma suposta unidade da cultura brasileira é ignorar toda a diversidade de raças (sem a intenção de denegrir grupo algum) e, principalmente, de classes sociais.Para aprofundar mais meu ponto faço menção ao pertinente estudo feito por Alfredo Bosi em seu Dialética da Colonização. Se entendemos o termo cultura como uma herança de valores e objetos compartilhada por um grupo humano relativamente coeso, podemos estabelecer no cenário brasileiro o binômio cultura universitária e cultura popular.

Pode-se enxergar a cultura universitária como uma forma de investimento a ser feita por grupos restritos, um objetivo a ser alcançado e propagado por representantes das classes média e alta. Uma entidade de saber feita por essas classes para essas classes, em sua grande maioria. Se entendemos a cultura universitária como a cultura predominantemente composta por membros das classes média e alta, podemos, antagonicamente, ver a cultura popular como composta por grupos das classes menos abastadas. Denominando este argumento de culturas muito apropriadamente como “culturas que se produziram sempre sob o ferrete da dominação”(p.323), Alfredo Bosi classifica como “populares” essas manifestações encontradas fora do eixo escolar/universitário, pequenas instituições que existem em alteridade em relação às grandes instituições culturais socialmente prestigiadas. São exemplos desta cultura popular as religiões afro-brasileiras, as festas regionais, o rituais indígenas, abrangendo até mesmo grupos evangélicos e católicos. A cultura popular acima de tudo é um modo de viver do homem.

É nesse momento que se insere uma outra importante noção de cultura, paralela às duas apresentadas. Atualmente não se pode ignorar a existência da cultura de massas, a cultura enquanto um bem de consumo. Destaco aqui as palavras de Alfredo Bosi[3] :

O homem da rua liga o seu rádio de pilha e ouve a música popular brasileira ou, mais freqüentemente, música popular (ou de massa) norte-americana. A empregada doméstica liga o seu radinho e ouve a radionovela ou o programa policial ou o programa feminino. A dona de casa liga a televisão e assiste às novelas do horário nobre. O dono da casa liga a televisão e assiste com os filhos ao jogo de futebol. As crianças ligam a televisão e assistem aos filmes de bangue-bangue. Quase todos ouvem o repórter da noite. A música e a imagem vêm de fora e são consumidas maciçamente. Em escala menor, o jornal, ou a revista, dá a notícia do crime, ou comenta as manobras da sucessão ou os horrores da seca ou a geada do Paraná. Em escala menor ainda, o casal vai ao cinema: assiste ao policial, à ficção científica, à comédia ligeira, à chanchada. Os adolescentes lêem histórias em quadrinhos. As adolescentes lêem as fotonovelas. Tudo isto é fabricado em série e montado na base de algumas receitas de êxito rápido. Há revistinhas femininas populares e de classe média que atingem a tiragem de 500 mil exemplares semanais, com mais de um milhão de leitoras virtuais. Isso é cultura de massa, ou, mais exatamente, cultura para as massas. (P.320-321)

Não é exagero afirmar que a partir de um determinado ponto do século XX ninguém poderia considerar-se excluído ou alheio a esse “universo cultural administrado”. Até mesmo o universitário, mesmo tendo uma consciência crítica dessa esfera cultural, hoje em dia é afetado por ela, tem seu imaginário e sua visão de mundo construída em algum grau pela dita cultura de massas. No âmbito da dominação cultural não precisamos nos alongar muito para perceber como esses mecanismos de cultura de massas auxiliam, em terras do dito “Terceiro Mundo”, a propagar um discurso de imperialismo cultural. Basta observarmos a enxurrada de filmes e seriados norte-americanos que recebemos hoje em dia ou a lista de livros mais vendidos em livrarias, os em geral, não-brasileiros. Não quero de forma alguma assumir nenhuma postura de nacionalismo extremo ou chauvinista (posturas essas que criticarei ainda no presente texto). Apenas quero ressaltar como os mecanismos dessa cultura comercializada exercem um papel importantíssimo no processo destacado. Para direcionar a discussão para o ponto que quero alcançar faço menção ao célebre ensaio de Theodor Adorno intitulado “Sobre música popular”, o qual, conforme já preconiza em seu título, estabelece uma distinção entre o que o autor define como música “popular” e música “séria”. A despeito da visão um tanto quanto depreciativa dessa contraposição de música “séria” versus “não-séria”, o autor calca sua discussão sobre a música popular no conceito da estandartização, que, a grosso modo, pode ser encarado como o conjunto de padrões que transformam uma canção em um hit comercial. Uma espécie de molde, de pré-condicionamento, de fórmula para um sucesso comercial rápido. A canção popular não se calca, segundo o pensamento adorniano, numa noção de totalidade, mas de parcialidade. Um hit estaria condicionado a fatores previamente estabelecidos e o ouvinte, também inserido nesse conceito de estandartização, estaria também pré-condicionado a aceitar os elementos que atuam na composição dessa canção de sucesso (as melodias de fácil assimilação, as estruturas anteriormente moldadas de estrofe-ponte-refrão, etc.), enquanto a dita música séria estaria inserida numa concepção musical mais completa, como parte indissociável de uma grande obra, de um todo. Como exemplifica o próprio autor “na introdução do primeiro movimento da Sétima Sinfonia de Beethoven, o segundo tema (em dó maior) só alcança o seu verdadeiro significado a partir do contexto. Somente através do todo é que ele adquire a sua peculiar qualidade lírica e expressiva (…)”(P.117). Nada equivalente poderia ocorrer com a música popular, segundo Adorno. Retomemos de maneira bem reducionista a história do desenvolvimento da música popular. A Indústria Musical efetivamente desabrochou na década de 1930.Músicos de talento, de diversos estilos e tendências diferentes, precisavam ser remunerados para continuarem produzindo boas canções. Surgiu então uma oportunidade inovadora para a época: a de que as pessoas pudessem comprar música, e não apenas escutá-la pelo rádio ou em apresentações ao vivo. Obviamente, para que as pessoas comprassem música fazia-se necessária uma mídia, uma forma de se compartimentalizar a música para que o cliente pudesse levá-la para sua casa. Assim nasceu o long-play, o vinil. Mas, ainda que diversas bandas nos anos seguintes lançassem discos com uma ou duas canções apenas (os ditos singles), a Indústria Musical logo se deu conta da inviabilidade econômica de se produzir essa mídia para comportar tão pouco material, quantitativamente falando. Foi daí que surgiu na música popular o conceito de álbum, o qual já começa ser tido como padrão já nos primeiros idos da década de 1960. Theodor Adorno evidentemente viveu para ver a ascensão do conceito de álbum na música popular, entretanto, num primeiro momento, um álbum era um apanhado de hits, ou seja, não constituíam um todo, mas um agrupamento de várias partes que poderiam ser independentes. Não faria diferença alguma pegar, por exemplo, um dos primeiros discos dos Beatles (como o disco Please, Please me, de 1963) e lançá-lo como uma série de singles, já que as músicas não obrigatoriamente compunham um todo, estética e liricamente falando. Mas tais conceitos começaram a mudar ao término da década de 1960, curiosamente bem perto do ano de falecimento de Adorno. Já que citei um exemplo dos “quatro rapazes de Liverpool”, tomo a liberdade de mencionar outro deles. Em 1967 os Beatles lançaram Sgt.Peppers Lonely Hearts Club, que marcaria um redirecionamento na proposta da banda. As melodias simples, inseridas na já mencionada estandartização adorniana, ou, simplificando muito, o pré-fabricado esquema “introdução-verso-verso-refrão-verso-refrão-solo de guitarra-refrão-fim da canção”, seria completamente subvertido em canções extensas, repletas por experimentalismos diversos, letras de conteúdo bem mais ambíguo e até etéreo (um reflexo da psicodelia de então) e, acima de tudo, composições que estariam conectadas umas às outras, seja por sua abordagem lírica e musical ou pelas faixas dos álbuns se entrelaçarem (o término da canção primeira ser imediatamente o início da segunda, sem pausa entre as faixas). Tal concepção de álbum mais tarde desenvolveu-se e gerou duas distinções: os álbuns conceituais e os temáticos. Um bom exemplo daquele é o disco Thick as a Brick, da banda de rock progressivo Jethro Tull, que é composto de uma única canção de exatos 43:50. Entende-se álbum conceitual como um disco em que não apenas a idéia mas também as canções se entrelaçam entre si, como se o disco todo fosse uma única canção de imensa duração. E no que concerne o álbum temático, podemos ter canções isoladas do ponto de vista da composição, ou seja, faixas que podem até vir a ser tocadas isoladamente. Entretanto, seu processo de composição, arranjamento e de abordagem lírica é extremante intrincado, coeso, construído em cima de uma mesma idéia, de forma que mesmo que uma canção toque nas rádios como um hit, ela sempre remeterá a seu álbum original. Ou seja, as discussões que Theodor Adorno levanta em seu texto “Sobre música popular” a respeito da música popular enquanto parte em contraposição à música “séria” enquanto todo são bastante válidas em sua época, mas podem ser questionadas no que diz respeito a um determinado grupo de representantes da música popular.

Sepultura: os Canibais do Heavy Metal[4].

É evidente que não foi despropositalmente que discorri tanto a respeito de noções como a de Indústria Cultural, Cultura de Massas e a oposição música popular versus música séria. Iniciei esse texto descrevendo o processo de dominação cultural em contextos pós-colonias e imperialistas e, em seguida, ao descrever segmentos de cultura, apontei a esfera da cultura de massas como grande propagadora desses discursos de sobreposição cultural. O que esbocei no parágrafo anterior e que irei expor agora é como certos elementos dessa Indústria Cultural conseguiram, de alguma forma, repensar questões que pairam sobre eles mesmos, e desenvolver suas concepções através de tais questionamentos, sempre com um foco na Música e na Literatura. Começo meu diálogo com um dos maiores fenômenos da música pesada brasileira dos últimos vinte anos, a banda Sepultura.

A história da banda tem início em 1983, quando os irmãos Cavalera, Max (vocalista e guitarrista) e Igor (baterista) juntam-se a dois amigos, Jairo (guitarrista) e Paulo Jr.(baixista) e formam a banda. O Sepultura, já com esse nome desde seus primórdios, era uma banda brasileira, sim, mas que tinha como influências bandas não-brasileiras (em sua maioria, européias). Tal influência fazia-se perceptível na maneira que as canções eram compostas, no fato da banda não cantar em sua língua-mãe, o Português, e também em temas abordados em suas letras, bastante inspirados nas mesmas temáticas das bandas de seus ídolos.Mas a partir de um determinado ponto da década de 1990 a banda redefiniu sua identidade musical de forma ousada para a época. Foi com o lançamento do disco “Chaos A.D.” que o Sepultura começou a mostrar ao mundo um heavy metal notoriamente brasileiro. Tal “brasilidade” se fez mais presente em letras voltadas diretamente para o Brasil, tais como a poluição extrema na cidade de Cubatão, o massacre no presídio paulista Carandiru e a violência urbana, além de ritmos tribais em uma faixa instrumental e experimental denominada “Kaiowas”. Tais experimentalismos musicais serviram de preparação para um disco que foi um divisor de águas na carreira da banda, lançado em 1996: “Roots”. O título do referido álbum já se faz bastante sugestivo: “raízes” em inglês. E bastante interessante era também a capa do disco, que apresenta a figura de um indígena, imagem recorrente ao longo de toda a concepção gráfica do trabalho. A banda chegou a passar uma temporada com os índios da tribo Xavantes, no Mato Grosso do Sul. Os experimentalismos musicais entre o heavy metal e os sons indígenas (visto pelo olhar de fora como “tipicamente brasileiros”) ocorrem ao longo do álbum como um todo, este repleto de tambores, batuques, sons de berimbaus e até mesmo o áudio de um ritual indígena gravado na íntegra, na faixa “Itsari” (Que significa “raízes” na linguagem dos índios Xavantes). E como se já não bastasse uma musicalidade repleta de elementos brasileiros mesclados com europeus, boa parte das letras do álbum refletem também essa mesclagem. Há o emprego de temas voltados para o cenário brasileiro como o perigo da extinção da Amazônia, a ditadura de 1964, o conceito de “tribo” indígena empregado em comparação com o de identidade nacional-ideológica de um povo como um todo.Cabe aqui a transcrição da letra “Roots, bloody roots”, acompanhada de uma tradução livre:

Roots, Bloody Roots (4x) / Raízes, sangrentas raízes (4 x)

I / Eu
Believe in our fate / Acredito em nosso destino
We don't need to fake / Nós não precisamos fingir
It's all we wanna be / É tudo que precisamos ser
Watch me freak! / Me observe surtar!
I say / Eu digo
We're growing every day / Estamos crescendo a cada dia
Getting stronger in every way / Nos fortalecendo de todas as formas
I'll take you to a place / Te levarei a um lugar
Where we shall find our / Onde encontraremos nossas
Roots Bloody Roots (4 x) / Raízes, sangrentas raízes (4 x)
Rain / Chuva
Bring me the strength / Me traga a força
Is breeding me this way / Me cultiva dessa forma
To get to another day / Para chegar a um outro dia
and all I want to see / E tudo que quero ver
Set us free! / Nos liberte!
Why / Por que
Can't you see? / Você não vê?
Can't you feel? / Você não sente?
This is real - Ahh! / Isso é real- Ahhh!


I pray / Eu oro
We don't need to change / Para não termos que mudar
Our ways to be saved / Nossos caminhos para ser salvos
That all we wanna be / Tudo que queremos ser
Watch us freak / Nos observe surtar


Mais do que tudo isso exemplificado, “Roots” carrega ao longo de suas letras uma forte mensagem de busca pela própria identidade e de luta contra a opressão, o que pode ser facilmente aplicável ao contexto aqui debatido especialmente considerando a já aqui comentada musicalidade mesclada da banda nesse disco. No caso específico da letra destacada acima, não há como não destacar passagens como “I pray/we don´t need to change/our ways to be saved” ou “I´ll take you to a place/where we shall find our roots, bloody roots”. “Roots, bloody roots” é a canção que abre o disco e possui uma letra que serve como carro-chefe de todo um discurso pró-valorazão de raízes da cultura brasileira (no caso do disco, o indígena, as “raízes” da nação brasileira) em uma relação de alteridade com outras culturas. A questão da língua também não pode ser ignorada, tendo em vista que, ao contrário de uma série de bandas brasileiras que cantam exclusivamente em língua inglesa por uma série de motivos, o Sepultura aqui se permitiu a composição de letras que misturassem os idiomas, vide o exemplo de uma outra canção do mesmo disco, a experimental “Ratamahatta”, que possui uma letra que, numa primeira e rasteira análise poderia ser classificada como de uma simplicidade quase beirando a pobreza, em verdade mostra-se de uma profundidade bem maior levando-se em conta o contexto aqui levantado. Temos, novamente, uma música extremamente pesada (as já mencionadas guitarras do heavy metal europeu) mescladas com uma quantidade enorme de batuques e um certo clima de misticismo, aliado a uma letra bem curta que possui algumas poucas partes em inglês a uma maior parte composta por palavras em língua portuguesa (“fubanga”, que é uma gíria que descreve uma pessoa feia e “bocada”, outra gíria delimitadora de alguma grande sorte) e termos indígenas (“maloca”, uma habitação indígena), além da citação de três personagens da cultura e da história nacional: Zé do Caixão, renomado cineasta brasileiro de filmes de terror que, assim como o Sepultura, foi altamente aclamado fora de sua terra natal; Zumbi dos Palmares, grande nome representativo da revolução dos escravos africanos contra os portugueses e Lampião, o lendário cangaceiro que aterrorizou o Sertão nordestino no começo do século XX. Nenhum elemento presente em “Ratamahata” é empregado em vão. Uma canção que, por sua letra e sua música, inicialmente poderia ser classificada como “boba”, “meramente experimental” ou até “doida”, definições estas que já escutei com bastante freqüência, em verdade mostra-se como uma “releitura heavy metal” da cultura brasileira: um apanhado de diversas culturas mescladas. Analisando o disco “Roots” sob um viés comparativo, vê-se que o mesmo pode ser encarado como uma “versão musical” do já célebre “Manifesto Antropofágico” de Oswald de Andrade, no qual temos a idéia do canibalismo como forma de obter a força do inimigo caiu como uma luva para a emblemática primeira fase do Modernismo brasileiro, da qual Oswald de Andrade foi um grande militante. O artista dos trópicos deveria “devorar” as características de seu opositor (no caso, o artista do “primeiro mundo”, da Europa) e transformá-las. Uma maneira bem interessante de se ver o processo de formação da Literatura Brasileira, tendo em vista que nenhum movimento ou escola literária que vingou nas terras tupiniquins teve sua origem aqui, mas sim nos círculos literários do Velho Mundo. O “Manisfesto Antropofágico” clamou por uma revaloração de valores indígenas com o intuito de se elaborar uma idéia de identidade nacional, esta assumidamente influenciada por questões estético-literárias européias mais não dominadas por elas. Da mesma forma foi o processo de composição de “Roots”, com seus tribalismos presentes e ritmos brasileiros tocados com guitarras pesadíssimas. Uma reação contra a música européia, uma “Revolução Caraíba Heavy Metal”. E é impossível não lembrarmos aqui da figura shakespereana de Calibã, da comédia “A Tempestade”. Falando em termos bem simples, temos nesta peça uma formidável metaforização do contato entre o colonizador e colonizado, o “outro” que chega até terras longínquas e tem um choque com o nativo, representado na figura do selvagem Calibã. É clássica a passagem em que o aborígine afirma que “é preciso aprender a xingar na língua do mestre”, ou seja, trazendo para a nossa reflexão, deve-se internalizar a cultura do europeu apenas para voltar-se contra a mesma. São inúmeras as retomadas de “A Tempestade” dentro dessa “temática da resistência”, tendo inclusive a referida peça sido reescrita em uma série de versões latino-americanas e caribenhas. Calibã é representado como o maior símbolo do hibridismo de culturas, como o “habitante original” da terra que foi conquistada e devastada pelo colonizador opressor, sendo, dessa forma, empregado como representante de uma idéia de “identidade nacional”. É importante frisar que a temática sobre o “selvagam”, o “nativo”, o “elemento primeiro destas terras” é recorrente em diversos outros discursos literários ou não, tais como “Iracema”, “Robinson Crusoe”, “Pocahontas”, dentre outros. É importante frisar que esses discursos, mais do que meramente evocar a figura do indígena como um representante de um suposto “verdadeiro eu nacional” pré-colonização, tais discursos focam a mistura cultural ocorrida no processo de dominação do dito Novo Mundo (hoje, “Terceiro Mundo”, “Mundo Subdesenvolvido”, e outros termos que não foram cunhados por nós…). Todos os elementos aqui comentados do disco “Roots” se relacionam com essa idéia de resistência cultural. Encaro esse disco como um álbum que é parte da já mencionada cultura de massas, logicamente, mas que, ao contrário do que foi dito por Theodor Adorno, não trabalha em prol de um “imbecilização”. É a cultura de massas repensando a si mesma e refletindo sobre uma série de outras questões e não apenas repetindo mimeticamente o discurso da cultura do colonizador. Trago à tona uma outra obra surgida também na segunda metade da década de 1990 que, também empregando a figura do índio, dialoga com a mesmas questões do referido disco do Sepultura. Trata-se da obra “Meu Querido Canibal”, do escritor contemporâneo Antônio Torres.

Cunhambebe, nosso querido canibal!

A obra “Meu Querido Canibal” merece ser levada em alta consideração dentro da dialética estabelecida nesse ensaio. A obra foi escrita em cima de uma extensa pesquisa sobre o início da história brasileira como a conhecemos, a partir da chegada do europeu nessas terras. O foco-mor paira sobre um personagem histórico, o índio Cunhambebe, um dos maiores líderes indígenas opositores à dominação portuguesa. A obra conta em detalhes a história dos primeiros contatos dos navegadores europeus com os índios e como esse contato entre as culturas foi marcado por opressão e resistência.

A narrativa de Antônio Torres passa por uma série de episódios históricos conhecidos, tais como a Confederação dos Tamoios, a organização social das tribos indígenas, o estilo de vida dos aborígines em assumida e enfatizada alteridade em relação ao dos europeus, o abismo que separa os dois povos em termos de crenças religiosas, a intervenção dos padres Jesuítas nas difíceis relações entre os europeus e os índios, a generalizada falta de caráter e ganância dos conquistadores portugueses e a fundação da cidade do Rio de Janeiro. Cunhambebe, líder da tribo dos tupinambás, é descrito como um índio forte, valente, grande estrategista militar e, como nos diz o próprio título da obra, canibal (“Este inacreditável gigante nutria-se de carne humana não apenas no sentido bíblico: orgulhava-se de possuir nas veias o sangue de cinco mil inimigos”). Tal antropofagia, obviamente, é bastante importante e não foi em vão que o autor escolheu a figura de um índio real para escrever uma obra que trata sobre choques culturais e a formação da atual noção de identidade nacional. É através da antropofagia que as culturas se conectam e se transformam em um processo de troca mútua e altamente metaforizada nesse contexto artístico literário. É o já mencionado ato de se “ingerir” outra cultura nos proclamado por Oswald de Andrade em seus Manifestos. A antropofagia, logo, representa a história da construção cultural e literária do país através da transculturação, do hibridismo de culturas, mesmo qualquer um tendo a plena noção de que tais transformações culturais não se deram de forma alguma sem derramamento de sangue ou tentativas de obliteração da cultura do dominado. Aliás, em sua precisa pesquisa histórica o autor nos deixa bem claro o quando o europeu tentou não apenas apagar mas reescrever a história dos índios e também dar a eles uma nova forma de ver a si mesmos, tal como mencionei no início do presente texto.

Diversas nações que um dia foram colônias européias, encontraram na figura do índio a melhor forma de se representar um verdadeiro ideal de nacional.E não foi diferente o caso brasileiro. No período romântico brasileiro tivemos em José de Alencar o maior exemplo de emprego da figura do índio com propósitos nacionalistas. Ainda que não se possa de forma alguma tirar o devido valor desta primeira grande tentativa em nossas letras de se representar o nacional, não se pode deixar de atentar para o fato que o retrato do índio presente em uma obra como “O Guarani” em muito difere da concepção original dos indígenas brasileiros, e muito mais se assemelha com a concepção do cavaleiro medieval europeu. Só a título de exemplificação, não me recordo do bom índio Peri em momento algum da trama de Alencar demonstrar alguma predileção canibal, e o mesmo ainda converte-se ao cristianismo na obra alencariana. E é essa a grande diferença que podemos encontrar na obra de Antônio Torres ou no disco da banda Sepultura: uma concepção do elemento indígena bem mais próxima do real, e não mais próxima da ótica do colonizador, mas da ótica do colonizado, do próprio índio. Tanto em “Meu Querido Canibal” ou em “Roots” podemos encontrar uma descrição da figura do índio marcada por notável verossimilhança, aquele através de pesquisa apurada e este através de contatos com tribos reais. E em ambas as obras temos um discurso claro do já altamente comentado nesse texto cruzamento de culturas enfatizado em um contexto de dominação e resistência ainda presente em nossos dias.

É notório que onde houve dominação também houve alguma forma de resistência. E não me refiro unicamente a resistências de ordem física, mas intelectual. E a melhor maneira de se atentar para tais focos de resistência no presente pode ser encontrado em diversos movimentos culturais de “reviviscência nacional” que eclodiram ao longo do século XX em países que um dia foram colônia. O sentimento de uma “verdadeira brasilidade” ou “verdadeira africanidade”, dentre outros tantos exemplos, por mais sejam imbuídos de uma consciência bem sedimentada dos processos de dominação e transculturação, pecam em geral por um fator: a ingênua proposta de se ignorar a influência da cultura européia na formação de sua própria cultura. Como podemos falar de uma “verdadeira” literatura,música ou cultura brasileira se nenhum movimento literário ou musical foi absolutamente germinado aqui em terras brasileiras?[5] Como apagar todos os séculos de misturas culturais ocorridas nesse país para tentar buscar um suposto sentimento de identidade nacional calcado na figura do índio unicamente, sendo que temos uma língua européia como idioma oficial da nação? Seria como aderirmos à proposta de Policarpo Quaresma de oficializar o tupi como língua oficial do Brasil. A bem da verdade é que para se ter uma compreensão mais realista e mais aprofundada do fenômeno da formação da cultura e da identidade nacional em qualquer país ex-colônia faz-se necessário estudar todo o processo sob a ótica da mesclagem de elementos culturais de diferentes origens.

Afinal, é fato que a experiência do imperialismo, ainda que através de métodos bastante questionáveis, foi uma experiência histórica de aproximação do mundo (mais claramente, entre o “Novo” e o “Velho” Mundo). A influência e a mistura de culturas foi recíproca, não se enganem. Em suma, concluo fazendo uma referência a Antônio Candido, que afirma que estudar Literatura Brasileira em verdade é estudar Literatura Comparada, já que temos e teremos sempre a referência européia. Vou além: estudar a cultura de qualquer ex-colônia como um todo (Literatura, Música, Teatro, etc) é estudar “Cultura Comparada”. E somente com uma abordagem do fenômeno cultural de tal amplitude é que podemos nos ver livres de quaisquer maniqueísmos, chauvinismos e nacionalismos exagerados ao refletir sobre qualquer acepção do termo cultura.


Bibliografia

BOSI, Alfredo. Dialética da Colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
COUTINHO, Eduardo. Literatura Comparada na América Latina. Ensaios. Rio de Janeiro:Ed.Uerj, 2003.
SAID, Edward. Cultura e Imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, página 48.
TORRES, Antônio. Meu querido Canibal. Rio de Janeiro: Editora Record, 2007.

Páginas na internet

“Manifesto Pau Brasil” e “Manifesto Antropofágico” retirados da página http://www.lumiarte.com/luardeoutono/oswald/manifpaubr.html . Última visita em 08/05/08.

Discografia

SEPULTURA. Roots. EUA: RoadRunner Records, 1996.
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[1] SAID, Edward. Cultura e Imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

[2] Citação extraída de SAID, Edward. Cultura e Imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, página 48.

[3] BOSI, Alfredo. Dialética da Colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

[4] Faço questão de expressar aqui um agradecimento especial a meu velho amigo Tarso do Amaral, escritor, pós-graduando em Literatura Inglesa e, como eu, amante de heavy metal. Em um debate a respeito das questões que abordo nesse texto, Tarso definiu Max Cavalera, ex-membro da banda Sepultura, como o “calibã do heavy metal brasileiro”. Tomei a liberdade de adaptar sua ótima frase e incluí-la em meu trabalho.

[5] Muitas pessoas me abordaram sobre esse assunto afirmando que o samba e a bossa nova seriam estilos genuinamente brasileiros. É evidente que eles desenvolveram-se em terras tupiniquins e, por conseguinte, são “mais brasileiros” que o heavy metal, por exemplo. Mas devo lembrar que o samba nasceu da música africana dos escravos, e que a bossa nova veio do jazz norte-americano. Logo, sem querer de forma alguma desmerecer esses dois estilos dos quais também sou um bom ouvinte, é complicado afirmar, emblematicamente, que eles seriam “100% nacionais”.

sábado, 15 de março de 2008

Matéria: Os Beatles Revolucionam a Música Pop*

A afirmativa de que é impossível falar da música popular do século XX sem ceder um lugar de destaque aos Beatles parece-nos ponto pacífico entre os especialistas e amantes dos diversos ritmos que são unificados sob este rótulo. Se avançarmos um pouco mais, asseverando que os quatro rapazes de Liverpool revolucionaram a música popular a nível mundial, ainda assim, teremos poucas vozes dissonantes. As discordâncias começam, porém, quando tentamos estabelecer exatamente no que consistiu tal revolução. Para muitos – quiçá a maioria – o binômio Beatles/Revolução não poderia jamais ser mencionado sem o complemento de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, o oitavo Long Play lançado pela banda. Com efeito, o disco trouxe consigo grandes inovações, tanto técnicas, quanto conceituais para a época (1967), sendo, até hoje, figurinha fácil nas listas de melhores álbuns pop do século passado.

De acordo com o ponto de vista aqui adotado, no entanto, o dito álbum não deve ser visto como um ponto de inflexão na trajetória dos Beatles, mas, sim, como um momento – talvez o culminante – de um processo mais longo, já revolucionário desde anos antes. Determinar o ponto preciso no qual se iniciaria tal processo é tarefa inglória e poderíamos, sem prejuízo da argumentação, selecionar pelo menos uma meia dezena de eventos adequados para tal título (por exemplo, a primeira vez que a formação que entraria para a História – John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr – tocou no legendário Cavern Club, em 22/08/1962, ou a primeira gravação conjunta de Lennon, McCartney e Harrison – de fato os cérebros criativos por trás da banda –, em algum momento de 1958). Sendo assim, deixemos de lado tão complexa, quanto infrutífera discussão, e partamos para o que realmente aqui nos interessa.

A tese que tentaremos sustentar nas linhas e parágrafos que se seguem é a de que a revolução pela qual os Beatles foram responsáveis deu-se muito mais no plano comercial, do que no artístico propriamente dito, proposição esta que tem seu corolário na afirmativa de que a importância que os Beatles têm, para a história da música pop, deve-se muito mais aos seus índices de vendagens de discos e popularidade mundial, do que pelo conteúdo/forma de sua música. Não queremos, com tal afirmação, arvorarmos na posição de meros iconoclastas, negando peremptoriamente o talento da banda. Pelo contrário, entendemos que tal talento constituiu o material vivo, a base em torno da qual desenvolveu-se o complexo comercial responsável pela venda de mais de um bilhão de álbuns. Com o fito de facilitar nossa exposição, abordaremos o dito complexo em dois aspectos distintos, evidentemente inter-relacionados: o imagético e o midiático.

Ao longo das últimas cinco décadas, muito se tem falado acerca da influência de Brian Epstein, empresário da banda entre 1961 e 1967 (ano de sua morte), sobre a imagem dos Beatles. Se, por um lado, o tino comercial de Epstein não pode ser negado (como evidencia, por exemplo, o episódio em que sugeriu que os rapazes abandonassem as roupas de couro em favor de ternos), por outro, a própria estrutura interna da banda constituiu-se numa inovação ainda maior em termos de produção de imagem. Explico-me: em fins da década de 1950 e início da de 1960, as bandas que tocavam Rock’n’Roll (e os diversos ritmos que nele desembocaram) possuíam três configurações típicas no que se refere à imagem veiculada, o que se refletia no próprio nome das mesmas. A primeira delas tinha sua imagem centrada num líder (preferencialmente) carismático, como, por exemplo, “Rory and The Hurricanes” – da qual Ringo foi, durante anos, o titular das baquetas –, ou “Gerry and The Pacemakers”. Era esse líder quem cantava (e, com freqüência, compunha) todas as músicas e capitaneava o material promocional. A segunda, ainda mais individualizada, ignorava os acompanhantes (nesse caso, especialmente rotativos). “Elvis Presley” parece ser o exemplo definitivo desse caso. A terceira e última estrutura, hoje generalizada entre as bandas de Rock, por sua vez, operava um processo de equalização radical dos membros da banda, o que levava a nomes que não particularizassem nenhum dos integrantes.

Os Beatles, ainda que não tenham criado esta estrutura(1) – vale lembrar que eles mesmos hesitaram antes de adotá-la, tendo, anteriormente, sido chamados “Long John and The Silver Beetles” –, foram capazes de levá-la às últimas conseqüências (ainda que Lennon e McCartney sobressaíssem, especialmente nos primeiros anos da banda), produzindo um tipo de imagem bastante inovador. Cabe ressaltar que tal desenvolvimento não teria sido possível sem o indiscutível talento da trinca Lennon-McCartney-Harrison, que lhes facultou não apenas uma variação no estilo das composições, como um rodízio nos vocais principais.

A imagem complexificada da banda, agora resultado da relação de subjetividades diversas, e não mais centrada em um front-man, se bem que gestada no palco, ganhou seu complemento necessário fora dele. Ora, se agora a banda era composta por quatro integrantes portadores de status radicalmente equivalentes, era necessário que os quatro tivessem o mesmo espaço nas fotos promocionais, nas capas dos álbuns e nas entrevistas coletivas. Foi fundamentalmente nestas que os quatro Beatles tiveram oportunidades de aparecer enquanto indivíduos distintos e, conseqüentemente, construir, ou simplesmente veicular, imagens diferentes. Tais imagens, ainda que evidentemente processuais, podem ser sintetizadas através de arquétipos. Assim, temos John como o rebelde – tanto o comprometido politicamente, quanto o satirizador –, George como o calmo, ou o “místico”, Ringo como o bobo, ou o cômico e, por fim, Paul, como o bom moço, ou, para alguns, “o vendido”. Diga-se de passagem que McCartney carrega este rótulo sozinho injustamente, posto que os quatro Beatles souberam exatamente como enquadrar-se, mesmo com suas particularidades, nos moldes da indústria fonográfica da época.

Evidentemente, tais imagens encontravam fundamentos nas próprias personalidades dos Beatles, mas central aqui é o fato de que tanto suas nuances tenham encontrado espaço para manifestar-se, quanto as mesmas tenham sido conscientemente – até certo ponto, evidentemente – exploradas pela banda. Em suma, os Beatles operaram, tanto por meio de sua música – revezamento dos vocais, utilizando os próprios integrantes como backing vocals, múltiplos compositores, etc –, quanto por seu aparato promocional, um duplo processo, simultaneamente homogeneizador (ao acabar com a hierarquia na banda) e particularizador (ao gerar as identidades dos componentes). Trataremos, a seguir, desse aparato promocional com mais detalhes.

Nesse campo, a principal inovação dos Beatles parece ter sido a utilização de múltiplas mídias (algo bastante em voga nos dias de hoje como evidencia, por exemplo, a franquia “Harry Potter”, composta de livros, filmes, jogos eletrônicos, etc) para a veiculação de sua música, bem como da imagem da qual tratamos anteriormente. Para além dos singles e Long Plays, veículos óbvios para a divulgação de músicos e bandas na década de 1960, os Beatles utilizaram-se largamente dos espaços concedidos pelas estações de rádio – certamente o meio de comunicação de maior alcance na época –, bem como do crescente potencial da televisão. Além disso, estrelaram filmes (“A hard day´s night”, “Help!”, “Magical Mistery Tour” e “Let it be”), um desenho animado (“Yellow submarine”), inventaram o precursor dos vídeo clipes (o qual chamavam promo film), para suprir a grande demanda por sua imagem em programas de TV e criaram uma loja destinada a vender todo o tipo de artigos vinculados ao modo de vida que propagavam (Apple). Em suma, ainda que não tenham sido pioneiros em todas essas áreas (Elvis, por exemplo, já estrelara filmes), foram, também aqui, os responsáveis por explorar de maneira decisiva terrenos cuja fertilidade podia ser apenas intuída.

Como complemento desse pesado aparato de construção e veiculação da imagem dos Beatles, foram, também, empregadas algumas táticas comercias que merecem ser apontadas. Destacam-se, nesse sentido, a insistência em não repetir em LP’s as músicas lançadas em singles, de modo que o lançamento de um disco não comprometesse decisivamente as vendagens do anterior, além da decisão de só excursionar pelos Estados Unidos quando ocupassem o primeiro lugar nas paradas daquele país, maximizando os efeitos promocionais de sua ida àquela que era, certamente, a principal caixa de ressonância da música pop a nível mundial.

Por fim, cabe destacar que se embora todos os fatores já mencionados tenham contribuído decisivamente para que o sucesso dos Beatles alcançasse níveis jamais vistos anteriormente, inaugurando uma nova era na indústria da música pop, os mesmos só puderam se combinar da maneira já apontada em função da época em que os Beatles se formaram e atuaram enquanto banda. Com o fim da segunda guerra mundial, o capitalismo ocidental encontrou, na expressão de Eric Hobsbawm, sua “Era de Ouro”, o que permitiu que os jovens, principal púbico consumidor do Rock’n’Roll, tivessem “empregos adequadamente remunerados e portanto dinheiro no bolso, ou uma parcela até então inédita da prosperidade de que gozavam os adultos de classe média. Foi esse mercado de crianças e adolescentes que transformou toda a indústria da música”(2). Paralelamente ao aumento das vendas de discos proporcionado por essa inserção dos jovens no grupo dos consumidores de música pop, a televisão e o rádio difundiam-se de maneira espantosa, além da década de 1960 ter visto grandes avanços técnicos no que se refere à produção e gravação de músicas.

Um último fator que não deve ser menosprezado é o contexto político-social. Com efeito, as transformações pelas quais o mundo passou na década de 1960 não se limitaram ao aspecto técnico-científico, tendo também sido grandes as mudanças em termos ideológicos e comportamentais. Tais considerações, no entanto, nos levariam a uma análise mais qualitativa e centrada no conteúdo das músicas dos Beatles. Averiguar até que ponto as letras dos Fab 4 tiveram um papel preponderante nas vendas de seus discos é, portanto, assunto para um outro artigo.


Marco M. Pestana
Dezembro/2007-Fevereiro/2008


* Todas as informações referentes aos Beatles e sua trajetória contidas nesse artigo foram retiradas do livro ROYLANCE, Brian et alli (org.) The Beatles – Antologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.
(1)“A segunda inovação do rock diz respeito ao conceito de “conjunto”. O conjunto de rock (...) se constituía essencialmente em uma unidade coletiva, em vez de um pequeno grupo de virtuoses tentando demonstrar as suas habilidades.” HOBSBAWM, Eric J. História social do jazz. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. pp.20-21.
(2)HOBSBAWM, Eric J. Op. Cit. p.16.

domingo, 4 de novembro de 2007

Matéria: The Byrds

The Byrds: Meu coração ainda voa com eles

Por Carlos César Maia

Algum leitor desse blog já ouviu falar de uma banda californiana chamada "THE BYRDS"? Talvez sim, mas não ficaria surpreso se a resposta fosse negativa, pois esse grupo começou no longínquo ano de 1965.
Ouso dizer que os Byrds foram a banda de rock mais influente da história da música pop, perdendo, na minha opinião, apenas para os Beatles. Exagero? Se tiverem paciência, leiam o que vem a seguir.
Os Byrds têm sua carreira dividida em dois períodos bem distintos. O primeiro, conhecido como sendo a fase áurea do grupo compreende o tempo entre 1965 e 1968. O segundo período vai de 1969 até 1973 e é visto como a decadência da banda por vários motivos.
(abaixo foto da capa do antológico LP de estréia, "Mr. Tambourine Man", de 1965)




Mas, antes de continuar, quero listar o nome dos componentes originais da banda:

- Gene Clark (vocais, guitarra rítmica, percussão)
- Mike Clark (bateria)
- David Crosby (vocais e guitarra rítmica)
- Chris Hillman (vocais, baixo e bandolim)
- Jim McGuinn (vocais, guitarra solo e banjo; aconselhado por uma numeróloga, em 1966 ele mudou seu nome para Roger McGuinn)

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A história começou em 1964, depois de Jim McGuinn assistir a uma apresentação de Gene Clark, com seu grupo chamado "New Christy Minstrels", numa obscura boate de Los Angeles. Após o show, McGuinn apresentou-se a Clark, que o convidou a beber umas cervejas no bar. Conversa vai, conversa vem, depois de muitas cervejas McGuinn acabou mostrando a Clark seu set composto por canções folk tradicionais e alguns covers dos Beatles, que o surpreendeu e o agradou muito.


(essas muitas cervejas não constam da história oficial, mas eu as acrescentei aí por achar que isso deve ter ocorrido mesmo...)


Depois dessa noite Jim McGuinn e Gene Clark resolveram apresentar-se em dupla, mantendo o repertório original e logo tiveram a adesão de um amigo de Clark, chamado David Crosby. Como toda formação iniciante, sob o nome de Jet Set, gravaram uma demo que não chegou aos ouvidos de ninguém, mas que começaria uma história na maioria das vezes bastante vitoriosa. Pouco tempo depois, eles gravaram um single para a Elektra, sob o nome de Beefeaters, com a ajuda de alguns músicos de estúdio. Mas nada acontecia.


McGuinn (líder do trio), decidiu então mudar seu nome para Roger, agregou ao trio o baterista Michael Clarke e o bandolinista Chris Hillman (ex "Hillman & The Green Grass Roup"), que deveria assumir o contrabaixo, mesmo sem ter muita familiaridade com este instrumento. Em novembro de 1964, recomendados por Miles Davis, após apresentarem algumas demos à Columbia, eles acabaram assinando com essa gravadora, já com o nome de The Byrds. Aí os pássaros já estão prestes a começar sua alada história.


Em janeiro do ano seguinte (1965), eles conheceram seu ídolo maior, Bob Dylan, que por sua vez tornou-se admirador público do grupo (mesmo sem eles, até então, terem tido uma única e escassa música tocada nas rádios ou em qualquer outro lugar - como Byrds). Mas esse encontro foi decisivo: foi ali que eles mostraram a Dylan uma versão para uma composição sua, até ali obscura, chamada "Mr. Tambourine Man"; gravaram a música como se os Beatles a tivessem tocando. Dylan ficou muito entusiasmado e deu sinal verde para que eles a gravassem. O resultado não podia ter sido melhor. A música foi lançada em junho de 1965, como single e rapidamente alcançou o sexto lugar nas paradas norte-americanas.


Os Byrds então foram catapultados para o sucesso, para as paradas, para ofront contra a invasão britânica, e para as badalações. "Mr. TambourineMan" estourou dos dois lados do Atlântico, propulsada pelo timbre inconfundível da Rickenbacker de Jim McGuinn e pelas harmonias vocais do grupo.


Com relação a esta gravação, mais especificamente, sobre a guitarra de 12 cordas de Jim McGuinn, gostaria de transcrever agora um trecho interessante e elucidativo que pincei da Internet:


Abre aspas:


Em 20 de janeiro de 1965, um guitarrista jovem entrou em uma sessão de gravação no Columbia Recording Studios, em Hollywood. Sua missão: Colocar uma lead de 12 cordas num arranjo de rock, numa canção de Bob Dylan, "Mr. Tambourine Man". Ele gravou sua parte com facilidade, despreocupado se o arpejo que abria a música, inspirado em "Jesus, Alegria Dos Homens", de Bach, poderia torná-lo famoso. O guitarrista era Roger McGuinn, e a guitarra era uma Rickenbacker 360/12. A banda The Byrds, liderada por ele, havia conseguido um contrato para a gravação de um single, por recomendação de Miles Davis.

George Harrison foi o primeiro a gravar com uma Rickembaker 12 (em "You Can’t Do That", de 1964), mas os acordes agudos de "Mr. Tambourine Man" foram os responsáveis por tornar o instrumento conhecido do grande público. A mídia chamou o som do grupo de Folk Rock e, de repente, o som das guitarras elétricas de 12 cordas podia ser ouvido em singles de Simon & Garfunkel, Mamas & The Papas, The Turtles, Buffalo Springfield, entre outros. Ainda assim, nenhuma destas guitarras de 12 cordas soaram tão gordas e harmonicamente carregadas como a de McGuinn. O segredo, diz Roger, era a compressão.

"Era o seguinte: quanto mais você apertava aquele sinal, melhor ele soava. Nós enviávamos o sinal através de dois compressores enfileirados. Rick Gerhardt era o engenheiro na Columbia Records e ele estava tentando, basicamente, manter a agulha longe do agarro. Talvez ele achasse: "Aquela guitarra não faz um sustain longo o suficiente. Vamos aumentar o crank dela um pouco mais", mas eu acho que aqueles caras estavam preocupados mesmo é com o equipamento deles".


Fecha aspas


(para tornar essa matéria menos árida, aqui vai a foto da capa do segundo LP dos Byrds, chamado "Turn ! Turn ! Turn !")






(da esquerda para a direita: David Crosby, Gene Clark, Michael Clark, Chris Hillman; Jim (Roger) McGuinn aparece de óculos, entre Corsby e Clark)

Os Byrds então fizeram fãs famosos, inclusive, numa curiosa via de mão dupla, os próprios Beatles, especialmente George Harrison e, glória suprema, Bob Dylan em pessoa. Os Byrds passaram a ser conhecidos como os "Beatles americanos". Em seguida, no mesmo ano de 1965, pela mesma Columbia, lançaram o LP "Mr Tambourine Man", recheado de composições de Clark e covers de Dylan e Peter Seeger, num estilo que passaria então a se chamar "folk-rock", a partir do estouro de "Turn! Turn! Turn!", disco de 1966, impulsionado pela cover homônima de Seeger. Outra música desse disco que também ficaria marcada, foi "Eight Miles High" (lançada depois no terceiro LP), com seu título meio junkie fez sucesso no circuito alternativo de Los Angeles e San Francisco, mas acabou sendo boicotada pelas rádios devido às alusões às drogas.

A partir daí, os Byrds começariam a lidar com um fator que prejudica qualquer banda: o entra e sai de músicos. Gene Clark, principal compositor e segundo vocalista, deixaria os Byrds por ter medo de voar. Ele simplesmente se recusava a entrar em aviões. Enfrentavam o mesmo problema, os mesmos contratempos cada vez que havia uma turnê: enquanto Clark ia de carro ou trem, a banda ia de avião e chegava muito mais cedo. Enfim, Gene Clark já não participaria mais do terceiro LP da banda, que misturava psicodelia com...folk! Ele deixaria o grupo - embora fosse amigo fraterno de Jim McGuinn e Hillman (o problema do cara era realmente medo de voar). Os Byrds então, em 1966, gravam o primeiro disco como quarteto, o "Fifth Dimension", com o pé pesado na psicodelia nascente, mesclando-a com folk.


Abaixo foto da capa:






Aliás, a palavra Byrds, como está impressa na capa deste disco, em estilo "lisérgico-flower-power", virou marca registrada do grupo até a fase em que se tornaram uma banda muito mais voltadas às raízes do country norte-americano, do que folk-rock; mas ainda falta um pouco para isso acontecer.

A saída de Gene Clark do grupo, no entanto, não interferiu sobremaneira no som da banda. No entanto, uma das faixas mais marcantes deste disco, um clássico do psicodelismo em todos os tempos, a espetacular, fantástica e extraordinária - rock ácido em sua mais pura essência (ei, dá pra perceber que eu gosto mesmo desses caras?) - "Eight Miles High", é uma música que havia sido gravada anteriormente, a qual tinha sido composta para ser lançada no disco anterior, o "Turn ! Turn ! Turn", mas, como disse antes, foi boicotada pelas rádios americanas. Nela, Clark e McGuinn simplesmente detonam e arrasam nos vocais. Curiosidade: o solo que McGuinn dá em sua Rickenbaker de 12 cordas nesta música, foi inspirado nas improvisações de Johh Coltrane. Falando especificamente deste solo, quero agora transcrever um trecho extraído ainda à pouco da Internet:


Abre aspas:


(sobre Jim McGuinn...)


O country também teve influência no estilo do guitarrista, novamente através da linguagem do banjo. Isto se comprova no padrão de acompanhamento de Get To You (Ex. 3). Repare na divisão em 5/4. Até as improvisações livres e fluentes de John Coltrane tiveram eco no caldeirão psicodélico dos Byrds, como no solo de Eight Miles High (Ex. 4), em que, apesar de imprecisa e “tosca”, a interpretação de McGuinn possui muita personalidade.


Fecha aspas.


Mas, voltando ao "5th Dimension". Embora Gene Clark fosse o principal compositor da banda, sua saída não teve muita influência na sonoridade da banda. Foi a partir daí que Crosby e Hillman começaram a disputar com McGuinn pela primazia das composições, luta essa que explode de forma sensacional e inigualável no disco seguinte, o incomparável "Younger Than Yesterday", de 1967 (ano do lançamento do "Sgt.Pepper's", para mim a imortal obra-prima dos Beatles).


(abaixo, foto da capa do disco)






Neste disco, vemos Crosby mais atuante e sobressaindo-se mais até do que o próprio McGuinn. Em músicas geniais como "So You Wanna Be A Rock'n'Roll Star" ou "My Back Pages" (outro cover de Dylan), o trabalho dos Byrds encontra dimensões nunca alcançadas.
Maturidade total, folk rock encharcado de psicodelia e deliciosas inovações de timbre por parte de McGuinn e

Hillman.


&


O disco seguinte, "The Notorious Byrds Brothers" começou a ser gravado na base da porrada, literalmente. Crosby batia em McGuinn, que batia em Hillman, que batia em Crosby. Saldo final: Crosby deixaria a banda no meio das gravações para juntar-se a Stephen Stills (ex "Buffalo Springfield") e ao inglês Grahan Nash (ex "The Hollies"), para formar o "Crosby, Stills and Nash" (Neil Young, que, assim como David Crosby, havia recém saído do "Buffalo Springfield", depois se juntaria ao Crosby, Stills and Nash, formando então o "CSN&Y").


(abaixo, foto da capa do disco "The Notorious Byrds Brothers")






Na foto acima vemos (da esquerda para a direita): Chris Hillman, Roger McGuinn (ex Jim McGuinn...), Michael Clark e...um cavalo no lugar do David Crosby !!

Gene Clark então foi re-convocado para finalizar o álbum mas não permaneceu, além do pacífico baterista Michael Clarke também pedir o boné, ao final das gravações. Mesmo assim o disco ainda manteve a qualidade dos trabalhos anteriores.

De 1968 em diante, muita coisa mudaria na trajetória dos Byrds. McGuinn e Hillman conceberam a idéia de gravar um disco duplo, onde a banda mostraria suas versões para vários estilos de música pop, desde o jazz, passando pelo blues e chegando ao country. Para isso, recrutaram as seguintes pessoas: o baterista Kevin Kelly e o pianista Gram Parsons, que mudaria todos os planos. Parsons, nascido Cecil Ingram Taylor, em 1945, era um ex-estudante da badalada Universidade de Harvard e fã obsessivo de música country. Ele contaminou os outros Byrds e os convenceu a gravar Sweetheart Of The Rodeo em 1968. Isso dividiu os fãs da banda, apesar do folk rock dos Byrds sempre ter se aproximado das tonalidades mais country, aqui eles assumiam isso de forma definitiva.

Mas Parsons, sujeito errático por natureza, deixaria os Byrds seis meses após seu ingresso na banda e levaria consigo nada mais nada menos que Chris Hillman, então o principal autor das músicas da banda. Juntos eles formariam o "Flying Burrito Brothers” em 1969, onde Parsons ficaria até 1970, para sair em carreira solo um ano depois e morrer de overdose em 1973. McGuinn se viu completamente perdido e os Byrds, apesar de não encerrarem suas atividades, tornaram-se a banda de apoio de Roger McGuinn. Com o guitarrista Clarence White agregado ao grupo, eles ainda gravariam The Ballad Of Easy Rider (1969), Byrdmaniax (1969), Untitled (1970) e Farther Along (1972), álbuns renegados na época, mas que agora estão sendo reavaliados e tendo a importância reconhecida, principalmente pela capacidade criativa de McGuinn, um sujeito pacato, mas extremamente competente com uma Rickebacker 12 cordas nas mãos.

Em 1972, com a morte de Clarence White, os Byrds praticamente deixaram de existir. Em 1973, McGuinn, Hillman, Crosby, Gene Clark e Michael Clarke gravariam o Reunion Album, mas sem a mesma centelha da criatividade dos primeiros discos.(abaixo foto da capa do disco "The Byrds", também conhecido como "Reunion Album", acima mencionado)




(da esquerda para a direita: Gene Clark, Chris Hillman, David Crosby, Roger McGuinn, com Michael Clark na bateria, ao fundo)

Abaixo cito notórios seguidores da cartilha dos Byrds: Buffalo Springfield, Tom Petty, REM, Replacements, Big Star, Eagles, America, Crosby Stills And Nash, Cosmic Rough Riders e centenas de bandas contemporâneas do calibre de Teenage Funclub e Yo La Tengo, além de outros tantos artistas que passaram a fundir o rock e country. Um legado que impressiona tanto pela importância quanto pela total falta de conhecimento da maioria do público consumidor de rock.


Ainda há tempo de correr atrás dos relançamentos dos onze discos principais dos Byrds, entre 1965 e 1972, feitos pela Columbia/Legacy, com faixas extras, sobras de estúdio e lados B, sem falar no importantíssimo “Live At Fillmore February 5 – 1969”, concerto inédito da banda, somente agora liberado por McGuinn. Boa viagem nas asas dos Byrds...Abraço,ccP.S. 1) Gene Clark morreu aos 46 anos, em 1991, de ataque cardíaco; descanse em paz, Gene, e obrigado por tudo (foto abaixo).


Michael Clark morreu em 1993, devido a problemas com álcool - Thanks as well, Mike.
(da esquerda para a direita: Roger, Crosby, MICHAEL CLARK e Chris Hillman)
P.S. 2) David Crosby sobreviveu a um transplante de fígado e está na ativa. McGuinn e Hillman também continuam em atividade.